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    Clube de São Paulo abre investigação contra ex-presidente de conselho

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    O Clube Atlético Juventus firmou, na última sexta-feira (5/12), uma sindicância contra Ivan Antipov, conselheiro vitalício e ex-presidente do conselho deliberativo, por quebra de decoro.

    O termo de instauração foi aceito por Carlos Eduardo Gomes Pedroso, atual presidente do colegiado, e assinada por 21 conselheiros. Desde então, Antipov está suspenso preventivamente do Juventus, pelo prazo de 20 dias.

    Ele é acusado de alterar individualmente e sem autorização o estatuto social do clube, além de “prejudicar a estabilidade institucional” ao abrir uma ação judicial contra o Juventus.

    A abertura da sindicância é endossada por Norival Barbosa, Eduardo Pinto Ferreira, Fabio D’angelo, Regis R. Roque, Marcio Prioli, Marcos Almeida, Ivaildon Ribeiro, Paulo Sergio Criscuolo, Domingos Sanches (ex-presidente), Adail Biondi, Reinaldo Finelli, Aurideniche Stefano, Wilder Ribeiro Passos, Ronaldo Miguel Carbonaro, Julio César Mucilo, Antonio Carlos Kida, José Luiz O. dos Reis, Rosana Berti Ruiz Pezzotti, Vanderlei Canesso da Silva, Mario Duarte Alves e Vicente Aguila.

    Ivan Antipov e outros ex-dirigentes também são indiciados por suposto desvio de R$ 2,3 milhões que seriam aplicados em obras de conservação do Estádio Conde Rodolfo Crespi, localizado na Rua Javari, no bairro da Mooca, zona leste da capital paulista.

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    No entanto, em 27 de outubro, a Justiça de São Paulo suspendeu em segunda instância um procedimento disciplinar anterior contra Antipov, por meio de uma tutela de urgência. A medida impediu a realização de assembleia que poderia resultar em sanção ao economista. A decisão ainda pode ser mantida ou revogada.

    Estelionato e associação criminosa no clube

    Em 20 de outubro, a Polícia Civil abriu um inquérito após a direção do Clube Atlético Juventus apresentar uma notícia-crime contra ex-dirigentes do clube. Além de Ivan Antipov, entre os suspeitos, estão Antonio Ruiz Gonsalez, ex-presidente do Juventus; Paulo Troise Voci, ex-vice-presidente do clube; e Raudinei Anversa Freire, ex-diretor de futebol.

    Responsável pela apuração, o delegado Tiago Fernando Correia, da 3ª Divisão de Investigações sobre Crimes contra a Administração e Combate à Lavagem de Dinheiro (Dicca), apontou a necessidade de detectar possível estelionato e existência de uma “associação criminosa, estruturada para lesar o patrimônio da agremiação”. A autoridade policial constatou que haveria indícios de “apropriação indébita majorada”.

    O que diz Ivan Antipov

    Procurada pelo Metrópoles, a defesa de Ivan Antipov acusa a atual gestão de “perseguição política”. Na Justiça, o conselheiro pede a condenação do clube ao pagamento de indenização de R$ 100 mil por danos morais devido a constrangimento e dano à própria reputação.

    “O Sr. Ivan refuta veementemente qualquer irregularidade e informa que já está adotando todas as medidas legais cabíveis para o esclarecimento dos fatos. Adicionalmente, cumpre informar que, no âmbito da ação judicial pertinente, foi concedida e reiterada a tutela antecipada por decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo, e que também foi requerida indenização por danos morais”, informou a nota, dos advogados Ricardo Sayeg e Rodrigo Sayeg.

    No processo, Antipov alega que jamais foi responsável por qualquer pagamento objeto da investigação. A defesa destaca que o conselheiro vitalício exerceu a presidência do colegiado deliberativo e que não detinha qualquer atividade executiva na administração do clube.

    Fraude no Juventus

    • O estádio do Juventus é tombado como patrimônio histórico da cidade de São Paulo. Por isso, em 2022, o time firmou com a Prefeitura de São Paulo um termo de compromisso relacionado ao potencial construtivo do estádio do Juventus.
    • Liberado há cerca de três anos pela administração municipal, o montante milionário, no entanto, teria sido usado para pagar supostos empréstimos feitos à associação esportiva.
    • Após uma sindicância interna, segundo documentos obtidos pelo Metrópoles, funcionários investigados por envolvimento na fraude foram afastados.
    • O clube solicitou à polícia, por meio da abertura de um inquérito, “adoção das medidas investigativas cabíveis, a fim de resguardar o patrimônio moral e material do Clube Atlético Juventus e promover a responsabilização dos envolvidos”.
    • A sindicância evidenciou “dupla lesão ao patrimônio do clube, com grave repercussão financeira e institucional”. Para evitar interferências, recomendou-se a suspensão preventiva de dirigentes do período de 2019 a 2020, assim como o afastamento cautelar de funcionários da tesouraria.
    • Em setembro deste ano, a Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativa chegou a realizar uma proposta de multa devido ao descumprimento de termos do acordo que previa a reforma. O Juventus pode enfrentar uma dívida de mais de R$ 5,3 milhões, que também inclui uma restituição estabelecida pela gestão municipal.
    • O Juventus sugeriu ainda que haja bloqueio das contas dos destinatários do pagamento e também sequestro das quantias ligadas ao termo de compromisso.
    • O caso foi protocolado na 4ª Delegacia de Polícia de Investigações sobre Lavagem ou Ocultação de Bens e Valores.

    O contrato do Juventus com a Prefeitura de São Paulo permitiu a transferência de 4.691,98 metros quadrados de potencial construtivo. Dessa forma, todo o valor obtido, exatos R$ 2.362.157,09, deveria ser aplicado em obras no local. Contudo, a revitalização não foi executada e o dinheiro teria sido utilizado para quitar mútuos de ex-dirigentes do próprio clube.

    Além disso, conforme apurado, o cálculo da transferência foi baseado em valor abaixo do real de mercado. Foram considerados R$ 2.528,58 por metro quadrado. De acordo com especialista ouvido pela reportagem, o Juventus arrecadou muito menos do que poderia. O valor de recompra do potencial construtivo, inclusive, foi estimado pela prefeitura em mais de R$ 19 milhões.

    Devido ao desvio de finalidade, em setembro deste ano, a prefeitura constatou o descumprimento do termo e estimou uma multa de R$ 2,9 milhões ao Juventus. A proposta prevê que o clube devolva ao Fundo de Proteção do Patrimônio Cultural e Ambiental Paulistano (Funcap) o valor integral recebido.

    De acordo com o cálculo oficial, a penalidade é de cerca de R$ 118 mil por mês de atraso, contado a partir de 17 de abril de 2023 até 5 de maio de 2025.

    O que dizem outros envolvidos

    Contatados pelo Metrópoles, os responsáveis pela sindicância alegaram que não podem comentar as apurações em andamento. O atual presidente do clube, Tadeu Deradeli, afirmou que não quer se pronunciar por enquanto.

    Também procurado via assessoria de imprensa, o clube não respondeu oficialmente. A reportagem não localizou a defesa dos outros ex-dirigentes citados. O espaço segue aberto para manifestações.

    Também conhecido como Estádio da Rua Javari, o Estádio Conde Rodolfo Crespi foi inaugurado em 26 de abril de 1925 e adquirido da família Crespi pelo Clube Atlético Juventus em 1967.

    Atualmente, numa área aproximada em 15 mil metros quadrados, o espaço comporta 5 mil pessoas. No entanto, segundo o clube, já registrou a presença de 15 mil torcedores. Em 2019, o estádio foi tombado pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp).