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    Delator do orçamento secreto manejou sozinho R$ 152 milhões do esquema

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    O deputado federal José Rocha (União-BA) direcionou sozinho R$ 152 milhões do orçamento secreto.

    Os recursos deveriam ser repartidos entre deputados da comissão de Integração Nacional da Câmara, que ele presidia à época, mas o deputado ignorou o acordo de líderes e indicou recursos para 84 cidades da Bahia, sua base eleitoral. A lista encaminhada unilateralmente por Rocha para o governo tinha apenas 34 cidades fora da Bahia.

    José Rocha é o principal denunciante da investigação do Supremo Tribunal Federal que apura a destinação irregular de emendas parlamentares no Congresso. Em depoimento à PF, ele acusou o deputado Arthur Lira (PP-AL) de usar o orçamento secreto para beneficiar Alagoas.

    Documentos aos quais a coluna teve acesso mostram, contudo, que o próprio Rocha usou o cargo de presidente da comissão para beneficiar o seu reduto eleitoral utilizando recursos que deveriam atender a todos os estados. No total, foram R$ 88 milhões somente para a Bahia.

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    Como se tratou de uma decisão unilateral, sem passar pela comissão ou submeter aos líderes, os deputados só descobriram o drible quando perceberam que suas emendas não estavam sendo pagas e o ministério revelou que seguia a lista de José Rocha.

    O “bypass” foi identificado pela assessora parlamentar Mariângela Fialek, conhecida como Tuca, responsável por organizar as planilhas de emendas. Diante da revolta, o deputado foi instado a pedir ao governo que ignorasse a sua lista. Chefe de Tuca à época, Lira acionou o governo para desfazer a iniciativa do colega. Mesmo assim, o deputado conseguiu direcionar R$ 53 milhões, valor bem acima dos demais colegas que, em média, indicaram em 2024 R$ 11 milhões de orçamento secreto.

    Na última sexta-feira (12/12), o ministro Flávio Dino usou o depoimento de José Rocha para justificar busca e apreensão de documentos na casa de Fialek e na sala ocupada por ela na presidência da Câmara. Nenhum deputado foi alvo da ação.

    O papel de Tuca é receber dos líderes partidários os nomes dos deputados e o valor que cada um irá direcionar, organizar as informações em planilhas e enviar para o Ministério de Relações Institucionais.

    A pasta, comandada pela ministra Gleisi Hoffmann (PT-PR), repassa para os ministérios a relação das emendas e determina os pagamentos.

    Deputados se queixam que as buscas autorizadas pelo ministro deveriam alcançar também o ministério, que fica um andar abaixo da sala do presidente Lula, onde também estão as listas dos contemplados com o orçamento secreto e de onde parte a ordem para pagamento das emendas.

    Deputado diz desconhecer lista do orçamento secreto

    Procurado, o deputado José Rocha questionou a integridade dos documentos ao qual a coluna teve acesso e negou que tenha usado o seu cargo de Presidente da Comissão de Integração para destinar emendas a seu favor.

    José Rocha sustenta que a tentativa de envio de R$ 152 milhões é uma “invenção de quem tem culpa no cartório”.

    A respeito dos valores destinados ao estado da Bahia, ele negou responsabilidade e disse que “não tinha competência” para distribuir as emendas da comissão porque “todas elas eram comandadas pelo presidente da Casa, Arthur Lira”.