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    Método criado por brasileiros prevê deslizamentos com mais precisão

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    Pesquisadores brasileiros desenvolveram um método estatístico para prever com maior precisão o risco de deslizamentos de terra causados por chuva intensas. O avanço feito pela Universidade de São Paulo (USP) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) foi publicado na revista científica Scientific Reports no final de outubro.

    O método mais utilizado atualmente é o processo de hierarquia analítica (AHP, na sigla em inglês). Nele, são listados os fatores de risco, incluindo proximidade com rios e estradas, tipo de relevo, inclinação do terreno e outros. Em seguida, especialistas comparam todos os elementos para decidir qual tem maior relevância, uma técnica que pode gerar subjetividade e causar ambiguidades.

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    A nova abordagem, chamada de AHP Gaussiano, é uma versão melhorada da anterior. Ao invés de utilizar a opinião humana, ela usa métodos estatísticos, como a curva de Gauss, para avaliar o peso de cada fator, o que reduz a possibilidade de erro.

    “Embora os ganhos quantitativos sejam modestos, o método apresenta vantagens significativas: reduz ambiguidades e apresenta maior alinhamento com o comportamento real dos deslizamentos no território”, aponta o primeiro autor do estudo, Rômulo Marques-Carvalho, em entrevista à Agência Fapesp.

    Para testar a eficácia, o AHP Gaussiano foi aplicado em uma situação real, os deslizamentos ocorridos em São Sebastião (SP) em fevereiro de 2023. Foram analisadas imagens aéreas feitas após os desastres, com dados dos locais onde o processo de descida da terra começou e das áreas afetadas pelo fenômeno natural.

    Segundo os resultados, a nova abordagem apontou que 26,31% da área tinha risco muito alto de deslizamentos, enquanto a tradicional estimou 23,52%. Embora a diferença pareça pequena, os pesquisadores apontam também para a importância de avaliar cada fator individualmente, como é feito no novo método.

    Enquanto a variação da inclinação das encostas e a posição delas era mais relevante na avaliação mais antiga, as formas do relevo na superfície (geomorfologia) e a distância da área afetada em relação a rios e estradas eram mais decisivas no AHP Gaussiano.

    “A proximidade de estradas é importante porque sua construção em locais de relevo acidentado pressupõe a execução de obras de movimento de terra, como cortes e aterros, que geralmente levam a uma instabilidade das encostas”, explica a coautora do estudo, Cláudia Maria de Almeida.

    De acordo com os pesquisadores, além de monitorar e prevenir deslizamentos de terra, o método pode ajudar a fazer o mesmo com incêndios, desmatamento, rebaixamento de solo e desertificação. “O método é simples de aplicar. Uma prefeitura precisaria apenas dos dados geoespaciais básicos e de um computador comum com QGIS (software livre de análise de dados georreferenciados)”, destaca Marques-Carvalho.

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