O país não precisa inventar o que já funciona.
Precisa apenas reconhecer o que já tem.
O Brasil vive um daqueles momentos em que é preciso reencontrar o seu eixo. E, quando a bússola aponta para o lugar certo, ela revela algo que o país insiste em ignorar: o Norte é uma referência, não uma fronteira distante.
É ali que se encontra um dos pilares reais da economia legal brasileira, a Zona Franca de Manaus (ZFM), cuja importância estratégica ainda é desconhecida pela maior parte da sociedade, inclusive por setores que dela se beneficiam sem saber.
Não é a fragilidade do modelo que explica suas crises periódicas, mas a ausência de conhecimento histórico sobre sua função, seus avanços e sua contribuição silenciosa para o país.
O problema central não é técnico — é cognitivo.
A raiz das divergências, incompreensões e preconceitos que cercam a Zona Franca pode ser resumida numa palavra: desconhecimento.
Desconhecimento sobre:
- A história de perseguições, disputas fiscais e batalhas políticas que moldaram o modelo.
- O papel geoeconômico do Polo Industrial de Manaus, responsável por gerar 30% de todo o PIB da região Norte.
- As funções de soberania, presença do Estado e proteção territorial que a ZFM exerce num ponto sensível do mapa brasileiro.
- Os efeitos multiplicadores em educação, inovação, ciência, logística e infraestrutura no Amazonas e no país.
As divergências locais existem, mas não definem o modelo. O que define a ZFM é o conjunto de atores — empresariais, acadêmicos, públicos e sociais — que, mesmo com visões distintas, sustentam diariamente uma das experiências mais bem-sucedidas de desenvolvimento regional do Brasil.
Uma política nacional tratada como assunto regional
A Zona Franca de Manaus é frequentemente tratada como um favor, um privilégio ou uma exceção.
Mas, ela é, em verdade, uma política pública de interesse nacional, reconhecida na Constituição porque cumpre funções que nenhum outro instrumento cumpre:
- Reduz desigualdades regionais.
- Protege a floresta por meio da economia legal.
- Gera empregos formais em larga escala.
- Ancora a presença do Estado numa área vital para a soberania.
- Distribui renda direta e indireta para o país inteiro.
O país que desconhece isso vive se enganando sobre o próprio território.
Equívocos sobre “gastos tributários”: a contabilidade da desinformação
Grande parte das críticas atuais se baseia em números artificiais de “renúncia fiscal” que não resistem a uma análise séria.
Esses dados:
- Confundem incentivos constitucionais com isenções, o que é tecnicamente errado.
- Ignoram os tributos federais, estaduais e municipais arrecadados pelo modelo.
- Não incluem repasses obrigatórios ao P&D, FNDCT, UEA, Suframa e fundos setoriais.
- Superestimam perdas sem calcular ganhos, como industrialização, empregos, cadeias logísticas e segurança institucional.
A realidade é clara:
A indústria incentivada devolve ao Brasil mais do que recebe — em impostos, inovação, presença estatal e estabilidade territorial.
É uma equação positiva que o Brasil insiste em ler de cabeça para baixo.
A unidade que falta: conhecer para defender
Se o desconhecimento é o problema, a solução é a unidade.
Mas, não uma unidade retórica:
Uma unidade informada, sustentada em dados, história, ciência e visão de futuro.
Indústria, universidade, Estado, imprensa, juventude e sociedade civil precisam falar a mesma língua quando o tema é a Amazônia. Cada divergência local deve ser solucionada internamente, sem permitir que ruídos domésticos alimentem narrativas externas que desconhecem o contexto e colocam em risco conquistas que pertencem ao Brasil inteiro.
A Amazônia que orienta — o Norte que guia
Para onde aponta a bússola do Brasil?
Para o Norte.
Não como metáfora, mas como responsabilidade.
A Zona Franca de Manaus é uma construção coletiva: amazônida, brasileira e republicana no melhor sentido do termo.
Ela garante desenvolvimento, protege a floresta e aponta caminhos concretos para uma economia sustentável — algo que o país inteiro ainda busca.
O Brasil não precisa inventar o que já funciona.
Precisa apenas reconhecer o que já tem.
E entender, de uma vez por todas, que a bússola do Brasil tem Norte — e esse Norte se chama Amazônia em pé, povo respeitado e Zona Franca de Manaus funcionando.

