O Natal de 2025 encerra um ciclo inicial de três anos para o bolsonarismo. Se em outros tempos as fronteiras eram vistas como escudos, este fechamento de ano consolidou um “efeito dominó”. O que vemos agora é o fim da hospitalidade estrangeira, celas internacionais e um movimento desesperado de sobrevivência política que tenta saltar por cima das grades.
A imagem que define a semana é a de Silvinei Vasques. O ex-diretor da PRF, condenado a mais de 24 anos por tentativa de golpe e por usar a estrutura policial para interferir nas eleições de 2022, protagonizou a fuga mais comentada da temporada. Na madrugada de 25 de dezembro, ele rompeu a tornozeleira eletrônica e cruzou a fronteira paraguaia, tentando chegar a El Salvador. A aventura terminou no Aeroporto de Assunção em 26 de dezembro; detido com documentos falsos, Silvinei foi entregue às autoridades brasileiras e já se encontra no Complexo da Papuda.
Em Roma, a situação de Carla Zambelli atingiu o ápice da tensão. Condenada a 10 anos pela invasão dos sistemas do Judiciário — onde forjou um mandado de prisão contra Alexandre de Moraes —, a deputada vive um isolamento severo no presídio feminino. Relatos confirmados por sua defesa indicam que Zambelli foi vítima de agressões físicas por outras detentas em pelo menos duas ocasiões. O clima hostil forçou o pedido de transferência de cela por risco à integridade física. No Brasil, Zambelli renunciou ao cargo na última sexta-feira (26) para tentar preservar seus direitos políticos, embora permaneça presa aguardando o processo de extradição.
Nos Estados Unidos, o clima é de incerteza para os “moradores de Miami”. Alexandre Ramagem, ex-diretor da Abin, é oficialmente um foragido, condenado a 16 anos pela trama golpista. O golpe de misericórdia veio em 19 de dezembro, quando a Câmara cancelou os passaportes diplomáticos de Ramagem e de Eduardo Bolsonaro. Eduardo, que perdeu o mandato por excesso de faltas enquanto fazia política nos EUA, agora se vê sem imunidade e sem documentos oficiais. Sem o “escudo de Brasília”, ambos dependem da boa vontade da justiça americana para não serem deportados.
No meio deste turbilhão jurídico, a política tenta se reorganizar. No dia 25 de dezembro, uma carta de Jair Bolsonaro — escrita à mão e lida por seu filho em frente ao hospital onde o ex-presidente (atualmente preso) passou por cirurgia — oficializou Flávio Bolsonaro como seu herdeiro político para 2026. A movimentação tenta manter o controle do espólio político, mas esbarra na postura de Tarcísio de Freitas. O governador de São Paulo mandou seu recado mais recente: declarou-se “fiel, mas não submisso”, sinalizando que o figurino de presidenciável está pronto, com ou sem o aval exclusivo do clã Bolsonaro.
O ano termina com a justiça brasileira provando que a distância geográfica é apenas um adiamento do inevitável. O cerco fechou, e o mapa da direita para 2026 começa a ser desenhado não somente em Brasília, mas também nas salas de visita dos presídios.
