A Arábia Saudita realizou ataques contra o território do Iêmen, e entrou em rota de colisão com um parceiro regional, os Emirados Árabes Unidos, acusado de apoiar forças separatistas no país onde as duas potências do petróleo lutam contra os Houthis. A ação, segundo a agência estatal saudita, ocorreu nesta terça-feira (30/12).
De acordo com o reino saudita, os bombardeios visaram atingir duas embarcações no porto de Mukulla, vindas dos Emirados Árabes Unidos. Em um comunicado, o porta-voz da coalizão militar saudita no Iêmen, Turk al-Maliki, afirmou que os armamentos seriam destinados aos separatistas do Conselho de Transição do Sul (STC) — que busca o controle do sul do Iêmen.
Os ataques ao território iemenita é, de acordo com Riade, uma resposta direta não só ao possível apoio dos Emirados Árabes Unidos, como também a expansão do STC nas províncias de Hadramout e Al-Mahara.
Em meio à ofensiva do grupo separatista, o chefe do Conselho de Liderança Presidencial, que atua como presidente de fato do Iêmen, cancelou um acordo de defesa com os Emirados Árabes Unidos, e pediu a retirada de tropas emiradenses do território iemenita. Além disso, Rashad al-Alimi decretou estado de emergência no país pelos próximos 90 dias.
Logo após a decisão do presidente interino al-Alimi, os Emirados Árabes Unidos negou qualquer suporte a grupos separatistas iemenitas, e anunciou a retirada do restante de suas tropas do Iêmen. Em um comunicado, o Ministério da Defesa do país afirmou manter apenas pessoal especializado em combate ao terrorismo, e que sua presença militar no território iemenita se encerrou em 2019.
Leia também
-
Chefe dos Houthis no Iêmen morre em ataque israelense
-
Iêmen: Houthis invadem prédios da ONU após morte do primeiro-ministro
-
Após “paz” com o Irã, ministro afirma que Israel pode atacar o Iêmen
-
Trump defende príncipe saudita acusado de ordenar morte de jornalista
Guerra civil de dez anos
O ataque saudita, e as acusações contra os Emirados Árabes Unidos, expõe um racha na coalizão militar que opera no Iêmen desde o início da guerra civil no país, em 2014. Na época, o grupo Houthis, apoiado pelo Irã, tomou o controle da capital Sanaa, e de outros partes do Iêmen, após a derrubada do então governo de Abd-Rabbu Mansour Hadi.
Com o avanço dos Houthis, a Arábia Saudita lançou uma coalizão militar internacional em 2015, com o objetivo de apoiar as forças pró-governo no conflito contra o grupo, junto de nações da África e do Golfo. Os Emirados Árabes Unidos participaram da aliança até 2019.
Desde então, o Iêmen está dividido politicamente, e mergulhado em um caos social, com diversos governos autônomos espalhados pelo território do país — como os Houthis na capital, e o STC mais ao sul. Além disso, os combates colocam, indiretamente, potências regionais em rota de colisão como a Arábia Saudita e o Irã, que apoiam lados beligerantes no conflito.
