Donald Trump deu um ultimato ao ditador venezuelano Nicolás Maduro para ele cair fora, vazar, escafeder-se, escolha você o verbo.
O ultimato foi dado na conversa telefônica entre ambos, na semana retrasada, de acordo com o New York Times e o Wall Street Journal — que, diga-se de passagem, também passou a ser considerado uma “pilha de lixo” pelo presidente americano, desde que o jornal deixou de lhe prestar vassalagem. A ideologia de Trump é ele próprio.
A conversa com Maduro foi confirmada pelo presidente americano, mas ele não quis confirmar o seu teor. Ou seja, houve ultimato. Tanto que Trump usou a sua rede social para advertir os demais países que o espaço aéreo da Venezuela deveria ser “considerado completamente fechado”.
A esta altura, parece difícil rolar uma química entre o presidente americano e Maduro, embora nunca se saiba o que vai por aquela cachola alaranjada.
Trump acusa o ditador venezuelano de ser o chefão de um cartel narcoterrorista que ameaça os Estados Unidos e despachou uma poderosa frota naval para exercitar os seus músculos na costa da Venezuela. Os rapazes do Norte vêm brincando de bombardear barquinhos suspeitos de transportar droga, matando gente ao arrepio do direito internacional, e ninguém descarta que possam disparar alguns dos seus brinquedos contra território venezuelano.
Maduro está apavorado, como todo valentão latino-americano quando se defronta com alguém mais forte do que ele. Já não pode contar com Vladimir Putin, que está ocupado em massacrar a Ucrânia, e muito menos com Xi Jinping, que só presta apoio ao regime ditatorial venezuelano da boca para fora.
No início das hostilidades americanas, o sem-vergonha tentou barganhar a permanência no poder até o final do seu mandato, entregando a indústria petrolífera, o ouro e os minérios venezuelanos aos Estados Unidos.
Como a proposta indecente de dar as calças do povo da Venezuela não foi aceita, até porque a oposição promete fazer algo semelhante se chegar ao poder, Maduro solicitou que Trump permitisse que ele mantivesse o controle das forças armadas até renunciar e, finalmente, convocar eleições livres. Pediu ainda que Trump lhe providenciasse uma anistia global, em admissão tácita dos crimes que cometeu.
Ao que consta, o presidente americano lhe disse apenas que deixaria que ele e a família saíssem livremente do país. Que lhe daria uma espécie de corredor.
Para onde Maduro vai? Especula-se que talvez para Rússia, quem sabe para a Turquia, e o Brasil, cada vez mais desimportante no capítulo venezuelano, também é opção, visto que, sob o PT, renovou-se a tradição de sermos valhacouto de criminosos internacionais. Bastaria que ele ameaçasse contar tudo o que sabe sobre os últimos 25 anos das relações entre os dois países, e certamente Lula faria o imenso sacrifício de abrigar o amigo com o qual anda estremecido.
A oposição venezuelana, liderada por María Corina Machado, prêmio Nobel da Paz, comemora a quase certa fuga de Maduro. Compreensivelmente, não está nem aí para se o ditador é ou não chefão de um cartel narcoterrorista, como alega Trump. Não raro, obtém-se a coisa certa por motivos errados nas relações internacionais.
Muitos lamentam que os Estados Unidos tenham voltado a se comportar como se a América Latina fosse o seu quintal. Na verdade, os americanos nunca deixaram de nos ver como tal, apenas estavam mais preocupados com outras partes do mundo. Voltamos a chamar a atenção por causa desta nossa especialidade regional: a produção e o tráfico de drogas.
Quem aprendeu a ser um perfeito idiota latino-americano deveria desaprender a sê-lo. Passou da hora de sermos adultos. O que quero dizer é que, ao mesmo tempo que apontamos o dedo para os Estados Unidos, e ele precisa ser apontado, deveríamos fazer mea culpa. Os gringos não são, não, culpados de tudo o que acontece nestas malfadadas latitudes, ao contrário do que dizem os seus professores de história e de sociologia.
Com pouquíssima exceções que confirmam a regra geral, nunca evitamos ser da forma que os americanos sempre nos enxergaram, e com razão. Somos o subcontinente que insiste em ser cemitério de ideologias ultrapassadas e campo fértil para ditadores caricatos, como Maduro e Daniel Ortega, e para populistas anacrônicos, como Lula e Jair Bolsonaro, farinha vencida do mesmo saco.
A loucura, o narcisismo e a despreocupação em maquiar a falta de escrúpulos de Trump são uma exceção americana, mas a falta de sensatez, a corrupção e a perversidade dos governantes com o povo são uma constante latino-americana, todo o cardápio acompanhado do molho apimentado do ridículo. Se queremos ser respeitados, precisamos nos respeitar.
