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    Aumento de casos de sarampo dificulta meta de eliminar doença, diz OMS

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    Casos de sarampo avançam em ritmo acelerado em vários continentes. Nas Américas, a quantidade de casos é tão grande que a Organização Mundial da Saúde (OMS) retirou, em novembro, o certificado de que o continente era região livre da doença. Só no Canadá, foram 5 mil casos nos últimos 12 meses.

    Diante deste cenário, a OMS acredita que a meta de eliminar a doença em 2030, que parecia tão próxima no início dos anos 2000, está “cada vez mais distante”. No final de 2024, 81 países (42%) haviam eliminado o sarampo, apenas três países a mais desde 2019.

    “O sarampo é o vírus mais contagioso do mundo, e esses dados mostram, mais uma vez, como ele explorará qualquer lacuna em nossas defesas coletivas”, afirmou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, no lançamento do relatório sobre a doença.

    Entre 2000 e 2024, as mortes globais por sarampo caíram 88% e havia esperança de erradicar a enfermidade, mas as curvas mais recentes mostram avanços cada vez maiores em países que há décadas não tinham surtos. Em 2025, 59 países tiveram surtos da doença, quase o triplo do que havia em 2020.

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    O que é o sarampo?

    • O sarampo voltou a circular no Brasil após ter sido eliminado em 2016, principalmente por causa da queda na cobertura vacinal. No início de 2025, o país voltou a ser considerado livre da doença.
    • A doença é altamente contagiosa e o vírus pode sobreviver no ar por até 24 horas, sendo muito mais transmissível que outros vírus como o da gripe e o da Covid-19.
    • O sarampo pode causar complicações graves como pneumonia e encefalite, a inflamação do cérebro, especialmente em crianças menores de 5 anos, sendo potencialmente fatal.
    • A vacina tríplice viral é a principal forma de prevenção. Deve ser aplicada nos bebês em duas doses, aos 12 e 15 meses de idade.
    • Em casos de surtos surtos, o Ministério da Saúde recomenda uma dose da vacina para crianças a partir dos 6 meses de idade e também a re-vacinação de adultos.

    Por que o sarampo voltou a ameaçar?

    Autoridades reforçam a preocupação com cenários que exibem baixa cobertura vacinal e circulação ativa do vírus. O informe da OMS destaca aumento expressivo de notificações, que a agência atribui à diminuição da imunização infantil e ao atraso em campanhas após fase crítica da Covid-19.

    A correlação entre movimentos antivacina da pandemia e a queda da cobertura do sarampo também é feita por profissionais no Brasil. A enfermeira Jéssica Paulino, responsável pelo serviço de vacinas do Sabin Diagnóstico e Saúde em Manaus (AM), observa sinais de retração na busca por imunizantes desde 2020.

    “Muita gente deixou de vacinar os filhos na época da pandemia, por medo de contaminação pela Covid-19, e acabou não retomando depois. Também houve influência da desinformação sobre a segurança das vacinas”, comenta.

    Ela ressalta que o abandono da imunização eleva risco coletivo. “Deixar de buscar a imunização é um perigo para as crianças, porque o vírus não desaparece para sempre da sociedade, ele continua existindo”, ressalta. “É a vacinação que mantém o controle. Quando esse índice cai, o risco de surtos aumenta e a população fica mais suscetível a transmitir a doença e também a adoecer”, acrescenta.

    Esquema vacinal segue recomendado

    No Brasil, a orientação para proteção contra o sarampo inclui dose inicial da tríplice viral aos 12 meses. A aplicação reforça blindagem contra caxumba e rubéola. O calendário prevê reforço aos 15 meses com tetraviral, que amplia alcance contra varicela.

    A OMS afirma que esses imunizantes contam com eficácia elevada. A manutenção de cobertura alta reduz a circulação do vírus. Países que preservam índices consistentes registram menos episódios e conseguem barrar a transmissão comunitária.

    Para aumentar a cobertura, a entidade defende a cooperação entre governos para fortalecer redes de vigilância, criar mais campanhas informativas e disponibilizar vacinas em regiões mais próximas da população.

    “O sarampo não respeita fronteiras, mas quando todas as crianças em todas as comunidades são vacinadas contra ele, surtos dispendiosos podem ser evitados, vidas podem ser salvas e essa doença pode ser eliminada de nações inteiras”, concluiu Ghebreyesus.

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