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    Controladores relatam intoxicação por gás, mas voos não param em SP

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    Controladores de voo dizem que o espaço aéreo de São Paulo ficou em risco na tarde de sábado (13/12), quando a sala da Aeronáutica onde funciona o Controle de Aproximação (APP) de São Paulo, em Congonhas, foi tomada por um cheiro forte de gás. Diversos militares relataram sintomas de intoxicação, em situação descrita como “crítica” pelo Centro Regional de Controle do Espaço Aéreo Sudeste (CRCEA-SE).

    O prédio no aeroporto de Congonhas chegou a ser parcialmente evacuado, com os militares saindo pela escada de emergência e se revezando no controle aéreo. Mas, de acordo com eles, não foi seguido o protocolo que determina o fechamento do espaço aéreo de São Paulo, que inclui os aeroportos de Congonhas, Guarulhos e Viracopos.

    “Ficamos no meio do gás para que a aviação pudesse fluir da maneira mais segura possível. Todo mundo pousou em segurança, mas o recurso humano estava a deus dará. Não tinha nem máscara para controlar a situação. Existe o plano de degradação, o documento que fala sobre isso, que diz que tem que evacuar o prédio. Chamar voluntário não adianta”, disse um controlador à coluna, que conta o episódio em primeira mão.

    Com controladores relatando dores de cabeça e náusea, dez militares de folga foram acionados para se dirigirem voluntariamente a Congonhas para “render” os que estavam em pior estado de saúde e se submeterem ao forte cheiro de gás.

    “Não é só a nossa saúde que ficou em risco, de quem está na linha de frente, mas a de todo o espaço aéreo. Sem saber da onde vinha o vazamento, alguma coisa podia explodir e as aeronaves ficarem sem assistência. Mas ninguém fez nada”, afirmou outro controlador.

    Três militares que relataram o caso ao Metrópoles neste domingo (14/12) e pediram para terem seus nomes preservados, se mostraram revoltados com a forma como o episódio foi tratado pelo comando do APP São Paulo. “Venho aqui registrar meu mais sincero e profundo agradecimento a todos que, na situação crítica vivenciada ontem, demonstraram um nível de profissionalismo, coragem, responsabilidade e espírito de equipe verdadeiramente excepcionais”, escreveu o oficial do CRCEA-SE, no grupo de Whatsapp dos controladores.

    Para os profissionais, contudo, o episódio demandava protocolo de segurança, não coragem. “Se fosse uma situação de guerra, eu ia me sentir um herói, mas não é.”

    À coluna, a Aena, concessionária de Congonhas, disse que “não se tratou de vazamento de gás, mas de possível ocorrência pontual com o sistema de esgoto e/ou de climatização”. “Como medida operacional preventiva, o órgão de controle de espaço aéreo imediatamente implantou os procedimentos previstos de contingência incluindo, entre outras medidas, aumento das separações entre pousos e decolagens, com forma de controle de fluxo. Não houve impacto à segurança e à regularidade das operações aéreas”, afirmou a concessionária. A Aeronáutica não respondeu pedido de comentários.

    Gás, vômitos e evacuação provisória em Congonhas

    O cheiro forte de gás no prédio da APP São Paulo, espaço da Aeronáutica dentro do Aeroporto de Congonhas, começou antes das 15h, no térreo, onde estavam militares no turno de descanso. Por volta das 15h30, momento na mudança de turno, o odor já tomava conta da sala de controle e controladores passaram a deixar seus postos, com náusea.

    O plano de degradação prevê que, em situações assim, a Área de Controle Terminal de São Paulo inteiro deve ser fechado para que a sala seja evacuada, já que a Terminal São Paulo não conta com estrutura para trabalho remoto. Os aviões que já estão na área da Terminal São Paulo devem ser pousados e, os demais, orientados a se deslocarem a outro lugar. Nenhuma aeronave sai do solo.

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    Em outras palavras: na falta de controladores, nenhum avião poderia se aproximar ou decolar dos aeroportos de Congonhas, Viracopos, Guarulhos, São José dos Campos, Campo de Marte, Catarina, Jundiaí, Bragança Paulista, entre outros. Ou seja: executar o plano de degradação causaria um enorme prejuízo financeiro a aeroportos e companhias aéreas.

    “Até perguntei para colegas que estudaram comigo e estão em outras unidades, já aconteceu com eles e foi feita a evacuação. A gente treina isso na nossa unidade, tem todos os passos, todos conhecemos o procedimento. No final, a única providência que foi tomada foi pedirem para diminuir a frequência de voos para São Paulo, para que pudesse ter menos gente no salão”, contou um militar.

    Sempre de acordo com relatos de controladores, uma equipe de bombeiros civis que trabalham para a AENA Brasil, concessionária do aeroporto de Congonhas, foi até o local e, inicialmente, negou estar sentindo qualquer cheiro de gás. Confrontados com a avaliação de 30 pessoas que sentiam o gás, os bombeiros aceitaram fazer um teste, que teria identificado a presença de gás não tóxico.

    Os controladores passaram, então, a se revezar no controle. Enquanto alguns saíam do prédio pela escada de emergência para respirar ar puro, outros seguiam trabalhando por curtos períodos, até serem rendidos, já que a sala não é dotada de máscaras de proteção, apenas de evacuação. “Só faltou alguém desmaiar para reconhecerem que era algo sério”, disse um deles à coluna.

    A solução proposta pelo comando do Terminal São Paulo foi pedir que militares de folga se apresentassem voluntariamente para o trabalho, rendendo aqueles que estavam em piores condições de saúde. “Na minha cabeça não faz o menor sentido você chamar mais gente para se submeter ao gás que ninguém sabe de onde está vindo”, opina um controlador. Ao menos quatro pessoas foram atendidas em hospitais. Uma vomitou ao chegar em casa, depois de ser liberada mais cedo.

    Com a sala funcionando com portas e janelas escancaradas, o cheiro se dissipou cerca de cinco horas depois e sumiu depois das 20h, quando o pessoal do turno da noite assumiu o Terminal São Paulo. Até a tarde deste domingo, contudo, a origem do cheiro forte gás não havia sido identificado.

    Confira o que disse a concessionária de Congonhas

    A Aena informa que a equipe do Aeroporto de Congonhas foi notificada ontem à tarde para verificação da ocorrência de um suposto odor de gás em prédio do Centro de Controle de Aproximação de São Paulo (APP-SP), estrutura sob responsabilidade da Aeronáutica. O Serviço de Combate a Incêndio, PAPH, bombeiros externos, o SAMU e a concessionária de gás foram imediatamente acionados.

    Como medida operacional preventiva, o órgão de controle de espaço aéreo imediatamente implantou os procedimentos previstos de contingência incluindo, entre outras medidas, aumento das separações entre pousos e decolagens, com forma de controle de fluxo. Não houve impacto à segurança e à regularidade das operações aéreas.

    Os profissionais que trabalham no local passaram por avaliação médica, tendo todos sido atendidos e liberados.

    De acordo com os bombeiros, não se tratou de vazamento de gás, mas de possível ocorrência pontual com o sistema de esgoto e/ou de climatização. Foram realizadas vistorias e medições no local, que se encontra em condições normais.