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Caso Laura: 5 mil pais acionaram Defensoria por vaga em creche no DF

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Caso Laura: 5 mil pais acionaram Defensoria por vaga em creche no DF

Para conseguir vaga em creche pública do Distrito Federal, 4.880 pessoas buscaram auxílio da Defensoria Pública do Distrito Federal (DPDF) entre 2023 e 2025. Após não conseguirem ingresso de seus filhos e tutelados na creche através do ofício da Defensoria, 571 pessoas entraram com ação judicial para garantir ingresso na rede pública de ensino.

Uma das pessoas que buscou esse atendimento foi a moradora de Planaltina (DF), a alfaiate Lucivânia Nogueira da Silva, 55 anos. Responsável pela criação das netas, ela precisou recorrer à DPDF por duas vezes para garantir o ingresso das meninas em uma creche na rede pública. Para neta mais nova — que hoje tem 3 anos — ela levou um ano para obter uma decisão favorável e no outro caso, ela nunca conseguiu a vaga. “Nós tentamos vaga, mas não conseguimos. Ela foi para escola sem conseguir a vaga na creche”, contou a avó.

A mulher, que trabalha de forma autônoma, passou por apuros para conciliar a vida profissional e a rotina de cuidado com as netas. “Eu deixava com a vó paterna e às vezes com a tia e, quando não tinha ninguém podia ficar com ela, eu tinha que faltar o trabalho”, confessou.

Além do problema financeiro, a avó acredita que o tempo fora da creche e longe do convívio com outras crianças atrapalhou o desenvolvimento da neta. “Ela evoluiu bastante nesses dois anos que está na creche”, disse Lucivânia.

Aumento de ações judiciais

No ano de 2023, 1.270 ofícios foram feitos e 196 pessoas acabaram optando por ingressar na Justiça para a garantia da vaga. Houve um aumento em 2024 em relação ao ano anterior, quando 1.850 procuraram a Defensoria Pública e 226 acabaram buscando seus direitos através do Poder Judiciário.

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Apesar de ter um número menor em relação a 2024, 1.760 pais e responsáveis buscaram auxílio da DPDF para conseguir matricular os seus pequenos nos centros de educação infantis somente neste ano. Destas, 149 pessoas entraram com ação judicial.

Veja os números:

Segundo a DPDF, assim que é acionada, o primeiro passo é emitir um ofício para Secretaria de Educação e tentar a vaga administrativamente, sem a necessidade de judicializar. A ação na Justiça só é feita quando a Defensoria entende que não há mais solução extrajudicial.

Para o defensor público-geral, Celestino Chupel, a DPDF atua para que o ingresso à creche não dependa da condição econômica da família, garantindo que o acesso à Justiça seja efetivo e chegue a quem mais precisa.

“Grande parte das demandas por creche envolve mães solo que dependem dessa vaga para permanecer no mercado de trabalho, o que torna essa atuação da DPDF essencial para a proteção social”, explicou.

Caso Laura

A bebê Laura Rebeca Ribeiro dos Santos, que morreu asfixiada na semana passada, com o cinto do bebê conforto em uma creche privada clandestina, aguardava uma vaga na rede pública de ensino do Distrito Federal. A menina tinha 1 ano e 4 meses de vida.

A informação foi repassada pela avó da criança, Aparecida Maria, ao Metrópoles. Em nota, a secretaria de Educação do DF confirmou que a criança estava na fila da creche.

“A criança citada aguardava vaga em creche pública, teve a inscrição validada em abril e estava regularmente inscrita para atendimento conforme o fluxo de chamamento da rede, de acordo com a oferta de vagas disponível. A oferta varia conforme a idade da criança, a Regional de Ensino e a capacidade de cada unidade”, acrescentou.

Laura morreu enquanto estava sob a responsabilidade de uma cuidadora que fez da própria casa uma creche clandestina.

Para a ativista Marisa Chaves, coordenadora do Movimento mulheres de São Gonçalo, o caso escancara a insuficiência de cobertura de creches públicas no Brasil.

“O pouco investimento em creches amplia o desamparo de milhares de mães, em especial, as que são trabalhadoras e que não possuem uma rede familiar capaz de contribuir com os cuidados de bebês enquanto os pais trabalham”, explicou.

O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) deu início, em 2023, a um processo inédito de mediação, denominado Projeto Inspira, em conjunto com o Governo do Distrito Federal (GDF).

O Projeto Inspira foi desenvolvido no âmbito de uma ação civil pública que visa à universalização do atendimento em educação infantil – creche que tramita no Judiciário há mais de três décadas. Dentre os resultados alcançados com as tratativas, destaca-se a instituição de um grupo de trabalho para revisão do Manual de Procedimentos para Atendimento a Educação Infantil – Creche.

A nova versão do manual apresenta avanços significativos, especialmente no que diz respeito à estrutura de pontuação, elaborada a partir de debates técnicos e da experiência prática dos participantes no atendimento às demandas da sociedade. Dentre as principais melhorias, destacam-se:

O que diz a secretaria

A Secretaria de Educação do Distrito Federal diz estar avançando de forma significativa na expansão do atendimento da educação infantil, com ampliação contínua e estruturada do número de vagas. “Em 2019, a fila de espera por creches chegava a aproximadamente 24 mil crianças. Atualmente, o déficit é de 4.569 vagas, todas com previsão de atendimento no início do ano letivo de 2026”, disse em nota.

Desde 2019, a Secretaria de Educação inaugurou oficialmente 22 creches e Centros de Educação da Primeira Infância (Cepis). Outras quatro unidades já estão concluídas e aguardam os trâmites necessários para a inauguração, além de oito Cepis que estão em construção. Hoje, 38.603 crianças são atendidas em creches públicas do Distrito Federal.

“A Secretaria reforça que essas ações integram a política de expansão da educação infantil, cujo objetivo é universalizar o acesso a essa etapa da educação básica até 2026”, explicou a Secretaria.

Para se inscrever para uma vaga em creche, basta se cadastrar no site da Secretaria de Educação.

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