O figurino da cantora espanhola Rosalía em seu novo clipe, La Perla, se destacou pelo uso de um acessório inusitado: um cinto de castidade. A peça traduz a experiência pessoal da cantora com o movimento de celibato feminino voluntário — prática conhecida como volcel e que vem ganhando força entre jovens que estão frustradas com relacionamentos tóxicos.
A renúncia emocional e sexual tem funcionado como estratégia de preservação pela geração Z. Na cultura pop, além do volcel, fenômenos como boysober e 4B se destacam ajudando mulheres a terem controle sobre o próprio corpo.
Vem entender!

Rosalía e o movimento volcel
No clipe de La Perla, Rosalía aparece usando diferentes aparatos de proteção em situações supostamente “de risco”. A artista também surge patinando em um ringue de gelo com uniforme de hóquei, embora não haja uma ameaça iminente. As cenas se intercalam com imagens dela passeando com cães bravos no parque, vestindo roupas volumosas que a protegem. Em outro momento, a cantora aparece de uniforme de esgrima, sem estar, de fato, em combate.
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Em contraste, Rosalía também surge em trajes cotidianos — moletom cinza e calça preta de cintura baixa, que deixa à mostra um cinto de castidade. Em conjunto, os visuais constroem uma simbologia de precaução, como se a artista estivesse constantemente se preparando para o pior cenário, mesmo quando o perigo não se concretiza.



Fãs da cantora relacionaram o conteúdo do clipe com o romance vivido pela artista com o cantor Rauw Alejandro. Segundo as teorias, a música teria sido escrita para ele. Rosalía e Rauw viveram um relacionamento que rapidamente se tornou um dos mais comentados da música pop latina, especialmente com o anúncio do noivado dos dois, em março de 2023.


O término foi confirmado meses depois, em julho de 2023, e pegou o público de surpresa. Fontes próximas aos artistas afirmaram que a separação ocorreu de forma respeitosa. Pouco depois, surgiram rumores de infidelidade envolvendo Rauw Alejandro, que negou as acusações em comunicado. O ex de Rosalía afirmou que a relação terminou por diferenças pessoais e conflitos de agendas.

Durante a divulgação do álbum Lux, Rosalía afirmou “ter perdido a fé na masculinidade”, e por isso aderiu a um período de abstinência sexual voluntária.
“Quero deixar claro que não dou mais espaço a paixões platônicas. Essa fantasia, essa ilusão que não leva a lugar nenhum. Acabou. Eu, neste momento, estou solteira, volcel”, comentou em referência a prática do celibato voluntário.

Nos Estados Unidos, uma pesquisa revelou que 16,5% das mulheres estão “solteiras por escolha própria”. Entre o público masculino, o os adeptos totalizam 9%.

O que é o movimento boysober
O movimento boysober (sobriedade de homens, em tradução livre) consiste, entre outras coisas, em deletar perfis nos aplicativos de relacionamento. Além disso, os adeptos são incentivados a não ter encontros com novos parceiros e a cortar contato com ex-namorados.

A comediante norte-americana Hope Woodard foi a grande responsável por dar nome ao movimento. Em 2023, após avaliar um panorama de sua vida romântica, ela decidiu ter um ano focado em autodescoberta e empoderamento longe dos relacionamentos. Hope transformou a experiência em uma série mensal de stand-up chamada Boysober. O termo foi ganhando vida própria e rendendo milhares de vídeos com a hashtag no TikTok e no Instagram, especialmente entre mulheres da geração Z.



A geração Z se aproxima de tendências como boysober, volcel e o movimento 4B — que consiste em não namorar, não transar, não casar e não ter filhos — por considerar que o cenário atual de encontros se tornou tóxico. Uma pesquisa realizada com estudantes universitários e de pós-graduação dos EUA, conduzida pela Axios, constatou que 79% dos jovens não utilizavam nenhum aplicativo de namoro. A ausência desse público nas plataformas é resultado de decepções amorosas, assédio virtual e desconforto causado por conversas invasivas.

Em outubro de 2025, a Vogue britânica publicou um artigo que questionava se “ter um namorado é algo vergonhoso agora?”. A provocação fez com que mulheres de diferentes faixas etárias compartilhassem relatos afirmando se identificar com o tema. A autora do artigo ainda aponta uma tendência crescente entre criadoras de conteúdo digital: a redução da presença de seus namorados nos vídeos, que se limitam a aparições discretas, sem protagonismo.
“As mulheres não querem ser vistas como alguém que vive em função do parceiro, mas também querem o prestígio que vem com estar em um relacionamento”, afirma.

Nesse contexto, a escolha pelo celibato voluntário e pela autonomia emocional deixa de ser lida como renúncia e passa a funcionar como estratégia de preservação, reafirmando o controle sobre o próprio corpo, o desejo e a narrativa.

