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Feminicídio: 64% das mulheres mortas no DF sofreram violência doméstica

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Feminicídio: 64% das mulheres mortas no DF sofreram violência doméstica

Mais da metade das mulheres que foram vítimas de feminicídio no Distrito Federal nos últimos 10 anos já tinham sofrido violência doméstica antes de morrer. O dado consta no Estudo dos Suspeitos/Autores de Feminicídio Consumado no DF, elaborado pela Secretaria de Segurança Pública do DF (SSP-DF).

Desde 2015, ano em que a Lei do Feminicídio entrou em vigor, 226 mulheres foram mortas no DF. 144 delas (64%) sofreram violência doméstica antes de serem atacadas de maneira fatal.

Destas 144 vítimas, porém, apenas 48,1% havia registrado ocorrência policial ou depoimento em processo judicial apontando ter sido alvo de violência doméstica. Ou seja, 16% das mulheres que foram agredidas em casa e foram mortas em seguida não registraram formalmente as agressões.

Os dados comprovam a subnotificação em casos de violência doméstica no DF, o que, para a Secretaria, é “fator crítico na prevenção do feminicídio” e ressalta a importância da denúncia contra o agressor.

Ainda segundo a SSP-DF, a ausência de registro oficial em casos de violência doméstica “não deve ser interpretada como ausência de risco” e exige dos órgãos de proteção “uma atuação sensível e atenta a relatos informais e sinais indiretos de agressões”.

“A análise do histórico de violência doméstica evidencia que, embora uma parcela expressiva das vítimas não possua registros formais anteriores, 48,1% apresentavam histórico de agressões, identificado por meio de registro de ocorrência, depoimentos e elementos constantes em peças processuais. Quando consideradas também as vítimas que relatam episódios prévios de violência, ainda que sem formalização, esse percentual se eleva para 64%, apontando a subnotificação como um fator crítico na prevenção do feminicídio”, diz o levantamento.

O estudo compreende o período entre março de 2015 e agosto de 2025.

36% dos assassinos fizeram uso de droga

O mesmo compilado da SSP-DF aponta que 220 homens foram indicados como autores de feminicídio no DF nos últimos 10 anos. Do total, pelo menos 36,4% estavam sob efeito de substâncias ilícitas no momento do crime.

Entre os autores, 31,4% declararam fazer uso de álcool no momento do crime, enquanto 36,4% relataram o uso de drogas ilícitas. Dentre os autores que haviam informações sobre o uso de entorpecentes, destaca-se a cocaína (54%) e a maconha (38%).

O delegado Marcelo Zago Ferreira, coordenador da câmara técnica de monitoramento de homicídios e feminicídios da SSP-DF, aponta que também há subnotificação neste recorte de uso de drogas e álcool. Isso porque nem sempre é possível confirmar, ao longo da investigação, se o agressor havia consumido alguma das substâncias.

“A gente parte de um número mínimo. No estudo, no mínimo 31% estavam sob efeito de álcool e no mínimo 38% sob efeito de drogas. Mas esse percentual pode ser maior, porque muitas vezes essa informação não é coletada em nenhuma fase do processo”, explica Ferreira. “Não é sempre que o suspeito é submetido a perícia. Às vezes, a identificação do uso é simples, quando há embriaguez evidente. Em outros casos, não.”

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Casos de feminicídio

O Distrito Federal chegou a trágica marca de 26 feminicídios registrados em 2025. O número de crimes já ultrapassa a quantidade de casos ocorridos na capital do país durante todo o ano passado, quando 22 mulheres tiveram as vidas interrompidas em decorrência da violência de gênero.

Os dados fazem parte do Painel de Feminicídios, alimentado pela SSP-DF. Até a última atualização, de 19 de dezembro, do total de feminicídios registrados em 2025, 22 casos foram confirmados, enquanto quatro mortes ainda estão sob análise e podem ter a tipificação alterada.

O caso mais recente foi registrado em 5 de dezembro, dentro do 1° Regimento de Cavalaria de Guardas, no Setor Militar Urbano (SMU), em um quartel do Exército Brasileiro. A vítima é a cabo Maria de Lourdes Freire Matos, 25 anos.

Maria de Lourdes foi morta a facadas pelo então soldado Kelvin Barros da Silva, 21, que provocou um incêndio na sala onde a vítima foi morta e fugiu em seguida. Ele foi capturado horas depois, em casa, e está preso preventivamente desde então.

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