A disfunção da articulação temporomandibular (ATM) é mais comum do que parece e pode se manifestar de maneiras inesperadas — inclusive com zumbido persistente no ouvido. A ATM é a articulação que liga a mandíbula ao crânio e participa de movimentos essenciais, como mastigar, falar e bocejar.
Quando ela não funciona bem, músculos e estruturas próximas entram em desequilíbrio, provocando dor, ruídos articulares e, em alguns casos, sintomas que confundem o paciente, como pressão no ouvido, desconforto facial e alterações sonoras.
Segundo o Ministério da Saúde, a condição envolve tanto fatores musculares quanto alterações do disco articular, desalinhamentos e hábitos que sobrecarregam a região.
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O zumbido, embora não seja o sintoma mais clássico, surge quando essas alterações afetam estruturas ligadas ao ouvido médio e interno. Isso faz com que muitos pacientes procurem inicialmente um otorrinolaringologista, até que a origem seja identificada.
No consultório, a diferenciação começa pela audiometria, explica o otorrinolaringologista Jefferson Takehara, da Santa Casa de São José dos Campos.
“A audiometria revela perdas auditivas e, em alguns casos, pode sugerir comprometimento neurológico, que deve ser complementado com exames específicos. Já quando a ATM é a responsável, os resultados dos exames costumam ser normais, mas a queixa do paciente na região da ATM é importante”, considera o médico.
Quando desconfiar de ATM
Takehara ressalta que o zumbido persistente sem alterações auditivas ou neurológicas significativas levanta a suspeita de disfunção na articulação. O problema é que, no início, muitos pacientes não percebem queixas típicas.
“Muitos apresentam sensação de pressão na frente do ouvido, coceira ou sensação de que há algo dentro do ouvido. Alguns relatam impressão de ter um cabelo dentro do ouvido ou formigamento, antes da dor e dos travamentos para mastigar aparecerem”, conta.
Quando há suspeita, o diagnóstico é de exclusão: é preciso descartar causas mais comuns e graves antes de associar o zumbido à ATM. A forma como o paciente descreve o som, os fatores que pioram os sintomas e o histórico de saúde orientam quais exames pedir e como conduzir a investigação.
Ignorar o sintoma não é indicado. “Alterações de ATM podem provocar zumbido, mas até tumores como o neurinoma podem ter como primeiro sintoma o zumbido”, alerta Takehara. Por isso, todo zumbido recente, unilateral ou que aumenta com o tempo deve ser avaliado.
Sintomas da disfunção da ATM
- Dor ou sensibilidade na mandíbula.
- Estalos, ruídos ou travamento ao abrir a boca.
- Dor no ouvido sem infecção.
- Zumbido.
- Dor de cabeça frequente.
- Dificuldade para mastigar.
- Dor no rosto, nuca ou ombros.
- Sensação de pressão na região próxima ao ouvido.
Tratamento através da fisioterapia
Para o fisioterapeuta Rodrigo Prado, da clínica Reactive Fisioterapia em Brasília, a conexão entre ATM e ouvido é direta, porque a articulação temporomandibular compartilha conexões anatômicas e neuromusculares com estruturas do ouvido.
“Quando há disfunção, estímulos mecânicos irritam o nervo trigêmeo e alteram a tensão muscular, favorecem o surgimento do zumbido e outros sintomas”, explica.
A fisioterapia costuma ser suficiente quando o zumbido é musculoesquelético, isto é, quando varia ao movimentar a mandíbula ou o pescoço. Nesses casos, técnicas de liberação miofascial, correção postural e exercícios específicos reduzem a dor e estabilizam o movimento.
As estruturas mais envolvidas incluem músculos mastigatórios, cervicais superiores e componentes articulares como disco e côndilo mandibular. A avaliação fisioterapêutica é indicada quando o zumbido piora ao mastigar, falar, bocejar, apertar os dentes, quando há dor facial, estalos ou histórico de bruxismo.

O tratamento, reforça Prado, quase sempre envolve múltiplos profissionais. Além do dentista e do otorrino, podem participar fonoaudiólogos, psicólogos, neurologistas, especialistas em medicina do sono e profissionais de acupuntura. Essa integração permite controlar fatores emocionais, oclusais e posturais.
Há ainda hábitos que pioram o quadro. “Bruxismo, postura inadequada com a cabeça projetada para frente, mastigação unilateral, mascar chicletes com frequência, roer unhas e alimentos muito rígidos são comportamentos aumentam a tensão e sobrecarregam a ATM”, reforça o fisioterapeuta .
Sobre o tempo de melhora, Prado relata que os pacientes costumam perceber alívio entre três e oito semanas, dependendo da gravidade e da adesão às orientações. Quadros crônicos evoluem de forma mais lenta, mas a melhora costuma ser significativa.
Embora a fisioterapia ajude bastante, ela nem sempre é suficiente quando feita de forma isolada. “A avaliação de um cirurgião dentista é ainda mais importante, para identificar situações que façam a articulação não funcionar adequadamente, como problemas na mastigação, falta ou desgaste de dentes ou bruxismo”, explica Takehara.
No primeiro atendimento, Takehara orienta sempre investigar todas as possíveis origens do zumbido e observar sintomas associados à mastigação e à região à frente do ouvido.
A disfunção da ATM é um problema multifatorial que pode irradiar seus efeitos para regiões pouco associadas à mastigação, como os ouvidos. Reconhecer sinais precoces, diferenciar causas de dor, pressão ou zumbido e buscar avaliação adequada evita diagnósticos tardios e reduz o risco de agravamento.
Com tratamento combinado e mudanças de hábitos, a maioria dos pacientes apresenta melhora consistente — e, em muitos casos, volta a viver sem dor e sem o incômodo.
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