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    Evento destaca papel da indústria pro futuro da Amazônia no pós-COP30

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    Por muito tempo, a Amazônia foi observada à distância, idealizada como um paraíso intacto ou usada como argumento em disputas políticas e econômicas que ignoram as pessoas que ali vivem. Mas, existe uma Amazônia que pulsa, empreendedora, tecnológica, produtiva e profundamente comprometida com a floresta em pé.

    Foi essa Amazônia real que se reuniu na 2ª edição da Conferência Diálogos Amazônicos, na sexta-feira (5/12), na Fundação Getulio Vargas (FGV), em São Paulo. Sob organização do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (CIEAM), especialistas, lideranças empresariais, pesquisadores e representantes indígenas debateram como transformar o legado da COP30 em desenvolvimento socioeconômico sustentável para o Brasil e o mundo.

    Para se ter uma ideia, estudos recentes do WRI Brasil e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) projetam que a bioeconomia amazônica pode gerar R$ 38,5 bilhões por ano e até 947 mil empregos diretos e indiretos até 2050, fomentando cadeias como castanha, açaí, madeira manejada, piscicultura e ecoturismo.

    Logo na abertura do evento, Márcio Holland, da FGV, ressaltou que a COP30 abriu uma das janelas mais decisivas da história para a região, e que agora o desafio é transformar potencial em impacto concreto no território amazônico.

    Em seguida, Luiz Augusto Rocha, presidente do Conselho do CIEAM, defendeu que a Zona Franca de Manaus é parte essencial do Brasil moderno. O modelo mantém 97% da floresta em pé, gera empregos para mais de 20 milhões de pessoas e está presente em 98% dos lares do país.

    Inclusive, o setor projeta faturar R$ 240 bilhões em 2025, fortalecendo inclusão social e combate à economia ilegal.

    “Nós precisamos reconhecer a desigualdade na infraestrutura, a desigualdade social, a desigualdade que separa o Brasil rico do Sul e Sudeste do Brasil pobre do Norte e Nordeste.”

    Luiz Augusto Rocha, presidente do Conselho do CIEAM

    Na sequência, Sérgio Oliveira, diretor-executivo da Abraciclo, reforçou que Manaus abriga o maior polo produtor de motocicletas do mundo fora da Ásia, com destaque para a expansão das bicicletas elétricas.

    Encerrando a abertura, Rildo Silva, presidente do Sindicato da Indústria de Aparelhos Elétricos, Eletrônicos e Similares do Estado do Amazonas (Sinaees-AM), destacou que a região já comprova ser possível inovar, gerar renda e proteger a floresta ao mesmo tempo.

    Evento destaca papel da indústria pro futuro da Amazônia no pós-COP30 - destaque galeria5 imagensLuiz Augusto Rocha, presidente do Conselho do CIEAMSérgio Oliveira, diretor executivo na Abraciclo Rildo Silva, presidente do Sinaees-AMMárcio Holland, professor da FGV EESP e coordenador dos Diálogos AmazônicosFechar modal.MetrópolesOs Diálogos Amazônicos têm o objetivo de pautar a formulação de novas estratégias para a região1 de 5

    Os Diálogos Amazônicos têm o objetivo de pautar a formulação de novas estratégias para a região

    Foto: Fábio Vieira/Especial MetrópolesLuiz Augusto Rocha, presidente do Conselho do CIEAM2 de 5

    Luiz Augusto Rocha, presidente do Conselho do CIEAM

    Foto: Fábio Vieira/Especial MetrópolesSérgio Oliveira, diretor executivo na Abraciclo3 de 5

    Sérgio Oliveira, diretor executivo na Abraciclo

    Foto: Fábio Vieira/Especial Metrópoles Rildo Silva, presidente do Sinaees-AM4 de 5

    Rildo Silva, presidente do Sinaees-AM

    Foto: Fábio Vieira/Especial MetrópolesMárcio Holland, professor da FGV EESP e coordenador dos Diálogos Amazônicos5 de 5

    Márcio Holland, professor da FGV EESP e coordenador dos Diálogos Amazônicos

    Foto: Fábio Vieira/Especial Metrópoles

    Liderando inovações na Amazônia

    No primeiro painel, Rebecca Garcia, diretora da GB Componentes Eletrônicos, defendeu que os benefícios da Zona Franca alcançam todo o Brasil, ao substituir importações e gerar empregos em diversas cadeias.

    A diretora-presidente da Tutiplast, Mariana Barrela, apresentou pesquisas com bioplásticos produzidos com insumos amazônicos, como ouriço da castanha-do-Brasil e fibra de curauá, com aplicações nos setores automotivo, têxtil e de bens de consumo. Os projetos envolvem 60 clientes e 40 colaboradores, com impacto socioeconômico no interior.

    Já Jean Marc Hamon, diretor industrial da BIC Manaus, trouxe resultados de uma cultura de inovação criada ao longo de cinco anos: 22 mil ideias implementadas e ganhos diretos de 2,5% em produtividade, com foco permanente em sustentabilidade e inclusão.

    Evento destaca papel da indústria pro futuro da Amazônia no pós-COP30 - destaque galeria3 imagensRebecca Garcia, diretora na GB Componentes EletrônicosJean Marc Hamon, diretor industrial da BIC ManausFechar modal.MetrópolesMariana Barrela, diretora-presidente na Tutiplast1 de 3

    Mariana Barrela, diretora-presidente na Tutiplast

    Foto: Fábio Vieira/Especial MetrópolesRebecca Garcia, diretora na GB Componentes Eletrônicos2 de 3

    Rebecca Garcia, diretora na GB Componentes Eletrônicos

    Foto: Fábio Vieira/Especial MetrópolesJean Marc Hamon, diretor industrial da BIC Manaus3 de 3

    Jean Marc Hamon, diretor industrial da BIC Manaus

    Foto: Fábio Vieira/Especial Metrópoles

    Logística e financiamento para a competitividade amazônica

    Desafios logísticos seguem como gargalo para o desenvolvimento regional, como destacou Marcello de Gregório, diretor-presidente da SuperTerminais, no painel “Inovações e Empreendedorismo na Amazônia”.

    Ele também anunciou R$ 40 milhões em investimentos em tecnologia para reduzir custos de escoamento — especialmente diante da variação de 17,5 metros no nível dos rios ao longo do ano.

    O superintendente de Meio Ambiente do BNDES, Nabil Moura Kadri, detalhou mecanismos de apoio a negócios de impacto e bioeconomia, com linhas de crédito indexadas à Taxa Referencial (TR) e nova parceria com o MDIC e Sebrae para fortalecer cadeias como a do açaí e babaçu, ampliando industrialização no interior da Amazônia.

    Evento destaca papel da indústria pro futuro da Amazônia no pós-COP30 - destaque galeria2 imagensMarcello de Gregório, diretor-presidente da SuperTerminaisFechar modal.MetrópolesNabil Moura Kadri, superintendente da Área de Meio Ambiente do BNDES1 de 2

    Nabil Moura Kadri, superintendente da Área de Meio Ambiente do BNDES

    Foto: Fábio Vieira/Especial MetrópolesMarcello de Gregório, diretor-presidente da SuperTerminais2 de 2

    Marcello de Gregório, diretor-presidente da SuperTerminais

    Foto: Fábio Vieira/Especial Metrópoles

    O legado da COP30 para o Brasil e para o mundo

    Com mediação de Carla Sudré, diretora LATAM da Umicore, o painel “Balanço da COP30” trouxe um balanço das entregas da COP30 e as prioridades para os próximos anos.

    A coordenadora de mobilização da presidência da COP30, Luciana Abade, apresentou 29 acordos firmados em Belém e 30 grupos de ativação criados para impulsionar soluções de baixo carbono. “A COP30 trouxe a agenda de solução para outro patamar.”

    A diretora da Impressora Amazonense (Impram), Régia Moreira, ressaltou que a Zona Franca de Manaus é uma “terra de oportunidades”, responsável por dinamizar a economia do estado e garantir dignidade às pessoas que vivem na região.

    Segundo ela, Manaus depende diretamente da indústria, são mais de 130 mil empregos diretos e quase 600 mil indiretos que movimentam comércio, serviços e renda local.

    Régia ainda alertou para a urgência de ampliar o acesso à infraestrutura sustentável e soluções para resíduos sólidos, áreas ainda pouco apoiadas pelo poder público. Ao pedir mais integração entre governos e setor produtivo, ela reforçou: “A Amazônia é um celeiro de oportunidades. Nós só precisamos que o Brasil olhe para ela com mais informação e menos preconceito”.

    Evento destaca papel da indústria pro futuro da Amazônia no pós-COP30 - destaque galeria3 imagensRégia Moreira, diretora na Impram e enviada especial da Indústria do Amazonas na COP30Carla Sudré, diretora LATAM na UmicoreFechar modal.MetrópolesLuciana Abade, coordenadora-geral de Mobilização da Presidência da COP301 de 3

    Luciana Abade, coordenadora-geral de Mobilização da Presidência da COP30

    Foto: Fábio Vieira/Especial MetrópolesRégia Moreira, diretora na Impram e enviada especial da Indústria do Amazonas na COP302 de 3

    Régia Moreira, diretora na Impram e enviada especial da Indústria do Amazonas na COP30

    Foto: Fábio Vieira/Especial MetrópolesCarla Sudré, diretora LATAM na Umicore3 de 3

    Carla Sudré, diretora LATAM na Umicore

    Foto: Fábio Vieira/Especial Metrópoles

    Território, identidade e justiça climática

    No painel “Visões da Amazônia”, a líder indígena e diretora do Instituto Witoto, Vanda Witoto, emocionou ao reforçar que não há sustentabilidade sem povos indígenas participando das decisões que afetam o território. Ela destacou o Parque das Tribos, primeiro bairro indígena de Manaus, como exemplo de autonomia, reflorestamento e protagonismo feminino.

    Vanda Witoto, Líder indígena, ativista ambiental, pedagoga e diretora executiva do Instituto WitotoVanda Witoto, líder indígena, ativista ambiental, pedagoga e diretora executiva do Instituto Witoto

    Literatura como memória e futuro da região

    O evento terminou com um olhar cultural sobre a Amazônia. A historiadora e escritora Etelvina Garcia resgatou, nas obras, a construção da Zona Franca e a importância de preservar essa memória para consolidar o desenvolvimento regional.

    Na sequência, Silvana Aquino, gerente sênior de RH da Visteon e coautora de “O papel do RH nas práticas de ESG”, mostrou como a ancestralidade Mura, povo tradicional da região, inspira uma gestão mais humana, inclusiva e conectada ao território.

    Etelvina Garcia e Silvana AquinoEtelvina Garcia e Silvana Aquino

    Como síntese do encontro, uma certeza se consolidou: quem vive na Amazônia quer, e precisa, ser protagonista das decisões sobre ela. O desenvolvimento sustentável já acontece ali, diariamente, com ciência, tecnologia, cultura e geração de oportunidades que mantêm a floresta viva.

    Agora, o pós-COP30 inaugura uma nova fase,  menos mito, mais realidade; menos discurso, mais escuta; menos distância, mais conexão com o Brasil.

    A Amazônia não quer ser cenário. Quer ser estratégia. Quer ser economia. Quer ser futuro. E mostrou, em voz firme e múltipla, que já está pronta para isso.