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    Abuso em igreja: jovens se escondiam no banheiro para fugir de líder

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    Relatos de crianças e adolescentens que teriam sido abusados pelo ex-líder do ministério dos adolescentes da Igreja Batista Filadélfia, no Guará 2, indicam que o homem chamava as vítimas para assistir a filmes na casa dele como protexto para cometer os crimes sexuais.

    Ele acariciava as partes íntimas das crianças, que se incomodavam e pediam para ele parar. Para cessar as importunações, alguns rapazes se escondiam no banheiro ou pediam para os pais buscá-los.

    O homem de 30 anos está preso temporariamente desde a última sexta-feira (19/12) por suspeita de estupro de vulnerável.

    Segundo apurado pela 4ª Delegacia de Polícia, ele se aproveitava da sua liderança religiosa para ganhar a confiança dos rapazes e ficar a sós com eles, momento em que ocorreram os supostos abusos. Um deles teria acontecido nas dependências da igreja, em uma festa do pijama sob responsabilidade do suspeito.

    Até o momento, a Polícia Civil do DF identificou quatro vítimas do integrante da igreja. Os relatos revelam um padrão de violência precoce: abusos contra vítimas do sexo masculino, iniciados aos 10 e 12 anos em dois casos, um adolescente alvo dos 13 aos 17 anos e uma quarta vítima aos 16.

    As investigações ainda apontam que as vítimas não teriam sido concomitantes. O suspeito criava laços com um dos adolescentes alvo até cometer os abusos. Depois que o menor se afastava, o ex-líder se aproximava de outro jovem.

    Os casos denunciados que estão em investigação teriam ocorrido desde 2019. Uma das vítimas ouvidas, inclusive, já atingiu a maioridade.

    A Justiça do Distrito Federal decretou a prisão temporária do investigado por 30 dias, prazo que pode ser prorrogado por igual período.

    Afastamento

    O suspeito é filho do presidente da congregação. Em uma reunião dos líderes religiosos, ocorrido em novembro deste ano, teria sido lida uma carta escrita pelo suspeito dizendo que ele se afastaria do rol de membros da igreja e de suas atividades na congregação.

    Todavia, ele continuou frequentando normalmente os cultos e acessando, inclusive, áreas restritas aos membros da igreja.
    A coluna também apurou que, após tomar conhecimentos das denúncias, o pai dele teria tentado convencer as vítimas de que não houve abusos. O pastor presidente teria chegado a insinuar que o filho dele é quem teria sido supostamente vítima de estupro.

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    O outro lado

    Em nota, a Igreja Batista Filadélfia afirmou que é “inverídica a afirmação de que o investigado continuava atuando na instituição, pois ao longo de todo o ano de 2025 ele já não exercia nenhuma função de liderança na igreja”. A igreja também disse que o investigado não é, “nem nunca foi”, pastor da instituição.

    “Ele atuava no passado como membro voluntário em funções de liderança no Ministério de Adolescentes. Esclarecemos, ainda, que a relação de parentesco entre o investigado e o Pastor Presidente não interferiu, nem jamais interferirá, nas medidas disciplinares adotadas pelo Conselho Disciplinar ou na colaboração com a Polícia Civil e o Poder Judiciário”, declarou.

    A igreja refutou qualquer alegação de que houve tentativa de encobrir os fatos ou desestimular as famílias a procurarem as autoridades. “Em todos os atendimentos realizados, tanto pela Presidência quanto pelo Conselho Disciplinar, a orientação explícita foi de que as famílias possuíam total liberdade e incentivo institucional para buscar as autoridades policiais. A igreja entende que o acolhimento espiritual não substitui, em hipótese alguma, o dever de busca pela justiça estatal”, afirmou.

    Por fim, a Igreja Batista Filadélfia afirmou que preza pela precisão das informações e pela proteção de sua comunidade. “O sigilo da investigação policial e o dever de proteger a privacidade dos menores e de suas famílias impedem a divulgação de outros detalhes, além dos que foram apresentados acima”, disse.