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    Entenda o que é a gamofobia e como ela afeta até relações seguras

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    A gamofobia — o medo intenso de casamento ou vínculos sérios — pode transformar relações promissoras em territórios de tensão e incerteza. Segundo a psicóloga e mentora de casais Ana Paula Nascimento e a psicanalista Silvia Oliveira, trata-se de um funcionamento emocional profundo, que ultrapassa o simples receio de se relacionar.

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    Ana Paula explica que a gamofobia se manifesta por meio de padrões recorrentes. A pessoa evita falar de futuro, alterna entre aproximação e afastamento, evita “definir a relação” e pode até criar conflitos para impedir que a história avance. “É um comportamento inconsistente: em um momento está presente, no outro desaparece emocionalmente”, afirma.

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    Esses ciclos desgastam a relação e geram insegurança. “O parceiro pode se sentir rejeitado, confuso e desvalorizado, vivendo uma espécie de solidão a dois”, acrescenta.

    coração partido, signos difíceis de superarA gamofobia pode estar ligada a experiências negativas passadas, insegurança, medo de perder a liberdade ou responsabilidade

    A raiz do medo: dor, perdas e vínculos rompidos

    Silvia explica que a gamofobia geralmente se apoia em experiências emocionais marcantes: abandonos, humilhações, separações traumáticas ou modelos de amor destrutivos. “Não é frescura nem falta de maturidade. É uma defesa psíquica criada para não viver uma dor que foi insuportável”, destaca.

    O medo domina a cena e provoca ansiedade intensa, sabotagem afetiva e dificuldade em sustentar vínculos estáveis. A pessoa até deseja se relacionar, mas o risco emocional parece grande demais.

    Impactos na rotina e na saúde emocional

    As especialistas apontam que esse padrão interfere diretamente na vida cotidiana. Surgem relacionamentos curtos, vínculos que começam intensos e terminam abruptos e escolhas repetidas por pessoas indisponíveis.

    Segundo Silvia, isso alimenta culpa, baixa autoestima, sintomas depressivos e uma solidão que não se resolve com companhia. “Por fora, pode vir um discurso de que ‘ninguém presta’. Por dentro, há um desejo legítimo de encontro.”

    Mulher colocando curativo sobre um grande coração partido em fundo rosa. Ilustração mostra coração partido resiliência dor superação - MetrópolesO acompanhamento de psicólogos e o apoio de pessoas próximas são cruciais para o processo de cura

    Como o casal pode lidar com a gamofobia

    Para Ana Paula, o primeiro passo é criar um ambiente seguro. Pressão, comparações ou cobranças aceleradas tendem a aumentar o medo. “É preciso diálogo honesto, paciência e pequenos avanços. Compromisso não precisa ser um salto, pode ser uma caminhada.”

    Ela destaca que a terapia de casal ajuda a organizar expectativas, estabelecer limites claros e construir um espaço de confiança para que ambos expressem suas necessidades.

    Silvia reforça que o tratamento psicanalítico dá ao indivíduo a chance de entender suas repetições, separar amor de dependência ou controle e retomar autonomia emocional. “O objetivo é que o medo deixe de decidir sozinho”, afirma.

    Casal segurando papel de coração partidoO parceiro sem gamofobia precisa ter paciência e validar os sentimentos do outro, reconhecendo que o medo é real, mesmo que irracional

    Um caminho possível — e cuidadoso

    Lidar com a gamofobia exige tempo, acolhimento e responsabilidade afetiva. Com compreensão mútua e apoio profissional, é possível transformar o medo em autoconhecimento e permitir que o vínculo deixe de ser um gatilho de dor para se tornar um espaço de crescimento e construção conjunta.