Quando um casal decide incluir uma “marmita” — um terceiro parceiro para encontros casuais — a fantasia costuma parecer simples: prazer, variedade e zero consequências emocionais. Mas, segundo a sexóloga Alessandra Araújo, a dinâmica exige mais responsabilidade do que muita gente imagina. “O ‘jogo’ é mesmo para todos, mas o casal é o guardião dos limites”, afirma.
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A especialista explica que o maior risco não está no sexo, mas nos laços emocionais que podem surgir se o casal não se proteger. Para isso, ela destaca quatro pilares fundamentais. Veja a seguir:
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1. Reforçar a primazia do casal
Alessandra afirma que a principal defesa contra o apego é fortalecer o vínculo entre os dois. Isso começa por rituais antes e depois dos encontros com o terceiro, com momentos de conversa, afeto e até sexo exclusivo. “É uma forma de o corpo registrar que a intimidade real acontece no casal”, explica.
Outra prática é revisitar o motivo da experiência — fantasia, curiosidade, prazer — para que o foco permaneça no caráter recreativo da dinâmica. O casal também deve fazer reuniões periódicas para checar o “termômetro emocional” e avaliar se há ciúmes, pensamentos excessivos ou impacto na vida sexual.
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2. Limitar o acesso do terceiro à intimidade
Para a sexóloga, intimidade emocional nasce da vulnerabilidade e do tempo compartilhados — exatamente o que o casal deve evitar. A comunicação com a “marmita” deve se limitar à logística: data, horário e local. Conversas longas, desabafos ou trocas sobre a vida pessoal são terreno fértil para o envolvimento.
O tempo com o terceiro também precisa ser delimitado, evitando pernoites, almoços em família ou atividades que façam essa pessoa se integrar à rotina. Alessandra recomenda ainda que a comunicação aconteça preferencialmente em grupo, reforçando que a dinâmica pertence aos três e evitando laços individuais secretos.
3. Clareza e ética com o terceiro
Se o objetivo é não criar vínculos românticos, a transparência é obrigatória. “É preciso dizer sem rodeios: é casual, não é exclusivo e a relação primária não está em disputa”, orienta. Essa mensagem deve ser reforçada ao longo do tempo, caso necessário.
Presentes caros, declarações profundas ou plano de longo prazo são proibidos — todos eles sinalizam compromisso. E, se chegar o momento de encerrar a experiência, o casal deve fazê-lo de forma clara, conjunta e gentil, sem alimentar esperanças.

4. Cuidar do ciúme e da projeção
Segundo Alessandra, o casal não pode usar o terceiro para tapar buracos emocionais ou sexuais da relação principal. Isso só aumenta o risco de envolvimento. Além disso, o ciúme deve ser tratado como alerta máximo: “Se um dos dois sente desconforto ou competição com o terceiro, é hora de pausar a dinâmica imediatamente”, diz. O sentimento indica que a base do casal está fragilizada — e que a projeção emocional pode estar direcionada para fora.
No fim, a sexóloga resume a regra de ouro: proteger a intimidade do casal e manter o terceiro no lugar de participação sexual e recreativa, não emocional. “É preciso reafirmar o tempo todo que o amor e o vínculo principal são a prioridade máxima”, conclui.