O dólar operava em baixa na manhã desta quinta-feira (4/12), em um dia movimentado no noticiário político-econômico do Brasil.
As atenções dos investidores se dividem entre a divulgação do resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do país no terceiro trimestre deste ano, a votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) no Congresso e o leilão de áreas do pré-sal na Bolsa de Valores.
Dólar
- Às 9h16, a moeda norte-americana recuava 0,25% e era negociada a R$ 5,30.
- Na véspera, o dólar terminou a sessão em queda de 0,33%, cotado a R$ 5,313.
- Com o resultado, a moeda dos Estados Unidos acumula perdas de 0,42% em dezembro e de 14,03% frente ao real em 2025.
Ibovespa
- As negociações do Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores do Brasil (B3), começam às 10 horas.
- No dia anterior, o indicador fechou o pregão em alta de 0,41%, aos 161,7 mil pontos, novo recorde histórico de fechamento. Durante o pregão, o índice renovou a máxima histórica, cravando 161,9 mil pontos.
- Com o resultado, a Bolsa brasileira acumula valorização de 1,69% no mês e de 34,48% no ano.
PIB do Brasil
O maior destaque do dia é a divulgação dos dados sobre o desempenho da economia brasileira. No terceiro trimestre de 2025, o PIB do país subiu 0,1% frente ao trimestre anterior, na série com ajuste sazonal. Sob ótica da produção, houve resultados positivos na agropecuária (0,4%) e na indústria (0,8%) enquanto a atividade dos serviços (0,1%) não mostrou variação significativa.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o PIB somou R$ 3,2 trilhões no terceiro trimestre, sendo R$ 2,8 trilhões referentes ao valor adicionado a preços básicos e R$ 449,3 bilhões, aos impostos sobre produtos líquidos de subsídios. A taxa de investimento foi de 17,3% do PIB, ligeiramente abaixo dos 17,4% do mesmo trimestre do ano passado. Já a taxa de poupança foi de 14,5%, igual à do terceiro trimestre de 2024.
Em relação ao mesmo trimestre do ano passado, o PIB avançou 1,8%, com crescimento na agropecuária (10,1%), na indústria (1,7%) e nos serviços (1,3%).
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Votação da LDO
A Comissão Mista de Orçamento (CMO) do Congresso Nacional aprovou, na quarta-feira (3/12), o texto principal da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2026. O parecer de Gervásio Maia (PSB-PB) apresenta um calendário que obriga o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a pagar a maior parte das emendas parlamentares até meados do ano que vem – que é ano eleitoral. O texto está previsto para ser votado nesta quinta em sessão do Congresso.
Segundo o parecer, que foi aprovado de maneira simbólica, o Palácio do Planalto deverá pagar 60% dos repasses indicados pelos congressistas até julho. O prazo foi acordado após ser amplamente discutido entre o governo e o Congresso e foi um dos motivos do atraso na votação. Os parlamentares afirmam que o calendário traz mais previsibilidade na distribuição das emendas, por outro lado, diminui o poder de barganha do Palácio do Planalto.
A LDO é o conjunto de diretrizes e regras que ditam como o governo federal deverá gastar o Orçamento do ano seguinte. A proposta é enviada pelo Palácio do Planalto, normalmente, no primeiro trimestre do ano anterior ao que se refere o projeto e deve ser votado pela CMO e, depois, pelo Congresso Nacional.
O relator também aliviou a pressão para o governo e determinou que poderá perseguir o piso da meta fiscal em 2026, não sendo necessário perseguir o centro. Essa seria uma forma de evitar contingenciamentos volumosos. A meta fiscal para o próximo ano é de superávit de 0,25% do PIB, cerca de R$ 34 bilhões, com intervalo de 0,25% para cima ou para baixo, ou seja, o piso inferior é de déficit zero.
O Tribunal de Contas da União (TCU) determinou neste ano que o governo deveria perseguir o centro da meta, e não a banda inferior como vinha sendo feito. No entendimento da Corte, o governo está burlando as regras fiscais ao não mirar o déficit zero, estabelecido como meta de resultado para 2025. No entanto, por entender que o orçamento já estava em execução, o TCU permitiu que a equipe econômica mirasse o piso da meta este ano, mas discute a obrigatoriedade de mirar o centro em 2026.
Segundo a equipe econômica, caso a Corte mantivesse a decisão, seria necessário bloquear cerca de R$ 30 bilhões nas contas públicas, o que causaria um colapso na administração pública.
Leilão do pré-sal
Outro destaque da agenda econômica desta quinta-feira é o leilão de áreas não contratadas do pré-sal, que acontece na B3, com a Petrobras no centro das atenções dos investidores.
O certame envolve áreas não contratadas dos campos de Mero, Tupi e Atapu, todos operados pela Petrobras e que contam com a participação de multinacionais como Shell, Total, Galp, CNODC e CNOOC.
O valor mínimo esperado pela União, ainda para 2025, é de R$ 10,2 bilhões, à vista. O leilão trata da venda da participação da União em jazidas de petróleo regidas por acordos de individualização da produção (os chamados AIPs), que são instrumentos usados para regular a exploração de petróleo e gás em reservatórios.
O TCU deu aval para a realização do leilão, mas o relator do processo no tribunal, ministro Jorge Oliveira, entendeu como “preocupante” o fato de o governo chegar ao fim do ano dependendo do certame para fechar as contas.
“Essa prática, que contrapõe um planejamento orçamentário sólido à exposição a um elevado risco fiscal, reduz drasticamente a margem de gestão do governo, expondo a gestão fiscal a um elevado grau de risco”, anotou o ministro em sua decisão.
O TCU determinou que, em caso de adiamento do leilão ou se novos certames semelhantes forem propostos, o tribunal terá de analisar mais uma vez as condições antes de eventual autorização.
Tensão política
Os investidores também seguem acompanhando os novos capítulos da tensão política entre os Poderes da República, em Brasília, desta vez envolvendo o Judiciário e o Legislativo. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), reagiu à decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, que determinou que apenas a Procuradoria-Geral da República (PGR) pode protocolar pedidos de impeachment contra ministros da Suprema Corte.
Alcolumbre disse ver com “preocupação” a decisão de Gilmar. Para o presidente do Congresso, só uma decisão legislativa seria capaz de mudar o rito para impeachment de ministros do STF, “sob pena de grave ofensa constitucional”. Na mensagem dura em relação à decisão, Alcolumbre cobrou que o STF respeite as prerrogativas do Legislativo.
O decano do STF estabeleceu que só a PGR pode apresentar um pedido de impeachment de ministros da Corte. Esse pedido atualmente poderia vir de cidadãos comuns e parlamentares. Gilmar determinou também que é necessária uma maioria de dois terços em votação no Senado para aprovar essas solicitações.
A decisão se deu no bojo da revisão de diversos artigos da Lei do Impeachment (Lei nº 1.079/1950) relativos ao processo de afastamento de ministros da Corte. A medida foi proferida conjuntamente nas Arguições de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPFs) nº 1.259 e nº 1.260, apresentadas pelo partido Solidariedade e pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB).
Análise
Segundo Marco Ribeiro Noernberg, sócio e estrategista de renda variável da Manchester Investimentos, os dados do PIB do Brasil mostram “que o país continua crescendo neste ano, mas já é uma leitura de uma economia um pouco mais desaquecida, especialmente se comparamos com o primeiro semestre”. “A gente vê um nível de desemprego baixo neste momento, mas, ao mesmo tempo, a Selic passou o ano inteiro em taxas elevadíssimas, na faixa de 15%. E isso tem deixado o crédito cada vez mais seletivo. Vimos, inclusive, um estresse com relação ao crédito privado. Isso tira um pouco o ímpeto de um crescimento mais forte”, observa.
“A perspectiva é que o país cresça próximo de 2,2% e, olhando para 2026, devemos ter um crescimento menor em relação a este ano, mas ainda na faixa de 1,7% e 1,8%. Então, na prática, os sinais estão mistos”, explica Noernberg.
“Temos um governo tentando estimular o consumo com gastos governamentais e, ao mesmo tempo, a questão da Selic muito alta e um crédito muito restritivo. Esses dois fatores se contrabalanceiam. O resumo geral é: temos uma economia que continua crescendo, mas em um ritmo mais fraco do que se viu recentemente.”
