Durante a última corrida presidencial nos Estados Unidos, Donald Trump revelou uma de suas frustrações após não ter sido reeleito presidente do país em 2020: não ter conseguido acesso ao petróleo da Venezuela, país que possuí as maiores reservas do combustível fóssil ao redor do mundo. O que, diante das últimas declarações, parece ter voltado à sua agenda de governo.
Cerco contra a Venezuela
- Desde agosto, os EUA realizam um cerco militar na América Latina e Caribe, sob a justificativa de combater o tráfico de drogas.
- Trump ordenou que navios de guerra, fuzileiros, um submarino nuclear, caças F-35 e o porta-aviões USS Gerald R. Ford fossem deslocados para a região.
- Em meio à mobilização, que posteriormente se transformou na operação militar Lança do Sul, barcos têm sido atacados nas águas do Caribe e Oceano Pacífico. Segundo o Pentágono, as embarcações foram bombardeadas por estarem transportando drogas para os EUA. Provas das acusações, porém, não foram fornecidas.
- Até o momento, 27 barcos já foram atacados por forças norte-americanas, deixando 99 mortos.
- Nicolás Maduro é personagem central da ofensiva militar dos EUA na região. Sancionado pelo governo norte-americano, o presidente da Venezuela é apontado como o chefe do cartel de Los Soles, grupo que foi recentemente classificado por Washington como organização terrorista internacional.
- Na prática, a mudança, que também atingiu outros grupos, abriu brechas para que operações militares dos EUA fossem enviadas para outros países com a justificativa de combater o terrorismo.
- Os ataques dos EUA foram registrado apenas em águas da América Latina. Trump, porém, já revelou que as operações podem migrar para a terra, e atingir países que “vendam drogas” ao país que comanda, como é o caso da Venezuela de Maduro.
Na época, a Venezuela tentava sair de uma crise interna, após o opositor de Nicolás Maduro, Juan Guaidó, apoiado pelos EUA e boa parte da comunidade internacional, se autoproclamar presidente da Venezuela após eleições contestadas internacionalmente.
“Quando eu saí, a Venezuela estava prestes a colapsar”, disse Trump durante um evento do Partido Republicano em 2023. “Nós teríamos tomado o país e pegado todo aquele petróleo. Seria ótimo”.
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Menos de três anos depois da polêmica declaração, o petróleo venezuelano voltou ao centro das atenções de Trump. Dias depois de um navio petroleiro ser apreendido na Venezuela, e do anúncio do cerco naval contra o país, o líder norte-americano passou a acusar Maduro de roubar o combustível dos EUA.
Além disso, o líder norte-americano também ligou o petróleo a um possível enriquecimento ilícito do presidente da Venezuela e aliados. Um dinheiro que, segundo o líder norte-americano, está sendo empregado em atividades criminosas como “o terrorismo de drogas, o tráfico humanos, o assassinato e o sequestro”.
Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump
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Trump e o chefe do Pentágono, Pete Hegseth
Anna Moneymaker/Getty Images
Nicolás Maduro
Jesus Vargas/Getty Images
Maduro e Trump
Arte/Metrópoles
Para analistas ouvidos pelo Metrópoles, porém, as declarações de Trump não possuem dados ou provas concretas
“Essa acusação de roubo tem uma base muito frágil, que são as sanções impostas unilateralmente pelos Estados Unidos contra a Venezuela, que começaram ainda na gestão de Barack Obama, mas passaram a atingir o setor petroleiro da Venezuela no primeiro governo Trump, e atualmente, em sua segunda administração.”, explica Carolina Pedroso, professora de Relações Internacionais da Unifesp e especialista em política da América Latina e Estados Unidos. “Com isso, Trump demonstra que está disposto a aumentar os níveis de tensão para sustentar sua narrativa, que é majoritariamente direcionada para o público interno, e para produzir ainda mais pressão sobre o regime de Maduro, mas de um modo que não seja necessário uma intervenção militar direta, cujos custos seriam altos e os resultados imprevisíveis”, acrescenta.
Mesmo com o cenário incerto, uma informação revelada pelo jornal norte-americano Politico mostra que Trump já tem feito articulações com empresas petrolíferas dos EUA.
De acordo com a publicação, a administração republicana teria buscado empresas petroleiras do país, e questionado se existe o interesse das mesmas em retomar operações na Venezuela caso Maduro deixe o poder. Trump, contudo, teria ouvido um “não” do setor, que enxerga muitos riscos econômicos envolvidos na operação.
