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Especialistas projetam piora no abastecimento de água na Grande SP

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Especialistas projetam piora no abastecimento de água na Grande SP

Especialistas afirmam que é bastante provável que a situação do fornecimento de água piore nos próximos meses, diante da seca pela qual passam os reservatórios que abastecem a Grande São Paulo, em especial o Sistema Cantareira. A capacidade de recuperação durante o período chuvoso será fundamental para definir 2026.

Coordenador do Observatório dos Direitos à Água e ao Saneamento (Ondas), Amauri Pollachi afirma que vive-se hoje um processo de crise hídrica. “Algo que vai acontecer com recorrência bastante forte e intensidade maior. É o que se espera a partir da crise climática”, diz.

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Pollachi também cita parâmetros que servirão de base para estabelecer o que pode ocorrer no decorrer do próximo ano. “Se sairmos do período de chuvas com um indicador de armazenamento abaixo de 30%, é certo que não haverá reserva de água para atender à população em 2026. Certamente, haverá um processo de esvaziamento mais acelerado e, com isso, certamente a população será afetada”, prevê.

O especialista constata que o próprio Sistema Cantareira não tem conseguido se recuperar, embora o período de seca tenha se encerrado com a chegada de outubro. Na ocasião, tinha 28,1%. Nesta sexta-feira (26/12), fim de dezembro, 20,4%.

“Mesmo em um mês que seria de chuvas intensas, o Cantareira andou de lado, vamos dizer assim, em termos de capacidade de reservação”, avalia Pollachi.

Segundo ele, a situação do maior dos reservatórios da Grande SP não é a única que preocupa.

“Não é só o Cantareira. Também o Alto Tietê, Guarapiranga e Rio Grande não estão confortáveis. Estão com certo grau de preocupação e nível muito mais do que em janeiro de 2014. É algo que preocupa muito”, afirma.

Tarifa de contingência

O especialista diz que, na década passada, o estado tinha todas as ferramentas para atuar diretamente nos sistemas. “Agora, não temos mais essa empresa pública sob domínio do estado. Temos uma empresa privada, com foco muito direcionado em máxima geração de lucros, de dividendos para seus acionistas”, diz sobre a Sabesp.

Pollachi cita como medida importante adotada na crise da década passada a criação da tarifa de contingência, que gerou redução de consumo de 10 m³/s, com incentivo no bolso do usuários.

Sobre o futuro, afirma que é um erro adotar o rodízio somente em último caso. “Você tem que adotar antes, não só quando já acabou a água. Quando acabou, você não tem água para racionar.”

Semelhanças com 2013/2014

Professor da Unicamp e especialista em gestão de recursos hídricos, Antônio Carlos Zuffo diz que é possível estabelecer relação entre o período pré-crise hídrica da década passada e agora.

“O padrão climático observado no início do verão de 2013/2014 é bem parecido com o atual. E confirmaria a ocorrência desses períodos mais críticos a cada 11 anos (Ciclo de Shwabe). Em 2014, o Sistema Cantareira começou o ano com 24,7%, hoje estamos com 20,8% [dia 23/12]”, afirma.

Zuffo cita outras similaridades. “Em 2014, o verão foi muito quente e ocorreu a La Niña, o que provocou o aumento do consumo de água e a redução das chuvas nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, e cheias no estado do Rio Grande do Sul e na região Norte, um padrão que pode ocorrer novamente em 2026, pois é o que temos observado nestas últimas três décadas”, diz.

O fenômeno meteorológico La Niña, caracterizado pelo resfriamento das águas do Pacífico Equatorial, vigora desde outubro deste ano. Segundo a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (Noaa), há 59% de chance de o fenômeno se manter até fevereiro ou abril de 2026, antes de retornar a um estado neutro entre março e maio.

O professor da Unicamp também menciona uma situação que não voltou a se repetir desde o fim da crise da década passada, caso as chuvas não sejam abundantes até o fim do verão, que é o uso do volume morto.

“Se a recuperação for inferior a 20%, terminaremos o inverno de 2026 com volumes negativos, utilizando novamente o volume morto (ou reserva técnica)”, diz.

A própria previsão do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) não favorece quem espera a recuperação dos mananciais. “Quando a La Niña ocorre, em geral, as chuvas diminuem nas regiões Centro-Sul do Brasil. Volumes de chuva abaixo da média significam que a recuperação dos reservatórios pode ser menor, mais tímida. Tal como ocorreu no último verão, quando a recuperação foi de apenas 15%”, lembra.

“Foram consumidos de março de 2025 até agora aproximadamente 40% do volume do Sistema Cantareira. Logo, se a recuperação dos reservatórios for igualmente tímida neste verão, a situação hídrica pode se complicar”, prevê.

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