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    Fiesp critica sujeição do Congresso a lobbies e atuação do Centrão

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    O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes da Silva, criticou nesta quarta-feira (10/12) o “atual” Congresso Nacional, “que se mostra muito permeável a lobbies”. Ele afirmou ainda que o Centrão deu mais importância à pré-candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) ao Planalto do que à questão das alíquotas impostas pelos Estados Unidos ao Brasil. Por fim, defendeu maior transparência no repasse de recursos do Sistema S.

    Silva, que deixa o cargo este ano e será substituído pelo ex-presidente da entidade Paulo Skaf, reuniu-se em São Paulo com jornalistas, em sua última entrevista no cargo. Ele disse que lobbies têm prevalecido no país, “especialmente no atual Congresso Nacional, que se mostra muito permeável a eles”.

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    Para o presidente da Fiesp, a força dos lobbies compromete a discussão de temas cruciais para o desenvolvimento do país. “Falhamos ao tentar criar uma reforma tributária mais equânime”, citou, por exemplo.

    Em relação a esse tema, ele observou que a alíquota de referência do Imposto sobre o Valor Agregado (IVA) deveria ter ficado em torno de 20%. Ela, no entanto, atingirá, segundo as últimas estimativas, 28,5%. Tal patamar, alertou, pode servir de incentivo à sonegação. “Quanto maior a alíquota, maior o prêmio de quem sonega”, afirmou

    Estatização

    Silva acrescentou que “costuma brincar” dizendo que, para o Brasil, “é muito mais importante um programa de estatização do que um de desestatização”. Isso para acabar com “privilégios que se encastelaram” na estrutura do país. “Temos um número enorme de corporações que se apoderaram de nacos do Estado”, afirmou.

    Ainda sobre esse tema, o presidente da Fiesp observou que 45% do valor adicionado da indústria da transformação é pago ao governo sob a forma de impostos. No caso de outros setores, como o mineral e o agrícola, essa cota é inferior a 5%.

    Centrão

    No encontro com jornalistas, questionado sobre o eventual efeito na economia do projeto de lei que altera a dosimetria das penas, Silva voltou a censurar os políticos. Disse que os “líderes do Centrão tiveram mais pressa” em reagir à candidatura do senador Flávio Bolsonaro à Presidência do que na taxação sobre os produtos importados pelo Brasil, imposta pelo governo dos Estados Unidos.

    Sobre essa assunto, observou que os anos eleitorais são “sempre de indefinições”, com oscilações no câmbio, como a registrada no anúncio da pré-candidatura de Flávio Bolsonaro, na sexta-feira (5/12). “O mercado financeiro tende a achar que um candidato pode ser melhor para o Brasil do que outro”, afirmou. “Então, essas volatilidades vão existir, (os bancos) vão amplificar isso, porque é do papel deles para ganhar dinheiro nas ações de tesouraria, mas depois as coisas se acalmam.”

    Sistema S

    Por fim, o presidente da Fiesp também defendeu maior transparência no uso dos recursos do Sistema S, formado por nove instituições (como o Sesi e o Senai), administradas de forma independente por federações e confederações empresariais.

    Para Silva, o sistema tem um “propósito fantástico e importância enorme no Brasil”. Mas, não raro, “um político diz que vai sentar a faca” nele. “Isso acontece porque, provavelmente, ele (o político) acha que existem desperdícios. E onde eles estão esses desperdícios?”, questionou. “Principalmente, na distribuição da taxa de administração do Sistema S para as entidades patronais. E não se trata esse recurso com transparência.”

    Acórdão TCU

    Silva ressaltou que um acórdão do Tribunal de Contas da União (TCU), de 2024, estabeleceu que deve haver transparência na utilização dos recursos e eles têm de ser aplicados nas atividades fins. “As entidades (patronais) entendem que essa é uma interferência na liberdade sindical, mas não é”, afirmou. “Os recursos são fiscais, são do Estado, são públicos, portanto. A entidade patronal precisa existir, mas é fundamental que ela tenha transparência na aplicação de um recurso que é público ou sobreviva com recursos voluntários dos associados.” Ele lembrou que a regulamentação do acórdão do TCU está a cargo do Ministério do Trabalho e Emprego.

    Silva observou, contudo, que está “muito otimista” com o país. Acredita que o atual cenário geopolítico é favorável ao Brasil e defendeu investimentos maciços em educação. Citou ainda o que definiu como “oportunidades”, caso da exploração de reservas de terras raras ou de investimentos no setor de data centers. “E o Brasil vai andar muito mais para frente se tiver uma política monetária e tributária mais equânimes”, observou.