“I have a dream” (Eu tenho um sonho), disse o pastor Martin Luther King em discurso nas escadarias do Lincoln Memorial, em Washington, no dia 28 de agosto de 1963, ao defender a união e a coexistência entre negros e brancos. No ano seguinte, ele ganhou o Prêmio Nobel da Paz. Quatro anos depois, foi assassinado dentro de um hotel em Memphis, no estado do Tennessee.
“Eu tenho um preço”, disse, ontem, o senador Flávio Bolsonaro, a respeito de sua candidatura a presidente no próximo ano, lançada por ele mesmo na sexta-feira com o aval do pai, que cumpre pena de 27 anos e três meses de prisão por tentativa de golpe de Estado e abolição violenta da democracia. Flávio renunciará ao seu sonho se Bolsonaro for anistiado e “ficar livre nas urnas”.
Isso não vai acontecer. Primeiro, porque o Congresso resiste a aprovar uma anistia para os condenados de 8 de janeiro de 2023. Segundo, porque os partidos do Centrão querem se ver livre de Bolsonaro e dos seus filhos. Terceiro porque o Supremo Tribunal Federal é contra. De resto, a maioria dos brasileiros também é. Cerca de 54% deles acham justa a prisão de Bolsonaro.
Qual foi o gênio da raça que aconselhou Flávio a admitir a retirada de sua candidatura apenas 48 horas depois de tê-la anunciado? Certamente não foi Carlos, vulgo Carluxo, que ontem mesmo saiu em socorro do irmão em precoce isolamento político. Sem citar nomes, em mensagem postada nas redes sociais, Carluxo partiu para o ataque aos demais líderes da direita:
– Os ‘isentões’ e os ‘limpinhos’, aqueles que diziam lutar pela ‘união da direita’, hoje já não querem mais união alguma. Por quê? Porque muitos se revelaram aquilo que sempre foram: putinhas do sistema. Estão mais uma vez sendo desmascarados – e ainda haverá mais revelações. O tempo mostra quem está do lado da verdade e quem apenas representava um papel conveniente.
A resposta foi o silêncio. Ninguém passou recibo. Muito menos Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, o sujeito oculto da mensagem de Carluxo. Horas antes, Flávio havia elogiado Tarcísio:
– O Tarcísio é um cara fora de série. Depois da conversa que eu tive com o meu pai, a primeira pessoa com quem quis falar foi o Tarcísio. A reação dele foi a que eu também teria se fosse o contrário. Hoje, para mim, ele é o principal nome do nosso time.
Se é o principal, Tarcísio deveria ser o candidato do bolsonarismo a presidente. Mas, por ora, é Flávio, e não se sabe até quando. Ele é o mais rejeitado dos eventuais herdeiros do espólio de votos de Bolsonaro. Para o eleitorado brasileiro em geral pesquisado pelo Datafolha, apenas 8% consideram que Flávio deveria ser o nome escolhido pelo pai. Já 22% preferem Michelle.
No campo estritamente bolsonarista do eleitorado, Michelle alcança 35% da preferência, Tarcísio 30%, Eduardo 14% e Flávio somente 9%. Michelle e Eduardo mantêm seu apoio a Flávio. Tarcísio segue calado à espera de que alguma coisa tire Flávio do seu caminho. A direita e a esquerda encomendaram pesquisas para medir o real impacto da candidatura de Flávio.
Fim de ano animado, esse, para os que acompanham e gostam de política.
Todas as Colunas do Blog do Noblat no Metrópoles
