A Corregedoria da Polícia Civil investiga a atuação do delegado André Bertin, que possibilitou para que a Justiça soltasse cautelarmente o estudante de Direito Maurício Roschel Gonçalves Garcia, de 28 anos (imagem em destaque), após ele ser preso em flagrante por roubo, em 20 de novembro, mesmo estando com o carro e o celular da própria mãe — assassinada por ele dias antes. O policial não foi encontrado pelo Metrópoles e o espaço segue aberto para manifestações.
No mesmo dia do flagrante, já no 101º DP (Jardim das Imbuias), Maurício confessou ter matado e queimado o corpo de Eliana Augusta Roschel Gonçalves, 61. Mesmo assim, foi solto após audiência de custódia, porque a informação sobre o assassinato não constava nos documentos, registrados por Bertin, encaminhados ao Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP). O universitário permaneceu em liberdade por dois dias, até que outro delegado identificou a ligação do suspeito com um homicídio registrado oito dias antes.



Maurício Gonçalves Garcia, de 28 anos, empurrou a mãe durante a uma discussão e a deixou desacordada em casa
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Estudante de Direito, Maurício passou cerca de dez dias utilizando o celular da mãe para não levantar suspeitas
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A vítima era professora aposentada e foi morta pelo filho, aos 61 anos
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Maurício foi preso após assaltar um banco
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Familiares disseram que, há alguns anos, Maurício agrediu a mãe. Mas ela não registrou ocorrência por acreditar que ele mudaria
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Maurício foi preso preventivamente e aguarda as investigações
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O corpo de Eliana havia sido encontrado carbonizado em 12 de novembro, com as pernas arrancadas e o dedo indicador da mão esquerda amputado. Ela ainda não havia sido identificada naquele momento. O boletim relatava que o cadáver apresentava “indícios de esquartejamento” e partes separadas próximas ao corpo.
Roubo, confissão e liberdade
A situação mudou em 20 de novembro, quando Maurício foi detido pela Polícia Militar após assaltar um posto de combustíveis, em Parelheiros, extremo sul paulistano, dirigindo o Onix branco registrado em nome de Eliana. As vítimas o reconheceram, relatando que ele ordenou para que “passassem o dinheiro”. Na delegacia, Maurício confessou dois roubos e contou que havia passado a madrugada “fumando drogas” e circulando com outro dependente químico.
No flagrante, chefiado por André Bertin, o caso foi registrado apenas como roubo, sem relação com o homicídio anterior. Enquanto o universitário prestava depoimento sobre os roubos, familiares foram à casa de Eliana e encontraram manchas de sangue na cama e no sofá. Então acionaram a PM e foram ao 101º DP.
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Diante da descoberta, Maurício admitiu o homicídio, relatando que empurrou a mãe durante uma discussão, quando estava sob efeito de drogas. Disse que ela caiu, bateu a cabeça no degrau perto do banheiro e morreu enquanto ele estava fora. Contou ainda que, ao retornar no dia seguinte, encontrou-a morta no sofá, cobriu o corpo com um lençol, colocou-o no carro e o levou até a Estrada Evangelista de Souza, na qual, segundo suas palavras, “desovou o corpo e ateou fogo”.
Isso não foi anexado ao boletim de ocorrência de roubo e, como a Justiça não foi cientificada sobre a confissão, o assassino confesso foi liberado após audiência de custódia.
Corrigindo o erro
Investigadores foram ao local indicado por Maurício no depoimento, que coincidia exatamente com o ponto onde o cadáver carbonizado havia sido encontrado em 12 de novembro. Foi somente a partir desse cruzamento que o delegado Tarcisio Gabriel Pereira Júnior, responsável por analisar o caso posteriormente, percebeu que se tratava do mesmo homicídio e representou pela prisão temporária do estudante, no dia 22.
A Justiça deferiu o pedido e Maurício foi detido no mesmo dia, quando se entregou à polícia. Ele foi levado ao Instituto Médico Legal e, depois, ao sistema carcerário.
A Corregedoria agora apura por que o flagrante, inicial de roubo, não considerou os sinais de que o indiciado estava ligado ao assassinato da mãe — tendo permanecido livre mesmo após confessar o homicídio, horas depois do assalto.




