De família simples, os irmãos Luciano Alves da Silva e Cristiano Alves da Silva, que trabalham como porteiros em Balneário Camboriú (SC), foram alvos de golpes de Gustavo Real Rabelo, conhecido como o “Rei das Milhas”. Eles relataram ao Metrópoles como as suas vidas foram arruinadas após trabalharem para o golpista. Hoje, sofrem ameaças de morte do pai do “Rei das Millhas”.
Veja os relatos:
Os porteiros e a mãe deles, diarista, que sempre sobreviveram com muito esforço após a morte do pai vítima de câncer, viram a estabilidade financeira construída ao longo de anos de trabalho duro ser completamente arruinada por um esquema de estelionato atribuído ao “Rei das Milhas”.
Leia também
“Eu conheci Gustavo na academia e ele me ofereceu ajuda para pagar uma prestação do carro e como estava apertado, eu aceitei. Eu fazia a venda para eles e repassava o valor para ele”, explicou Cristiano.
O que parecia ser um bom negócio que mudaria a vida da família, começou a virar um pesadelo. “Gustavo começou a insistir que estava com produtos parados e as milhas iam expirar, aí eu comecei a vender mais para os clientes que se animaram com os valores e confiaram em mim”, relatou.
Apesar da demora na entrega dos produtos, os irmãos resolveram dar um voto de confiança. “Gustavo pediu para eu entregar meu carro porque iriam chegar mais produtos para a gente. Ele mostrou uma folha dos Correios e da Receita Federal falando que os produtos estavam parados e aí achamos que era verdade. Como os clientes estavam ameaçando meu irmão porque ele era o porta-voz, eu tive que entregar o meu carro. O Gustavo fez uma carta de confissão de dívida e sumiu”, contou Luciano.
O golpe envolveu também a família do Rei das Milhas. “Depois disso, a gente pesquisou sobre ele e percebeu que ele era golpista. Todos da família dele são envolvidos nos golpes. Eles dizem que não, mas essão. O pai de Gustavo entrou em contato com a gente pedindo para não fazer boletim de ocorrência”.
Ameaças
“O pai dele vive nos ameaçando e disse que se formos procurar nossos direitos vai se incomodar uma vez só com a gente e já ameaçou me matar”, informou Luciano.
Além do prejuízo financeiro, Cristiano alega que sofreu depressão e já teria pensado em atentar contra a sua própria vida.
“O Gustavo simplesmente fugiu de Santa Catarina e eu não encontro mais ele. O pai dele veio e fez uns pagamentos de uma parte do valor, mas não comporta o valor total. Minha vida se arruinou, estou com depressão, perdi quase 15kg. Minha vida tem sido um verdadeiro desastre e já pensei em suicídio duas vezes”, disse Cristiano em forte relato.
“Venho aqui pedir ajuda de vocês para localizar o Gustavo para que devolvam a minha vida, do meu irmão e da minha mãe”.
Início do golpe
- O contato com Gustavo Real Rabelo ocorreu em 8 de maio, quando ele ofereceu um serviço que parecia vantajoso: pagamento de boletos com até 50% de desconto, supostamente por meio de um sistema de milhas aéreas.
- Com salário modesto de porteiro, a vítima decidiu testar o serviço pagando uma parcela do carro no valor de R$ 500. O boleto não foi compensado, mas Gustavo devolveu o dinheiro e ainda quitou a prestação, alegando “cortesia”, o que ajudou a criar confiança.
- Na sequência, vieram ofertas de eletrônicos “totalmente lícitos”, com nota fiscal e entrega rápida. Uma TV de 65 polegadas foi comprada e entregue. O irmão da vítima, Luciano Alves, adquiriu outra TV, de 55 polegadas, que também chegou corretamente. Tudo parecia regular.
- Animado com as entregas e acreditando estar diante de um negócio sério, o porteiro aceitou um convite para atuar como vendedor da empresa Mais Milhas, registrada em nome de Wilson Real Rabelo, pai de Gustavo.
- A promessa de renda extra soava como esperança para quem sempre viveu no limite do orçamento.
- Diversos produtos foram vendidos: iPhones 16 Pro Max, TVs e PlayStation 5. No início, as mercadorias chegavam, reforçando a credibilidade do esquema. Ao todo, cerca de 25 clientes fecharam compras.
- Desesperada, a vítima ouviu que tudo seria resolvido novamente “com milhas”. Nada foi pago. Os produtos nunca chegaram. Em uma última versão, Gustavo alegou que os Correios teriam desviado as mercadorias e que aguardava o pagamento de um seguro, apresentando mais documentos falsificados.
Fuga e histórico criminal
O prejuízo estimado apenas dessa família ultrapassa R$ 165 mil em mercadorias, valor devastador para quem vive de salário mínimo e trabalho informal. Gustavo Real Rabelo fugiu de Balneário Camboriú. Segundo as vítimas, ele acumula cerca de 84 boletins de ocorrência por estelionato. As Polícias Civis do Distrito Federal (PCDF) e de Santa Catarina (PCSC) investigam o esquema, que teria feito vítimas em vários estados.
5 imagens


Fechar modal.![]()
1 de 5
Material cedido ao Metrópoles
2 de 5
Material cedido ao Metrópoles
3 de 5
Material cedido ao Metrópoles
4 de 5
Material cedido ao Metrópoles
5 de 5
Material cedido ao Metrópoles
O golpe não se restringia a eletrônicos. A empresa também oferecia pagamento de boletos com desconto, passagens aéreas e pacotes de viagens internacionais. Uma família chegou a perder R$ 150 mil em uma viagem para a Alemanha que nunca existiu.
Enquanto vítimas amargavam dívidas e desespero, Gustavo ostentava uma vida de luxo. Investigações apontam que o dinheiro dos golpes foi convertido em patrimônio, incluindo veículos de alto padrão. Em uma operação realizada em março de 2024, a polícia apreendeu:
- BMW 540i
- BMW X5
- Land Rover
- Documentos e equipamentos eletrônicos
- Bloqueios judiciais foram realizados, e o prejuízo total às vítimas já ultrapassa R$ 1,5 milhão, segundo a Delegacia de Defraudações de Santa Catarina.
O outro lado
A reportagem tentou contato com Gustavo Real Rabelo por ligações e mensagens, mas não obteve resposta. O espaço segue aberto para manifestações.
