Nesta sexta-feira (5/12), a Agência Nacional de Saúde (ANS) define o futuro contábil de uma das maiores operadoras do país, em um julgamento que pode obrigar a republicação de balanços e o estorno de quase R$ 1 bilhão em ativos fiscais.
A ANS vai analisar três pontos principais: o momento da contabilização do acordo com o SUS; o impacto direto nos lucros e no valor de mercado; e a transparência e governança das informações divulgadas.
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Se houver determinação para republicação dos balanços, será um movimento raro no setor e de grande impacto reputacional. A decisão de sexta-feira trata de como a empresa contabiliza ágios, créditos tributários e outros efeitos ligados ao acordo com o SUS. Se a ANS mantiver o rigor técnico, a operadora terá que refazer suas contas. O impacto estimado beira R$ 1 bilhão negativo no patrimônio.
Isso não apenas limparia os lucros passados, mas poderia colocar a empresa em desenquadramento regulatório, forçando-a a pedir dinheiro aos acionistas — que, dado o desempenho das ações, dificilmente colocarão a mão no bolso novamente.
Se a decisão for desfavorável, o que hoje aparece como lucro contábil extraordinário pode simplesmente desaparecer, revelando um resultado muito mais negativo do que o investidor leu até aqui nos balanços e explicando, em retrospecto, o pessimismo que já vem sendo precificado pelo mercado.
Manaus é o estado campeão em reclamações de beneficiários
As ações da companhia (HAPV3) vêm sofrendo um castigo brutal na B3, refletindo a desconfiança sobre a sustentabilidade do negócio.
Em novembro os papéis sofreram uma queda histórica superior a 40% em um único dia, após a divulgação de resultados fracos, o pior desempenho desde a abertura de capital (IPO). Na última semana de novembro, a empresa amargou a liderança negativa do Ibovespa, acumulando perdas de quase 20% em apenas cinco dias. E nesta semana as ações tocaram o fundo do poço, negociadas na casa dos R$ 14,00 — uma desvalorização acumulada de mais de 60% nos últimos 12 meses.
O valor de mercado da companhia encolheu para cerca de R$ 9,5 bilhões. Analistas apontam que essa volatilidade sinaliza que o mercado já está precificando o pior cenário.
A crise que a Hap Vida atravessa provocou precariedade nos atendimentos em várias cidades. Em Manaus, onde a operadora é campeã de reclamações, com denúncias de deficiência generalizada nos serviços a usuários, não prestação de atendimento a servidores do interior do estado, incluindo irregularidades no trato de crianças portadoras do Transtorno do Espectro Autista, que revoltou parte da população da capital amazonense.
