O lançamento da candidatura de Flávio Bolsonaro foi interpretado – por culpa do próprio – como um movimento de barganha que propunha a anistia em troca do apoio da família a um candidato do Centrão.
Essa impressão, no entanto, está se desafazendo e outra está se colocando no seu lugar: na medida em que o senador vai se tornando conhecido, vai ficando mais concreta a possibilidade de ele ficar no jogo em razão da rápida mobilização que seu nome gera nas redes.
Trata-se da velha máxima: uma minoria mobilizada domina uma maioria desmobilizada. Esse é o dilema de toda terceira via, que busca no “isentão” o combustível necessário para dar ignição a uma candidatura e não o encontra.
Em um ambiente polarizado, quem sempre sai na frente é quem domina os polos.
Nesse sentido, embora haja uma demanda grande por um candidato “de fora”, a oferta não vai por esse caminho. Daí a ideia de que o que se quer é diferente do que se pode.
Fará sentido, lá na frente, Flávio Bolsonaro, com perto de 30% dos votos, ceder a cabeça da chapa para quem tem 10%?
Faz algum tempo que foi detectado que a direita bolsonarista e a direita de centro viviam um dilema de ação coletiva no qual poderia haver ganho na colaboração mútua, mas a desconfiança entre as partes e o excessivo foco no próprio interesse impede a cooperação.
A família Bolsonaro queria anistia para que o ex-presidente Jair Bolsonaro, com total gozo das suas faculdades, decidisse emprestar ou não o seu capital a um nome do Centrão. Os partidos propunham o contrário, primeiro apoio, depois o indulto.
A grande aposta do Centrão é que a prisão mostre à família o quanto a vida do ex-presidente será caso Lula permaneça na cadeira após 2026. No extremo, ele pode dizer – e foi isso o que o União sinalizou ao aceitar continuar no ministério do Turismo – que ele consegue viver (bem) em um Lula 4. O ex-presidente não.
Mas Bolsonaro, como todos já deveriam saber, tem sua própria maneira de ver o mundo e lançou Flávio.
Se o anúncio foi para negociar ou para valer, isso não importa agora. O que é relevante é que o efeito concreto foi mostrar que a família ainda tem a maior parte do eleitorado não lulista.
O fato é que se o nome de Flávio começar a se mostrar minimamente competitivo – e a dinâmica dos polos faz com que seja assim – o cenário vai se consolidar à revelia dos atores.
Além disso, é preciso se perguntar se o Centrão tem condição de ser competitivo com suas próprias forças.
Alguém pode dizer que sim, que as pesquisas mostram que o governador paulista Tarcísio de Freitas teria essa chance. Mas, quem é o padrinho, para não dizer criador, de Tarcísio? Ele teria condições de vencer Lula rompendo com Bolsonaro?
O que o sistema político quer, ele não pode. E isso tem sido a regra. Os partidos que estão no Congresso não queriam Lula em 2002, não queriam Dilma em 2014, não queiram Bolsonaro em 2018, não queriam Lula de novo em 2022 e não querem Flávio nem Lula em 2026.
O problema é que essa turma não tem voto e aí fica difícil.
Sem liderança de centro, a polarização é o leito natural da próxima corrida presidencial. Lula e Flávio se encaixam naturalmente nos papéis de candidatos e outras conjecturas vão ficando improváveis, um processo que vai acontecendo numa clássica dinâmica de formação de realidades.
