Conta a lenda que o jornalista Roberto Marinho, fundador das Organizações Globo, costumava dizer aos seus colegas de trabalho em tom de advertência jocosa:
– Se um dia eu lhes faltar…
Espero que este meu último comentário de 2025 não soe como presságio de mau gosto ou desejo velado. Porque não é nem uma coisa nem outra.
Simplesmente é um dado da realidade que não pode ser ignorado: o estado de saúde de Bolsonaro inspira severos cuidados.
Na semana passada, ele submeteu-se à oitava cirurgia desde a facada que levou em setembro de 2018. Operou-se de uma hérnia.
De lá para cá, voltou mais três vezes à mesa de cirurgia do hospital DF-Star, de Brasília, devido a crises de soluços intermitentes.
Não cessam os picos de pressão. A alta prevista foi adiada. A essa altura, nem a prisão domiciliar poderá lhe fazer bem.
Torço para que ele se recupere e possa pagar pelos muitos crimes que cometeu nos seus quatros anos como presidente.
Mas, e se isso não acontecer? E se, em breve, ele faltar à sua família e aos muitos brasileiros que ainda o cultuam?
Como a eventual morte de Bolsonaro impactaria a eleição do próximo ano? É por esse caminho que me aventuro.
Às vésperas de sua morte, em agosto de 1954, a popularidade de Getúlio Vargas estava ao rés-do-chão.
Ele governou o país como ditador de 1930 a 1945, e governava há dois anos como presidente eleito pelo voto popular.
Para não ser deposto por um novo golpe militar, em meio ao mar de lama que ameaçava sufocar seu governo, Vargas suicidou-se.
O mesmo povo que até na madrugada do dia 24 de agosto clamava por sua saída chorou sua morte e ocupou as ruas do Rio.
Jornais que se opunham ao governo foram empastelados. Registraram-se tumultos em todas as grandes cidades do país.
Jamais se vira multidão como a que acompanhou seu corpo até o avião que o levou para ser enterrado no Rio Grande do Sul.
Juscelino Kubitschek elegeu-se presidente em 1955 capitalizando a popularidade do legado nacional desenvolvimentista de Vargas.
A repentina saída de cena de Bolsonaro consolidaria de vez a candidatura de Flávio a presidente, seu herdeiro.
O Centrão, que hesita em apoiar Flávio, acabaria arrastado pelo vagalhão do bolsonarismo revivido. Bem como expressiva parcela da direita que se diz civilizada.
Mas alguns pensam o contrário. As viúvas são protagonistas dos velórios. E Michelle teria mais chances de se eleger do que Flávio.
É o que indicam as pesquisas de opinião. Se Flávio herda os votos de Bolsonaro, herda sua elevada rejeição. Michelle, não. Além dos evangélicos, ela atrairia o voto das mulheres.
Lula prefere enfrentar Flávio com Bolsonaro vivo.
Feliz Ano Novo para todos os leitores deste blog, que fará uma pausa em janeiro e só retornará em 2 de fevereiro, por sinal dia de Iemanjá. Odoyá!
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