Na primeira sessão do mercado após a pausa de dois dias para o feriado de Natal, o dólar fechou em leve alta, nesta sexta-feira (26/12), em um dia de liquidez reduzida e agenda fraca de indicadores econômicos nacionais e internacionais.
Na última sessão da semana, os investidores se voltaram para o noticiário político doméstico. As atenções apontam para a disputa eleitoral do ano que vem e a consolidação da candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) como potencial adversário do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
No mercado de ações, os principais destaques ficaram com as fortes quedas dos papéis do Banco Mercantil, que anunciou um acordo bilionário com a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), e da Azul, após uma nova oferta de distribuição primária de ações.
Dólar
- A moeda norte-americana terminou a última sessão da semana em alta de 0,16%, negociada a R$ 5,544.
- Na cotação máxima do dia, o dólar bateu R$ 5,567. A mínima foi de R$ 5,52.
- Na última sessão, na terça-feira (23/12), o dólar fechou em baixa de 0,95%, negociado a R$ 5,531.
- Com o resultado, a moeda dos EUA acumula ganhos de 3,87% em dezembro e perdas de 10,44% em 2025 frente ao real.
Ibovespa
- O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores do Brasil (B3), operava praticamente estável na reta final do pregão.
- Por volta das 17 horas (pleo horário de Brasília), o indicador avançava 0,05%, aos 160,5 mil pontos, em estabilidade.
- No pregão anterior, o Ibovespa fechou em alta de 1,46%, aos 160,4 mil pontos.
- Com o resultado, a Bolsa brasileira acumula alta de 0,88% no mês e valorização de 32,93% no ano.
Bolsonaro reitera candidatura de Flávio em 2026
No cenário político, o mercado financeiro repercutiu, nesta sexta-feira, a carta divulgada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) que sacramenta o apoio ao filho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), na disputa pelo Palácio do Planalto em 2026.
A escolha do ex-presidente pelo seu filho mais velho foi revelada com exclusividade pelo Metrópoles, em 5 de dezembro, na coluna do jornalista Paulo Cappelli.
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Ações do Banco Mercantil desabam após acordo bilionário com a Fazenda
Nas últimas semanas, desde que Flávio foi lançado informalmente como potencial candidato à Presidência da República com o apoio do pai, o mercado reagiu de forma negativa por entender que o nome do parlamentar não é o mais competitivo em uma eventual disputa contra Lula no ano que vem.
Amplos setores do mercado financeiro apostavam na escolha do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), como o candidato da direita e da centro-direita contra o atual governo. Com Flávio no páreo, os investidores agora já precificam a saída de Tarcísio do jogo da sucessão presidencial e sua provável candidatura à reeleição para o governo paulista.
Pesquisa mostra empate técnico no 2º turno
Ainda nesta sexta-feira, os investidores analisaram os números da mais recente pesquisa eleitoral sobre o pleito presidencial do ano que vem.
O presidente Lula lidera em todos os cenários de primeiro e segundo turno, conforme levantamento do Instituto Paraná Pesquisas. Flávio Bolsonaro, no entanto, aparece em empate técnico com Lula em uma simulação de segundo turno.
A pesquisa foi realizada entre os dias 18 e 22 de dezembro. Ao todo, foram ouvidos 2.038 eleitores em 163 municípios de 26 estados do país e do Distrito Federal. O grau de confiança divulgado é de 95% e a margem estimada de erro é de 2,2 pontos percentuais, para mais ou para menos.
Em um dos cenários de primeiro turno, Lula lidera com 37,6% contra 27,8% de Flávio Bolsonaro. Em um eventual segundo turno, Lula tem 44,1% contra 41% de Flávio. O resultado, que mostra uma diferença de 3,1 pontos percentuais, significa empate técnico.
Os que não sabem ou não opinaram representam 5,7% e a soma de nulos, brancos ou que não votariam em nenhum dos dois, 9,2%.
Ações do Banco Mercantil caem forte
Três dias depois do anúncio de um acordo entre o Banco Mercantil do Brasil e a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), as ações da instituições financeira negociadas na B3 registraram fortes perdas, entre as maiores do pregão desta sexta-feira.
Por volta das 12h25 (pelo horário de Brasília), os papéis do Banco Mercantil tombavam 8,75%, cotados a R$ 77,56. Mais cedo, às 11h30, as ações da instituição financeira chegaram a recuar 15,5%, a R$ 71,81.
Na reta final do pregão, por volta das 17 horas, a ação do banco recuava 6,65%, a R$ 79,35.
Na última terça-feira (23/12), a PGFN e o Banco Mercantil anunciaram um acordo de transação tributária para ampla regularização do passivo fiscal do conglomerado financeiro.
A negociação encerrou 96% de todos os litígios judiciais e administrativos mantidos pela instituição financeira ao longo de mais de uma década, regularizando uma dívida de cerca de R$ 2,5 bilhões.
Após os descontos sobre multa e juros, o Banco Mercantil vai pagar à vista mais de R$ 1 bilhão à União. Segundo nota da PGFN, “o acordo elimina definitivamente uma controvérsia jurídica histórica com cerca de 20 processos judiciais e dez processos administrativos, além da regularização de 33 débitos inscritos ou não em dívida ativa”.
A transação tributária é uma modalidade consensual de resolução do conflito tributário que permite, a partir de concessões mútuas, a regularização de débitos junto à Fazenda Nacional.
Por um lado, são concedidos descontos sobre multa e juros, e, por outro, a parte envolvida reconhece a dívida e se compromete com um plano de pagamento e a manter a regularidade fiscal.
Os descontos estão previstos na legislação e os percentuais dependem de uma avaliação individual do contribuinte, especialmente de sua capacidade de pagamento.
Além do acordo com a PGFN, o Banco Mercantil anunciou também um aumento de capital no valor de R$ 500 milhões. A operação tem como objetivo recompor a estrutura de capital da instituição diante da liquidação do acordo.
Os atuais acionistas terão direito de preferência na subscrição das novas ações, conforme regras da Lei das S/As.
Azul também tomba no pregão
As ações da Azul, uma das três principais companhias aéreas do Brasil, também registraram forte queda no pregão, liderando as perdas da última sessão da semana.
Por volta das 12h20 (pelo horário de Brasília), os papéis da Azul desabavam 35,38% e eram cotados a R$ 2.197,00. Um pouco mais tarde, às 12h37, as ações da companhia aérea tombavam 33,82%, a R$ 2.250,00.
Nos instantes finais do pregão, por volta das 17 horas, os papéis da Azul caíam 21,09%, a R$ 2.683,00.
A forte queda nos papéis da Azul se deve à reação inicial negativa do mercado à forte diluição dos acionistas decorrente de uma nova oferta pública de distribuição primária anunciada pela empresa.
Uma oferta pública de distribuição é o processo de colocação, junto ao público, de certo número de títulos e valores mobiliários para venda.
Ela envolve desde o levantamento das intenções do mercado em relação aos valores mobiliários ofertados até a efetiva colocação junto ao público, incluindo a divulgação de informações, o período de subscrição, entre outras etapas.
A operação anunciada pela Azul envolve a emissão de 723,9 bilhões de novas ações ordinárias e 723,9 bilhões de novas ações preferenciais.
O preço por ação foi fixado em R$ 0,00013527 para ações ordinárias e R$ 0,01014509 para ações preferenciais. O valor total estimado é de R$ 7,44 bilhões.
De acordo com comunicado da Azul, a subscrição será feita em cestas: 1 milhão de ações ordinárias por R$ 135,27 ou 10 mil ações preferenciais por R$ 101,45.
Na prática, a oferta de ações tem o objetivo de viabilizar a capitalização compulsória das dívidas da companhia por meio da conversão de títulos emitidos no exterior em ações.
Os acionistas terão direito de prioridade, com datas de corte definidas em 19 e 30 de dezembro de 2025. O período de subscrição prioritária acontecerá entre os dias 23 de dezembro de 2025 e 5 de janeiro de 2026.
As novas ações devem ser negociadas na B3 a partir do dia 8 de janeiro, com liquidação em 9 de janeiro e crédito das ações e dos bônus em 12 de janeiro de 2026.
A Azul está mais próxima de sair da recuperação judicial em breve, segundo avaliação predominante no mercado.
O Bradesco BBI espera que a companhia aérea tenha um balanço mais organizado após o encerramento do processo, com a diminuição da dívida total após conversão em ações e novos aportes de capital. Por outro lado, segundo analistas do mercado, é esperada uma diluição massiva dos acionistas minoritários.
A diluição de acionistas é a redução da porcentagem de participação de um acionista na empresa devido à emissão de novas ações – o que aumenta o número total de ações e, consequentemente, diminui o poder de voto e a fatia nos lucros de cada acionista antigo, mesmo que o valor total do patrimônio possa crescer.
No último dia 12, a Azul informou ao mercado que a Justiça dos Estados Unidos aprovou o plano de recuperação judicial apresentado pela empresa no âmbito do Chapter 11 – mecanismo equivalente à recuperação judicial no Brasil.
Segundo a companhia, a proposta recebeu mais de 90% de aprovação em todas as classes de credores habilitados a votar.
Com a confirmação do plano, a Azul avança no processo iniciado em maio deste ano, quando ingressou com o pedido na Justiça norte-americana para reorganizar suas obrigações financeiras. A empresa foi a última, entre as principais companhias aéreas brasileiras, a recorrer ao Chapter 11.
Análise
Segundo Paula Zogbi, estrategista-chefe da Nomad, “em dia de baixa liquidez, o noticiário político às vésperas de ano eleitoral fez pouco preço no Ibovespa”.
“No exterior, as bolsas norte-americanas apresentavam movimentos mistos em dia de liquidez baixa, o que é atípico para o dia após o Natal, que historicamente costuma apresentar altas. Nomes mais sensíveis a risco eram os mais afetados, indicando maior cautela dos investidores”, completou Zogbi.
