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Cientistas observam estrela que pode ter explodido duas vezes seguidas

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Cientistas observam estrela que pode ter explodido duas vezes seguidas

Quando uma estrela chega ao fim da vida, o mais comum é que ela exploda uma única vez, em um evento conhecido como supernova. Essa explosão libera uma enorme quantidade de energia e espalha elementos químicos pelo espaço.

Depois disso, a estrela deixa de existir como era antes. Mas um estudo publicado pela Sociedade Astronômica Americana em 15 de dezembro na revista The Astrophysical Journal Letters sugere algo nunca observado até agora: uma estrela que pode ter explodido duas vezes seguidas.

O possível fenômeno foi identificado a partir de um evento chamado AT2025ulz, observado a cerca de 1,3 bilhão de anos-luz da Terra. O que chamou a atenção dos cientistas foi o comportamento incomum desse brilho no céu, que não seguiu o padrão conhecido das explosões estelares tradicionais.

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Um sinal estranho vindo do espaço

Tudo começou quando detectores de ondas gravitacionais — pequenas vibrações no espaço-tempo causadas por eventos extremos — registraram um sinal inesperado.

Esse tipo de sinal costuma surgir quando objetos muito densos, como estrelas de nêutrons, colidem entre si. Pouco depois, telescópios apontados para a mesma região do céu identificaram um forte clarão de luz.

No início, esse brilho se parecia com o de uma kilonova, um tipo de explosão que ocorre quando duas estrelas de nêutrons se fundem. As kilonovas são importantes porque produzem elementos pesados, como ouro e platina. A luz observada era avermelhada e foi diminuindo aos poucos, exatamente como os modelos preveem para esse tipo de evento.

Dias depois, porém, algo inesperado aconteceu. Em vez de continuar enfraquecendo, o objeto voltou a ficar mais brilhante. Além disso, sua luz mudou de cor, ficando mais azulada, e passou a apresentar sinais químicos típicos de uma supernova, como a presença de hidrogênio.

Esse comportamento não é comum. Normalmente, uma kilonova e uma supernova são eventos distintos, com origens diferentes. Ver sinais claros dos dois fenômenos no mesmo objeto, em sequência, levou os pesquisadores a considerar uma hipótese ousada: a de que o AT2025ulz represente um tipo raro e extremo de explosão dupla.

O que seria uma “superkilonova”

Os cientistas chamaram esse possível fenômeno de superkilonova. A ideia é que uma estrela muito grande, ao colapsar, não tenha explodido de forma definitiva logo no início. Em vez disso, ela pode ter se fragmentado e formado duas estrelas de nêutrons muito leves, que se fundiram pouco tempo depois.

Nesse cenário, a estrela teria passado por duas etapas violentas: primeiro uma explosão semelhante à de uma supernova e, logo em seguida, uma kilonova gerada pela colisão dessas estrelas de nêutrons. Isso explicaria por que o brilho observado mudou tanto ao longo do tempo e apresentou características de dois tipos diferentes de explosão.

Os autores do estudo deixam claro que essa é, por enquanto, a melhor explicação disponível, mas não uma certeza. Ainda é possível que o evento tenha sido uma supernova muito incomum ou até uma coincidência rara de fenômenos ocorrendo quase ao mesmo tempo.

Um dos pontos que reforça a hipótese da explosão dupla é a massa incomumente baixa estimada para pelo menos um dos objetos envolvidos no sinal gravitacional — menor do que o esperado para estrelas de nêutrons típicas. Isso sugere que o processo de formação desses corpos pode ter sido diferente do habitual.

Se confirmada, a superkilonova representaria um novo tipo de explosão estelar, obrigando os cientistas a rever modelos sobre como estrelas massivas morrem e como elementos pesados se formam no Universo.

Além disso, o caso mostra a força da chamada astronomia multimensageira, que combina informações de ondas gravitacionais e luz para entender eventos extremos do cosmos.

Por enquanto, o AT2025ulz permanece como um dos eventos mais intrigantes já observados. Ele reforça a ideia de que, mesmo após décadas de estudo, o Universo ainda é capaz de surpreender — até mesmo com uma estrela que parece ter se recusado a explodir apenas uma vez.

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