MAIS

    Acordão de Natal afasta o risco de crise entre os Poderes da República

    Por

    A guerra de extermínio entre os Poderes da República é aquela em que todos perdem, dizia Antonio Carlos Magalhães, um dos condestáveis civis da ditadura militar de 64, três vezes governador da Bahia, que morreu em 2007 com 79 anos de idade, mas que no seu Estado é reverenciado até hoje. “É a pior das guerras”.

    Se nos últimos meses parecia desenhar-se no Brasil uma guerra dessa magnitude entre os três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), o perigo passou, se não de todo, pelo menos em parte. O pino da granada foi devolvido ao seu lugar, se é que isso é possível. Respira-se em Brasília o clima de um “Acordão de Natal”.

    A Câmara aprovou a redução da pena dos golpistas do 8 de janeiro com a benção do Supremo Tribunal Federal depois de intensas negociações. O Senado deverá engolir a decisão da Câmara na próxima semana, sem alterá-la. Lula a vetará. Mas em fevereiro ou março, o Congresso derrubará o veto com a anuência do Supremo.

    O ministro Gilmar Mendes suspendeu parte de sua decisão que limitava processos de impeachment contra integrantes do Supremo, e que tocou fogo no Senado. Em compensação, o Senado concordou em rever a Lei do Impeachment de 1950 para atualizá-la ao gosto de Gilmar e dos seus colegas.

    Falta saber se deputados investigados por desvio de dinheiro público via emendas ao Orçamento da União continuarão na mira do ministro Flávio Dino. São cerca de 80 deputados, no mínimo, e 200 no máximo, de um total de 513. O julgamento de três deles está – ou estava – marcado para fevereiro.

    Dino tem a sensação de que seu desejo de justiça não é compartilhado pela maioria dos seus pares. Se for verdade, não quer ficar sozinho e virar alvo de ataques no Congresso. Tanto mais em ano eleitoral. Embora vista toga, ele segue influente na política do Maranhão, estado que governou duas vezes.

    Do “acordão do Natal” faria parte a retirada da candidatura avulsa do senador Flávio Bolsonaro a presidente. Afinal, ele disse que sua candidatura tinha um preço. Seu pai orientou os aliados a aprovarem o projeto que reduzirá sua pena. E o preço estipulado por Flávio “Rachadinha” está sendo pago.

    O Centrão, que reúne os principais partidos da direita, quer de volta a candidatura a presidente de Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo. Flávio poderá reajustar o preço que cobrou exigindo para si a vaga de vice na chapa de Tarcísio. Contará com o aval do seu pai se Tarcísio acabar desistindo de concorrer à reeleição.

    Não se descarta, porém, que pai e filho apliquem um truco no Centrão. Nesse caso, Flávio seguirá como candidato até o fim para que o sobrenome Bolsonaro não desapareça das urnas.

    Feliz Natal. Feliz “Acordão” para quem gosta de jeitinhos.

     

    Todas as Colunas do Blog do Noblat no Metrópoles