Ratos criados a vida inteira em gaiolas de laboratório tiveram uma mudança surpreendente de comportamento depois de serem colocados em ambientes naturais controlados.
Ao viverem por um curto período em campos abertos, com grama, terra e espaço para explorar, esses animais passaram a demonstrar níveis muito menores de ansiedade — e, em alguns casos, o medo praticamente desapareceu.
A descoberta faz parte de um estudo conduzido por cientistas da Cornell University e publicado em 15 de dezembro na revista científica Current Biology. A pesquisa analisou como experiências fora do ambiente restrito do laboratório podem alterar respostas emocionais já estabelecidas nos animais.
No experimento, os pesquisadores dividiram os camundongos em dois grupos. Um deles continuou vivendo em gaiolas tradicionais, como ocorre na maioria dos estudos científicos.
O outro grupo foi transferido para campos naturais cercados, onde os animais podiam correr livremente, cavar, escalar e procurar alimento — comportamentos impossíveis dentro de uma gaiola.
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Antes e depois dessa mudança, os cientistas avaliaram os níveis de ansiedade dos animais usando um teste bastante comum em pesquisas com roedores: o labirinto elevado em forma de cruz.
Nesse teste, os ratos podem escolher entre áreas fechadas, onde se sentem mais protegidos, e áreas abertas e elevadas, que costumam causar medo. Quanto menos tempo o animal passa nas partes abertas, maior costuma ser o nível de ansiedade.
Os resultados chamaram a atenção. Os ratos que viveram nos campos passaram a explorar mais as áreas abertas do labirinto, indicando uma redução clara do medo.
Segundo os pesquisadores, esses animais apresentaram uma resposta de ansiedade muito mais fraca — ou nenhuma resposta — quando comparados aos que permaneceram nas gaiolas.
O mais surpreendente é que essa mudança também ocorreu em ratos que já apresentavam sinais fortes de ansiedade antes da experiência. De acordo com o estudo, apenas uma semana no ambiente natural foi suficiente para que esses comportamentos fossem revertidos, fazendo com que os animais retornassem a níveis mais baixos de medo.
Os cientistas explicam que o ambiente mais rico oferece aos ratos algo essencial: variedade de estímulos e maior controle sobre suas próprias ações. Ao poderem explorar, se esconder, cavar e reagir ao ambiente, os animais desenvolvem um tipo de adaptação que parece reduzir respostas exageradas ao medo.
Embora a pesquisa tenha sido feita apenas com ratos, os autores destacam que os resultados ajudam a questionar o quanto o comportamento observado em laboratório representa, de fato, o comportamento natural dos animais. Além disso, o estudo reforça a importância do ambiente na forma como o cérebro responde ao estresse e à ansiedade.
Os pesquisadores agora pretendem investigar quanto tempo de exposição à natureza é necessário para manter esses efeitos, se a idade dos animais interfere nos resultados e quais mudanças ocorrem no cérebro durante esse processo.
