Mais do que em qualquer outro aspecto da vida, à exceção da medicina, o que importa no jornalismo é fazer a pergunta certa. E a pergunta certa a ser feita no caso do Banco Master é: por que Dias Toffoli parece empenhado em ajudar Daniel Vorcaro?
Se não, recapitulemos os passos do ministro nesse sentido. Será a minha retrospectiva 2025.
Toffoli lançou mão de um pretexto mixuruca oferecido pela defesa do “banqueiro” — uma proposta de negócio imobiliário, encontrada na casa de Vorcaro, em que aparece o nome de um deputado federal — para puxar para a sua alçada no STF as investigações sobre as operações com títulos podres perpetradas pelo banco para obter bilhões de reais junto ao BRB, para o qual Vorcaro queria vender o Master.
Na sequência, no mesmo dia em que viajou a Lima na companhia do advogado de um diretor do Master, Toffoli decretou sigilo completo sobre as investigações e ordenou que nada prosseguisse sem a sua autorização.
Para completar, o ministro inventou uma acareação sem pé nem cabeça, antes que houvesse qualquer depoimento dos envolvidos, entre o investigado Vorcaro, o investigado ex-presidente do BRB e um diretor do Banco Central, que não deveria figurar em investigação nenhuma.
O espanto aumentou entre os já pasmos espectadores do imbróglio, porque não há nada de remotamente normal em o BC ter de prestar satisfação a um ministro do STF (ou a um ministro do TCU, estranheza adicional nessa história) sobre a liquidação de um banco.
A acareação foi vista pelo BC, pelo setor financeiro, bem como por brasileiros ainda capazes de ligar lé a cré, como intimidação contra a instituição que selou o destino do Master. A avaliação geral é que o ministro estaria fazendo pescaria para achar uma brecha que lhe permitisse anular a liquidação do banco.
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Diante da repercussão negativa, com o BC tentando evitar o absurdo de ver um diretor seu colocado no mesmo plano dos investigados, Toffoli mudou de ideia e decidiu que a PF tomaria os depoimentos de todos antes que pudesse haver uma acareação.
O atropelo do ministro é tamanho que houve confusão entre a delegada da PF responsável por conduzi-los e o juiz auxiliar do gabinete de Toffoli destacado para acompanhá-los. Ela ainda achava que sua tarefa era acarear, porque a PF não foi informada com a devida formalidade da mudança determinada pelo ministro.
Diante do impasse, foi preciso ligar para Toffoli. Resolvido o ponto, o juiz auxiliar repassou à delegada perguntas formuladas pelo ministro.
Houve outro quiproquó, já que juiz não deveria fazer o papel de investigador, e delegados não podem funcionar como bonecos de ventríquolo de ninguém. Ocorreu, então, um segundo telefonema, agora para o diretor-geral da PF.
A saída para mais essa esculhambação do sistema acusatório, teoricamente em vigor no país, foi fazer a ressalva de que as perguntas entregues à delegada pelo juiz auxiliar eram da lavra de Toffoli.
Finalmente tomados, os depoimentos trouxeram o esperado, com Vorcaro dizendo que é a alma mais honesta do Brasil, o ex-presidente do BRB afirmando que não havia nada de errado na operação que visava ao salvamento do Master, e o diretor do BC dizendo que a liquidação se justificava. Ao final, houve apenas uma acareação de meia hora entre os dois primeiros.
Não se sabe quais serão os próximos passos de Toffoli. Ele vai insistir no suposto objetivo de anular a liquidação do Master ou vai se concentrar apenas em garantir que um inocentíssimo Vorcaro não seja preso pelas fraudes que o seu banco perpetrou?
De qualquer modo, tais questões são decorrentes da pergunta certa a ser feita: por que Toffoli parece empenhado em ajudar Daniel Vorcaro?
PS: desejo 129 milhões de motivos para você ser feliz em 2026.
