A equipe de defesa jurídica de Benjamin Netanyahu considera que o pedido de indulto para que o processo contra o primeiro-ministro seja encerrado é uma decisão certeira, mesmo sem saber qual será a posição final do presidente Isaac Herzog sobre o assunto.
A avaliação em Israel é de que o presidente deverá levar semanas até anunciar a decisão. O fato é que este assunto passou a dominar o debate político no país já bastante polarizado entre as forças de apoio e oposição ao premiê.
Cabe ao presidente de Israel tomar a decisão de aceitar ou negar o pedido do chefe de governo. A imprensa israelense avalia que o processo deve levar semanas, e fontes próximas ao presidente consideram que pode haver uma negociação para encontrar uma saída.
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Aparentemente, Netanyahu sinalizou alguns caminhos no próprio pedido formal: “Conceder um indulto permitirá ao primeiro-ministro trabalhar para sanar a divisão do país e até mesmo lidar com questões adicionais, como o sistema jurídico e a mídia – questões que ele está atualmente impedido de abordar devido ao julgamento de seu caso”, escreveu o advogado de Netanyahu no documento de 111 páginas em que solicita o indulto.
A chave para a compreensão do caso está em “lidar com questões adicionais, como o sistema jurídico e mídia”. A frase pode ser entendida como uma menção a duas das questões polêmicas recentes de Israel: o projeto de Reforma do Judiciário, o grande tema que mobilizava a sociedade antes dos ataques terroristas de 7 de outubro de 2023; e o projeto de lei para a regulamentação da mídia.
Ambos os temas são pautas polêmicas colocadas na agenda do dia em Israel pela coalizão de Netanyahu. O primeiro-ministro parece sugerir estar disposto a negociar os dois assuntos.
Segundo uma fonte próxima a Isaac Herzog citada pela imprensa local, as exigências presidenciais em troca deste “perdão” não seriam modestas: entre as possibilidades, a exigência de que Netanyahu se retire da vida política, encerrando, portanto, sua longa carreira; a antecipação de eleições gerais; a interrupção do projeto de Reforma do Judiciário; e, por fim, a criação de uma comissão de Estado – não de governo – para investigar as falhas internas em Israel antes e durante os ataques do Hamas de 7 de outubro.
Sociedade: sem anistia
A sociedade já se organiza em protestos em frente à casa do presidente Isaac Herzog, em Tel Aviv, com cartazes que dizem “não haver possibilidade de concessão de anistia a quem destruiu o país”.
Em relação aos atores políticos, Naftali Bennet, ex-primeiro-ministro e um dos favoritos nas pesquisas para as eleições do ano que vem, disse ser favorável a um acordo.
“Nos últimos anos, Israel foi levado ao caos e à beira de uma guerra civil que ameaça a própria existência do país. Para sair do caos, apoiarei um acordo vinculativo que inclua uma aposentadoria respeitosa (de Netanyahu) da vida política, juntamente com a conclusão do julgamento. Dessa forma, poderemos deixar isso para trás e reconstruir o país juntos”.
O atual líder da oposição Yair Lapid, que ocupou o cargo de primeiro-ministro por um período breve durante o chamado “governo da mudança” formado pela oposição em 2021, seguiu o mesmo caminho. Mas foi ainda mais duro com Netanyahu.
“Não se pode conceder indulto sem que ele admita culpa, uma expressão de remorso e um afastamento imediato da vida política”, disse.
Vale lembrar que Netanyahu é julgado desde 2020 por acusações de suborno, fraude e quebra de confiança.
Narrativa de extrema direita
O primeiro-ministro tenta estabelecer uma narrativa de que o processo é um complô liderado pelo o que ele chama de “Estado profundo”, uma referência a um termo que ganhou força nas redes sociais em todo o mundo e que é usado com frequência em especial por políticos da extrema direita.
Na versão local, não apenas o premiê, mas também membros de sua coalizão de governo buscam colocar a responsabilidade por esse suposto complô na imprensa (considerada de esquerda pelos ministros de governo) e na Suprema Corte israelense.
A estratégia do primeiro-ministro
Segundo fontes citadas pelo Canal 12 de Israel, o círculo próximo a Netanyahu considera que a situação é positiva seja lá qual for o posicionamento do presidente de Israel, Isaac Herzog.
A avaliação é que, se Herzog conceder o indulto, a situação estará resolvida com o fim das acusações e do julgamento.
Já se Herzog pesar a mão numa eventual negociação com Netanyahu forçando-o, por exemplo, a confessar culpa, o plano é construir uma narrativa diferente: de que o presidente busca condenar o primeiro-ministro por um caminho fora dos meios judiciais.
Se o presidente não conceder o indulto, essas fontes dizem que o plano é ir a público dizer que a “elite jurídica, inclusive Herzog, está mobilizada para condená-lo a todo custo”. Por fim, fontes próximas de Netanyahu consideram ser impossível que ele seja atingido seja lá qual for a decisão do presidente de Israel.
EUA querem o fim de operações de Israel na Síria
O governo dos Estados Unidos está preocupado com as ações israelenses na Síria, segundo fontes citadas pela imprensa local. O presidente Trump quer manter a estabilidade do governo do presidente sírio, Ahmed al-Sharaa, o que inclui também esforços para um acordo entre Israel e Síria.
Por isso, segundo essas fontes, Washington teme a forma de atuação de Israel no país, como a operação terrestre conduzida na semana passada contra terroristas da Jamaa Islamiya que resultou também na morte de civis sírios. Três soldados de Israel foram feridos em estado grave ao serem alvejados por tiros a curta distância durante os confrontos.
Dois altos funcionários norte-americanos disseram que o incidente prejudicou o progresso recente nas tentativas de levar Síria e Israel ao estabelecimento de um novo pacto de segurança. Os Estados Unidos têm a expectativa de que este venha a ser o primeiro passo para a Síria aderir aos Acordos de Abraão no futuro.
“A Síria não quer problemas com Israel. Ela não é o Líbano. Mas Bibi vê fantasmas em todo lugar. Estamos tentando dizer que ele precisa parar porque, se isso continuar, será autodestrutivo: Netanyahu perderá uma enorme oportunidade diplomática e transformará o novo governo sírio em um inimigo de Israel”, disse um alto funcionário norte-americano.
Autoridades dos EUA citadas de forma anônima disseram que foram surpreendidas pela operação e alegaram que Israel não informou previamente o governo Trump. Também disseram que Israel não notificou os sírios por meio dos canais de coordenação militar, como havia feito no passado, e não permitiu que as forças de segurança sírias lidassem com os suspeitos por conta própria.
Já autoridades israelenses disseram exatamente o oposto: que os sírios foram comunicados por meio de canais de inteligência e que os terroristas do grupo Jamaa Islamiya planejavam ataques contra Israel.
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