Quando o mercado começa a balançar forte, é natural que bata aquela sensação de desconforto. Tudo parece incerto, as notícias se multiplicam e a vontade de fazer alguma coisa para proteger o dinheiro vira quase um instinto.
Mas, é justamente nesses momentos que a calma e a estratégia fazem toda a diferença. Construir uma carteira de investimentos resiliente não é exercício de futorologia ou prova de sorte: trata-se de estar preparado para atravessar períodos turbulentos sem perder o foco nos seus objetivos de longo prazo. E, acredite, esses momentos podem até trazer oportunidades valiosas para quem souber enxergá-las e adequá-las à sua realidade.
A primeira coisa que você precisa entender sobre volatilidade é que ela faz parte do jogo. Sempre fez e sempre vai fazer. Não existe mercado que suba o tempo todo, sem pausas ou correções. O segredo está em montar uma carteira que não entre em pânico quando as coisas apertam.
E como fazer isso? Diversificação é a resposta mais óbvia. Mas, não basta qualquer tipo de diversificação. Não adianta ter dez, vinte ou trinta ativos que se comportam praticamente da mesma forma diante dos vai e vens do mercado. É preciso buscar investimentos com baixa correlação entre si: de maneira simplificada, isso significa que enquanto um sofre, outro pode estar se mantendo firme ou até subindo.
Conforme explicamos recentemente, montar uma carteira diversificada, com baixa correlação entre os ativos que a compõe, é peça fundamental para atingir a melhor combinação entre risco e retorno para os seus investimentos no longo prazo.
E como isso funciona, efetivamente? Pensem em um mix de ativos: diferentes classes de ativos, diferentes ativos entre si. Renda fixa, ações domésticas, ações globais, fundos imobiliários ou até commodities. De maneira simplificada, a chave aqui é identificar um conjunto no qual cada componente responderá de forma diferente aos mesmos eventos – sendo essa dinâmica a que protegerá o conjunto.
As armadilhas do curto prazo e da nossa mente
Outro elemento essencial para manter uma carteira equilibrada e sustentável no longo prazo é não tomar decisões no calor do momento. Quando parece que tudo está caindo (e, por vezes, efetivamente quase tudo está mesmo), vender parece a saída mais segura.
Porém, na prática, essa é uma das armadilhas mais perigosas.
Como detalhamos nesse relatório recente, a aversão a perda é uma das principais armadilhas comportamentais enfrentadas por investidores. Assim, por temermos mais a perda do que ansiamos os ganhos (ou acreditamos na estratégia de longo prazo), deixamos de perceber que – em alguns momentos – não tomar risco pode ser uma atitude extremamente arriscada.
Na vida real: ao primeiro sinal de baixa, corremos para concretizar prejuízos, acreditando poder minimizá-los – antes mesmo de considerar a possibilidade de recuperá-los quando o mercado virar. E, pior…quando realmente decidimos voltar, procuramos “resultados passados para comprovar o futuro”, o que tende a levar-nos a entrar justamente nos momentos menos vantajosos – ou seja, mais caros.
Essas e outras armadilhas comportamentais tornam ainda mais essencial a construção de portfólios diversificados, ajustados aos seus objetivos e perfil e – dentro desse contexto, resilientes aos movimentos de mercado.
Por isso, ter um plano claro desde o início, com metas definidas e prazos realistas, é tão importante. Ele nos ajudará a não cair nessas e outras armadilhas da mente, que tendem a ganhar força especialmente em momentos de alta volatilidade – como provavelmente o ano que nos espera.
Não só de cautela se vive um período incerto
Ainda driblando as armadilhas de nossa mente, vale lembrar que períodos de volatilidade também podem trazer oportunidades. Afinal, quando os preços caem, ativos de qualidade podem ficar com preços atrativos, beneficiando aqueles com disciplina e foco no longo prazo – que conseguem aproveitar esses momentos para reforçar posições ou diversificar.
Não se trata de tentar acertar o fundo do poço, mas sim de manter a consistência e aproveitar boas oportunidades quando elas surgem. Além disso, revisar periodicamente a alocação da carteira, rebalanceando quando necessário, ajuda a manter o portfólio alinhado aos seus objetivos e isso é especialmente importante depois de grandes movimentos de mercado.
No fim das contas, um portfólio resiliente é aquele que permite a você continuar investindo mesmo quando tudo parece incerto. É sobre ter a tranquilidade de saber que sua carteira foi construída para enfrentar crises, minimizar perdas e ainda capturar oportunidades.
E lembre-se: diversificar, manter a disciplina e focar no longo prazo são os pilares que vão te ajudar a atravessar qualquer tempestade com mais segurança e confiança.
E por falar em longo prazo, no próximo artigo vamos conversar sobre um dos objetivos financeiros mais importantes da vida: a aposentadoria. Afinal, todo esse planejamento, diversificação e disciplina têm um propósito maior — garantir que você possa viver com tranquilidade e segurança no futuro.
* Rachel de Sá, estrategista de investimentos do Research XP
