Alvo da nova fase da Operação Sem Desconto, deflagrada pela Polícia Federal nesta quinta-feira (18/12), a lobista Roberta Luchsinger se reuniu com o atual ministro da Saúde, Alexandre Padilha, fora da agenda oficial.
Roberta é apontada como o elo entre Fábio Luís Lula da Silva, o “Lulinha”, e Antônio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”. Na decisão que autoriza a operação, o ministro André Mendonça relaciona vários pagamentos de R$ 300 mil feitos pelo “Careca” à firma de Roberta. Num diálogo, ele diz que um dos pagamentos tinha como destinatário “o filho do rapaz”.
O encontro de Renata com Padilha ocorreu no dia 19 de janeiro de 2023, no Palácio do Planalto, quando o petista ainda era ministro da Secretaria de Relações Institucionais.
“Com o amigo e ministro de Relações Institucionais Padilha hoje no Palácio do Planalto!”, escreveu Roberta Luchsinger em uma postagem no X (antigo Twitter).
O encontro, no entanto, não consta na agenda oficial do ministro para aquele dia.
Com o amigo e ministro de relações institucionais Padilha hoje no palácio do Planalto ! pic.twitter.com/4o7XacH1id
— Roberta Luchsinger (@RoLuchsinger) January 20, 2023
A agenda pública de Padilha para o dia 19 de janeiro de 2023 registra encontros com os deputados federais Rubens Júnior (PT-MA), Fred Costa (PRD-MG) e Reimont (PT-RJ), além da deputada estadual por São Paulo Thainara Faria (PT) e da senadora Leila Barros (PDT-DF).
Há registro também de encontros com a bancada do PT no Piauí e com representantes do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba (SP). Mas nada de Roberta Luchsinger. As informações da agenda de Padilha são públicas e podem ser consultadas no sistema e-Agendas.
Procurado, Padilha disse, em nota, que o encontro não teve qualquer desdobramento dentro do governo. “Roberta Luchsinger registrou imagem de sua visita ao palácio, na Secretaria de Relações Institucionais, no início de 2023, após ter sido pré-candidata a deputada federal por São Paulo, não havendo nenhum desdobramento, dentro do governo, do encontro”, diz o texto.
Até o momento, as investigações apontam Roberta Luchsinger como o elo entre Fábio Luís Lula da Silva e o “Careca do INSS”.
O empresário teria contratado Lulinha para abrir portas no governo federal em prol de uma de suas empresas, a Cannabis World, justamente na área da saúde. A Cannabis World atua na produção de fármacos à base de cannabis (maconha).
“Os elementos colhidos durante o transcurso das investigações indicam que a investigada matinha sociedade de fato com ANTÔNIO CAMILO em searas de atuação diversas, especialmente na área de saúde pública, com atuação junto à ANVISA e Ministério da Saúde”, diz um trecho da decisão que autorizou a operação da PF desta quinta.
Lobista esteve no Ministério da Saúde
O único registro formal de reuniões de Roberta Luchsinger no governo Lula até o momento é do dia 23 de outubro de 2023. Na ocasião, ela esteve no Ministério da Saúde para se encontrar com o então secretário de Atenção Primária da pasta, Nésio Fernandes.
Roberta aparece como “relações institucionais”. Estava acompanhada de João Paulo Campi, presidente da Duosystem, empresa especializada em sistemas de informática para a gestão da área de saúde.
Segundo a coluna apurou, a Duosystem queria vender uma solução informatizada de gestão de leitos hospitalares para o Ministério da Saúde. No entanto, a pasta já estava desenvolvendo internamente um produto similar.
A Duosystem é mencionada na decisão judicial do ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal, que autorizou a ação da PF nesta quinta-feira (18/12).
“Em mensagem de 08/08/2025, ROBERTA demonstra grande preocupação pelo fato de ANTÔNIO CAMILO (o ‘Careca do INSS’) constar como representante da DUOSYSTEM, empresa de tecnologia em saúde para quem ela teria prestado consultoria”, diz um trecho da decisão.
Como mostrou o Metrópoles, ela esteve no Ministério da Saúde, fora da agenda oficial, por diversas vezes. Nesses encontros, o objetivo era promover a Cannabis World.
Neta de banqueiro e doadora de Lula
Neta de um ex-acionista do banco Credit Suisse, Roberta foi uma das principais doadoras da campanha de Lula em 2022. Segundo um colaborador da PF, ela teria intermediado a relação entre o filho do presidente e Antunes na prospecção de um negócio de venda de canabidiol para o Sistema Único de Saúde.
Para a PF, Luchsinger é “integrante vinculada ao núcleo político da organização criminosa liderada por Antônio Carlos Camilo Antunes”. A corporação pediu o monitoramento dela com tornozeleira eletrônica, medida que foi autorizada por André Mendonça. O ministro determinou a entrega do passaporte e proibiu que ela deixasse o país ou se comunicasse com outros investigados.
“Sua atuação se revela essencial para a ocultação de patrimônio, movimentação de valores e gestão de contas bancárias e estruturas empresariais utilizadas como instrumentos da lavagem de capitais”, diz um trecho da decisão de André Mendonça.
Na decisão, Mendonça também reproduziu um áudio de WhatsApp de Roberta para o Careca do INSS, no qual ela faz menção direta a Lulinha. “Na época do Fábio falaram de Friboi, de um monte de coisa, o (sic) maior… igual agora com você”, diz ela na mensagem de 5 de maio de 2025.
A referência é a um boato que circulou na internet em 2015, atribuindo falsamente a Lulinha a propriedade da marca de carnes Friboi. Na verdade, a Friboi pertence ao frigorífico JBS, dos irmãos Wesley e Joesley Batista.