Mesmo sem a localização do cadáver, a Polícia Civil da Bahia (PCBA) concluiu a investigação sobre o desaparecimento de Fabiana Correia Cardoso (foto em destaque), de 43 anos, ocorrido em setembro deste ano. O inquérito foi finalizado com a confirmação dos crimes de feminicídio e ocultação de cadáver.
A elucidação do caso ocorreu a partir de uma investigação técnica, minuciosa e integrada, conduzida pela Delegacia de Proteção à Pessoa (DPP), unidade vinculada ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
Durante as apurações, a autoridade policial representou pela prisão de dois investigados, ambos de 23 anos. As prisões temporárias foram deferidas pela Justiça e cumpridas em 21 de outubro, contra o ex-companheiro da vítima, e em 5 de novembro, quando o primo dele foi preso no bairro de Narandiba, em Salvador.
O desaparecimento
O caso teve início em 15 de setembro, após familiares registrarem boletim de ocorrência informando o desaparecimento de Fabiana. O último contato com a vítima havia ocorrido no dia 11, fato considerado atípico. Diante de indícios incompatíveis com um afastamento voluntário, o inquérito policial foi instaurado em 30 de setembro.
Segundo a diretora do DHPP, Lígia Nunes de Sá, a investigação exigiu rigor técnico, já que não havia corpo nem testemunhas presenciais. “Foi necessário reconstruir a dinâmica a partir de provas indiretas, perícias e das contradições apresentadas pelos investigados”, afirmou.
As investigações apontaram que Fabiana foi morta no dia 11 de setembro, por volta das 18h, no interior de um mercadinho de sua propriedade, localizado no bairro de Periperi, em Salvador. A vítima mantinha sociedade comercial com o ex-companheiro, vínculo que continuou mesmo após o fim do relacionamento afetivo.
Conforme apurado, o segundo investigado — primo do sócio da vítima — passou a frequentar o estabelecimento e a prestar serviços no local semanas antes do crime. Após as prisões, ambos apresentaram versões conflitantes, atribuindo responsabilidades um ao outro, as quais não se sustentaram diante das provas técnicas.
De acordo com o delegado André Carneiro, responsável pelo inquérito, a cronologia dos fatos só pôde ser estabelecida por meio da análise integrada de depoimentos, diligências de campo e laudos periciais.
“As versões apresentadas foram sendo desconstruídas à medida que as provas avançavam, permitindo a reconstrução precisa da dinâmica criminosa”, explicou.
Os detalhes do crime
Mesmo sem a localização dos restos mortais, o inquérito comprovou a materialidade do crime. A perícia identificou o perfil genético de Fabiana em duas facas utilizadas na tentativa de desmembramento, além de vestígios de sangue feminino no freezer onde o corpo foi mantido após o homicídio.
Em depoimento, os investigados relataram que a vítima foi derrubada no chão, esganada e, já semiconsciente, atingida com golpes no pescoço até a morte.
Após o crime, o cadáver foi colocado em um freezer e, posteriormente, transferido para um tonel azul. Houve ainda tentativa de destruição do corpo com o uso de substâncias corrosivas e inflamáveis.
No dia 13 de setembro, o tonel foi transportado para um imóvel onde funcionava uma hamburgueria pertencente ao ex-companheiro da vítima, no bairro de Mussurunga, onde os restos mortais foram queimados por horas. Os resíduos remanescentes foram descartados em um contêiner público no dia 14.
Segundo o delegado André Carneiro, a ausência do corpo não impede a responsabilização penal quando há um conjunto probatório consistente.
“Mesmo diante da tentativa deliberada de destruição de vestígios, as provas técnicas reunidas demonstram de forma inequívoca a ocorrência do homicídio e as ações posteriores de ocultação do cadáver”, destacou.
O Júri
O inquérito foi concluído e encaminhado ao Poder Judiciário, com o indiciamento dos dois investigados pelos crimes de feminicídio e ocultação de cadáver. Para a diretora do DHPP, o desfecho reforça a importância da investigação qualificada na responsabilização penal.
“É uma resposta firme do Estado a um crime extremamente grave. Mesmo diante de tentativas de ocultação, a investigação técnica é capaz de reconstruir os fatos e responsabilizar os autores”, concluiu.
