Federica Mogherini, ex-chefe de política externa e segurança da União Europeia (UE), renunciou nessa quinta-feira (4/11) ao cargo de reitora do Colégio da Europa. A instituição de pós-graduação especializada em estudos europeus, renomada pela formação de diplomatas, está no centro das acusações de corrupção que a levaram a ser brevemente detida para interrogatório há dois dias.
“Em consonância com o máximo rigor e honestidade com que sempre desempenhei minhas funções, hoje decidi renunciar”, disse ela em comunicado.
Além de Mogherini, foram detidos na terça-feira o vice-reitor do Colégio da Europa e o alto funcionário da UE Stefano Sannino, que foi secretário-geral do Serviço Europeu de Ação Externa (EEAS), pertencente à UE, entre 2021 e 2024.
O Ministério Público Europeu (EPPO), que conduz a investigação, afirmou que todos eles foram interrogados pela polícia belga e “formalmente notificados das acusações”, que estão relacionadas a “fraude em licitações e corrupção, conflito de interesses e violação de sigilo profissional.”
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Sannino declarou na quarta-feira que se aposentaria no fim do mês de seu cargo na Direção-Geral da Comissão Europeia para o Oriente Médio, Norte da África e Golfo.
Por que Mogherini está sob investigação?
O caso está relacionado a um curso de formação para diplomatas financiado pela UE, conhecido como Academia Diplomática da União Europeia.
O programa de formação de diplomatas da UE foi concedido ao Colégio da Europa pelo EEAS durante o ano letivo que correu entre 2021 e 2022. A polícia investiga se o processo de licitação favoreceu indevidamente o Colégio da Europa.
A investigação apura se o Colégio da Europa ou seus representantes tinham conhecimento prévio dos critérios de seleção ou se já sabiam que a instituição seria escolhida antes da comunicação oficial da decisão pelo EEAS.
A Promotoria disse que existem “fortes suspeitas” de que as regras sobre concorrência leal tenham sido violadas e “que informações confidenciais relacionadas com o processo de licitação em curso tinham sido compartilhadas com um dos candidatos”.
As fraudes envolveriam cerca de 650 mil euros (R$ 4 milhões), de acordo com uma fonte ouvida.
O advogado de Mogherini afirmou que ela nega qualquer irregularidade e está cooperando com as autoridades. Já Sannino disse estar seguro de que tudo será esclarecido.
Alto escalão da diplomacia
Mogherini dirigiu o Colégio da Europa a partir de 2020 e, em 2022, assumiu a direção da Academia Diplomática da UE. A italiana também atuou como chefe da diplomacia da UE entre 2014 e 2019 e acumulou o cargo de vice-presidente da Comissão Europeia, antes de se tornar reitora do Colégio da Europa. Ela também foi ministra das Relações Exteriores da Itália por seis meses em 2014.
O Colégio da Europa foi fundado em 1949, logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, com o objetivo de promover “um espírito de solidariedade e compreensão mútua entre todas as nações da Europa Ocidental e proporcionar uma formação de elite a indivíduos que defendam esses valores”.
Já o EEAS foi criado em 2010 para auxiliar o comissário de política externa da UE. Trata-se do serviço diplomático responsável pela execução das relações internacionais do bloco.
De acordo com o Relatório Anual de Atividades de 2024, o orçamento da pasta no ano passado chegou a 880,2 milhões de euros (R$ 5,4 bilhões).
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