Com mensagens sedutoras, tom afetuoso e uma narrativa construída para parecer absolutamente autêntica, o estudante estrangeiro Honore Ode, 32 anos, natural do Benim, na África, e residente em Santa Catarina, transformou as redes sociais e o WhatsApp em palco para um um golpe engenhoso desvendado pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), por meio da 8ª Delegacia de Polícia (Estrutural). O criminoso iniciava o contato com discursos amáveis, oferecendo atenção, segurança e até elogios, sempre conduzindo a vítima para um ambiente emocional propício à manipulação.
A tática inicial era dar veracidade total ao falso perfil que administrava nas redes. Ao se apresentar ora como integrante da equipe do ator norte-americano Dwayne “The Rock” Johnson e ora como a própria estrela de Holywood, enviava mensagens bem estruturadas, tratava a vítima pelo nome e simulava interesse pessoal. Após alguns minutos de conversa, ele informava que a pessoa havia sido “sorteada” para receber um iPhone ou, em outras ocasiões, um prêmio internacional de 800 mil euros, o esquivamente a R$ 4,9 milhões.
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O golpe avançava a partir do momento em que o autor solicitava o número de WhatsApp da vítima “para alinhar o envio da encomenda”. O contato subsequente surgia de um telefone com DDI de Portugal (+351), número amplamente usado para dar aparência internacional à suposta entrega, inclusive sugerindo operação em regiões como Açores e Madeira.
Veja as conversas:



Material cedido ao Metrópoles
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A conversa evoluía com rapidez. O golpista afirmava estar “com a encomenda em mãos” e logo enviava um documento falso, pedindo que a vítima imprimisse e assinasse. O arquivo simulava um contrato oficial, repleto de parágrafos em inglês e português, lacres falsificados e uma cláusula de rara ousadia: garantia ao portador o direito de “registrar reclamação em qualquer delegacia de polícia ou serviço de segurança caso não receba sua encomenda após o pagamento do prêmio”, artifício que eliminava dúvidas e induzia confiança.
Com o cenário montado, o criminoso informava que, para liberar o pacote, seria necessário um pagamento inicial de R$ 2.850,00, referente a “taxas de envio internacional”. A vítima era instruída a aguardar até 72 horas antes de procurar autoridades caso não fosse atendida, reforçando a falsa aparência de procedimento regular.
Convencida pela lábia, pelos documentos e pela insistência, a vítima realizou a primeira transferência via Pix. Pouco depois, o golpista voltou a contatá-la relatando “dificuldades na estrada”, justificando novos pedidos de quantias — sempre acompanhados de imagens de encomendas lacradas, documentos adulterados e mensagens em tom de urgência.
Escalada de cobranças
A história que começou com um iPhone fictício evoluiu para o suposto envio de um prêmio de 800 mil euros. O criminoso continuou exigindo valores cada vez maiores, alegando problemas logísticos, entrevistas obrigatórias, taxas alfandegárias e seguros complementares.
A vítima do DF, moradora da Vila Estrutural, acreditou na promessa e realizou nove transferências, totalizando R$ 9,8 mil:
Transferências realizadas:
- R$ 2,8 mil — primeira “taxa de envio internacional”.
- R$ 1,5 mil — suposto acidente com caminhão da transportadora.
- R$ 1 mil — complemento do seguro da carga.
- R$ 550 — valor restante para liberar a entrega.
- R$ 1,35 mil — “entrevista obrigatória” para recebimento do prêmio.
- R$ 1,53 mil — taxas alfandegárias adicionais.
- Valores menores posteriores, decorrentes de nova pressão psicológica e promessas de entrega imediata.
Operação e prisão
Outra vítima, em Minas Gerais, perdeu cerca de R$ 80 mil, conforme boletim repassado à PCDF.
A Operação The Rock cumpriu mandado de prisão preventiva e dois mandados de busca e apreensão em Florianópolis e Itajaí. Celulares e dispositivos eletrônicos serão periciados para identificar novas vítimas.
O investigado responderá por estelionato eletrônico, crime com pena de 4 a 8 anos de reclusão.




