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    Faraó dos Bitcoins: advogada “dos milhões” fica só 24h presa na Colmeia

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    Um dos nomes na lista de alvos da Operação Kryptolaundry, deflagrada pela Polícia Federal na manhã de terça-feira (9/11), era o da advogada Kamila Martins Novais, 34 anos. Presa e encaminhada ao Presídio Feminino do Distrito Federal (PFDF), no Gama, a defensora mal teve tempo de esquentar o colchão da cela individual e foi solta nesta quarta-feira (10/12).

    A passagem pela unidade conhecida como “Colmeia” durou apenas 24 horas, após a chegada de um alvará de soltura expedido com rapidez que garantiu sua imediata libertação. Kamila foi detida mesmo já estando monitorada por tornozeleira eletrônica, medida imposta pela Justiça carioca em razão da investigação iniciada em 2021, quando o nome da advogada surgiu entre os principais operadores financeiros do esquema atribuído ao ex-garçom Glaidson Acácio dos Santos, o “Faraó dos Bitcoins”.

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    A Operação Kryptolaundry, braço direto  Kryptos, deflagrada no Rio de Janeiro em 2021, cumpriu 24 mandados de busca e apreensão e decretou nove prisões preventivas. Segundo a Receita Federal, 45 pessoas físicas e jurídicas são investigadas por compor uma rede de captação ilegal de recursos em criptoativos e lavagem de dinheiro atuante no Distrito Federal.

    Bloqueio milionário

    A Justiça determinou o bloqueio de até R$ 685 milhões, além do sequestro de imóveis urbanos, rurais e empreendimentos comerciais. O esquema teria movimentado mais de R$ 2,7 bilhões ao longo de cinco anos, prejudicando 62 mil investidores atraídos pela promessa de rendimentos de 10% ao mês. A ação ocorreu simultaneamente no Distrito Federal, Pará e Espanha, com apoio de cooperação internacional.

    Em 2021, Kamila e o marido, Felipe José Silva Novais, 43 anos, foram identificados como integrantes centrais do chamado “Núcleo Brasília”, responsável por expandir o esquema do Faraó dos Bitcoins na capital federal.

    De acordo com denúncia do Ministério Público Federal, o casal movimentou R$ 281,7 milhões por meio de duas empresas usadas para lavar valores — entre elas, o próprio escritório de advocacia da defensora.

    Durante buscas em 2021, a PF apreendeu planilhas detalhadas contendo carteiras de clientes e registros de custódia que revelaram a dimensão da atuação da dupla. No período analisado, Felipe e Kamila teriam recebido cerca de R$ 80 milhões de comissão, captado 3.222 clientes e alimentado a pirâmide financeira que prometia ganhos irreais.

    Riqueza meteórica

    O relatório da PF aponta que o casal operava no DF desde, pelo menos, 2017. A movimentação financeira identificada impressiona: entre 2016 e 2020, os Novais passaram de R$ 217 mil para quase R$ 16,9 milhões em transações bancárias. O patrimônio declarado pulou de R$ 244 mil para mais de R$ 2,28 milhões.

    Kamila, que em 2018 trabalhava como auxiliar de escritório, com salário de pouco mais de R$ 3,3 mil, teve aquilo que os investigadores chamam de “súbita evolução patrimonial”. Já Felipe, descrito como autônomo e atuante na venda de grãos, carros e terrenos, ingressou formalmente na GAS Consultoria, empresa de Glaidson, em 2018, um ponto de virada nas movimentações financeiras do casal.

    Apesar da soltura rápida da advogada, ela segue investigada por crimes como lavagem de dinheiro, organização criminosa, crimes financeiros e falsidade ideológica. O Metrópoles tentou contato com Kamila, mas não conseguiu localizar a advogada nem seus defensores.