A Operação Anansi, deflagrada nessa quarta-feira (10/12) pela Polícia Federal (PF) em parceria com o Ministério Público Federal, não atingiu apenas a rota internacional de cocaína operada por pescadores brasileiros.
Ela chegou ao núcleo financeiro da organização criminosa, desarticulando um esquema de lavagem de dinheiro que movimentou cerca de R$ 50 milhões em contas e bens identificados, parte do volume de R$ 1 bilhão de receita gerado pelo tráfico em quatro a cinco anos de atividade.
A estratégia do grupo, segundo as investigações, combinava negócios legítimos, empresas de fachada, “laranjas” e a compra de patrimônio de alto valor para transformar o dinheiro do crime em riqueza aparentemente lícita.
Fachadas e laranjas
A posse de um estabelecimento regular, como uma peixaria, facilitava a mistura entre capital ilícito e receitas provenientes de atividades legais, permitindo que o dinheiro do tráfico fosse incorporado ao movimento financeiro comum do negócio.
Além disso, integrantes da organização utilizavam terceiros para registrar bens, evitando que a propriedade dos ativos apontasse diretamente para os operadores da rota internacional.
As apreensões feitas durante a operação ilustram o padrão de vida proporcionado pelos lucros do esquema. Entre os itens confiscados estão veículos de luxo, como um Porsche apreendido em Goiânia, além de tratores e máquinas de alto custo.
A força-tarefa
A operação cumpriu 22 mandados de busca e apreensão e 10 de prisão preventiva, incluindo a captura de três brasileiros que estavam na lista vermelha da Interpol.
Para os investigadores, a análise dos celulares dos principais envolvidos será essencial para rastrear transações financeiras, identificar a cadeia de laranjas utilizada e detalhar o alcance real do esquema.
O bloqueio de aproximadamente R$ 50 milhões e a apreensão de bens considerados de alto padrão têm efeito direto na desarticulação da estrutura criminosa.
Como funcionava o esquema
O modelo operacional da organização criminosa envolvia três etapas principais: captação, transporte e lavagem.
Primeiro, traficantes estrangeiros identificavam pescadores e proprietários de embarcações no Brasil dispostos a participar do esquema.
Após o recrutamento, os barcos eram adaptados com compartimentos ocultos, tanques ampliados e sistemas de navegação reforçados.
A cocaína partia de pontos específicos do litoral brasileiro e seguia por rotas marítimas até a Europa, guiadas por coordenadas enviadas em tempo real.
Em alguns casos, embarcações de apoio eram acionadas para reabastecer os barcos de combustível em alto-mar, garantindo a conclusão da travessia sem paradas portuárias que pudessem chamar atenção.
Após a entrega da droga e o retorno ao Brasil, começava a etapa de dissimulação dos ganhos.
O dinheiro recebido pelos pescadores e proprietários das embarcações, em euro, real ou criptomoedas, era rapidamente pulverizado entre contas bancárias, empresas de fachada e “laranjas”.
