O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), deve enfrentar artilharia de adversários contra sua administração em assuntos, hoje já explorados, que vão de pedágio à Sabesp, empresa de abastecimento de água privatizada por ele.
Tarcísio vinha sendo cotado para a Presidência da República, mas a chance caiu após o senador Flávio Bolsonaro (PL) anunciar que deve disputar o cargo no ano que vem por escolha do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Com isso, aumentam as chances de que o governador seja candidato à reeleição e, consequentemente, mais cobrado por problemas locais.
“Pedágio de Freitas”
Um dos pontos que têm dado mais dor de cabeça a Tarcísio é a instalação em massa dos chamados pedágios “free flow”, que fazem cobrança automática dos veículos. Até o fim do ano, 37 pedágios do tipo devem estar em funcionamento.
A oposição tem aproveitado para alvejar Tarcísio, com postagens e até animações feitas com inteligência artificial. Então deputado federal, o hoje ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Guilherme Boulos (PSOL), por exemplo, chamou o governador em suas redes de “Pedágio de Freitas”.
A deputada Tabata Amaral (PSB) foi outra que explorou o assunto. “Você pode ser cobrado pra circular no estado de São Paulo sem nem perceber. O novo sistema de pedágio, chamado free flow, usa tecnologia que poderia facilitar a nossa vida. Mas, do jeito que está sendo implementado pelo governador Tarcísio, virou mais uma dor de cabeça”, escreveu em sua rede social.
O argumento em defesa desses equipamentos é que eles trazem “justiça tarifária”, uma vez que a cobrança é feita por quilômetro percorrido. No entanto, o termo é muito mais complicado do que “indústria da multa”, pecha que a oposição tenta carimbar na gestão de Tarcísio.
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Sabesp na mira
Tarcísio tem a privatização da Sabesp como uma das principais bandeiras de sua gestão. No entanto, esse é outro tema em que os argumentos a favor –como o aumento de ligações de esgoto –viralizam muito menos que os contrários.
Um dos vídeos que têm sido explorado mostra Tarcísio em uma entrevista para a TV Globo, na qual ele promete que a conta de água seria mais barata após a privatização da Sabesp.
O ano de 2026, no entanto, começará com um reajuste de 6,11% nos valores –o que, segundo a gestão, equivale à correção da inflação nos últimos 16 meses, período usado como referência desde a privatização da empresa.
O líder da oposição na Alesp, Antonio Donato (PT), aproveitou para atacar o governador.
“Tarcísio enganou você. Disse que a privatização da Sabesp não teria reajuste da tarifa. Governador bolsonarista vendeu a empresa a preço de banana e agora autoriza aumento pra engordar o lucro dos novos donos”, postou o pestista em suas redes.
Além de pagar mais caro, a população também corre o risco de ficar sem água bem no ano eleitoral. O Sistema Cantareira, principal reservatório de abastecimento de água do estado, registra o menor nível em quase 10 anos. Com pouco mais de 20% do volume total disponível, o Cantareira é responsável por abastecer, aproximadamente, metade da população da Grande São Paulo.
Diante desse cenário, a Sabesp adota, desde 27 de agosto, a redução da pressão da água no período noturno para reduzir perdas por vazamentos, que acontecem principalmente durante a madrugada. De acordo com a companhia, a medida está sendo aplicada das 19h às 5h, em toda a região metropolitana. A ação é preventiva, com o objetivo de preservar os reservatórios que abastecem a região.
Em algumas localidades da cidade, a redução de pressão equivale a uma espécie de racionamento, uma vez que, na prática, o fornecimento acaba sendo interrompido.
Corrupção
No embate com a oposição, o governo Tarcísio tem sido alvo de críticas por casos de corrupção que, de alguma forma, resvalaram na administração. O principal deles é a operação que envolveu fraudes bilionárias no ICMS, realizadas por auditores fiscais da Secretaria da Fazenda (Sefaz).
O ponto mais sensível nessa seara é o acordo de delação que o fiscal Artur Gomes da Silva Neto está fazendo com o Ministério Público de São Paulo (MPSP), hoje em fase de análise das provas apresentadas pelo auditor.
Silva Neto é apontado como o principal operador do esquema de fraude tributária que beneficiou varejistas, como a Ultrafarma e a Fastshop, em troca de R$ 1 bilhão em propina.
Outro ponto que chamuscou o governo foi o caso, revelado pelo Metrópoles, em que documentos mostram que a atual cúpula da Secretaria da Agricultura, comandada pelo secretário Guilherme Piai, atuou para encerrar apuração interna sobre suspeitas em contratos de R$ 50 milhões para reforma de estradas rurais do Programa Melhor Caminho.
Os problemas nos contratos ocorreram na gestão do ex-governador Rodrigo Garcia (ex-PSDB) e chegaram a ser denunciados na atual gestão. No entanto, documentos mostram que, no mesmo dia em que o antigo secretário da Agricultura Antonio Junqueira comunicou sua saída a Tarcísio, a atual chefia da pasta iniciou o movimento que travou as investigações no âmbito da secretaria.
O grupo político de Tarcísio também foi acusado por adversários de tentar limitar o poder da Polícia Federal, que investigava escândalos na polícia paulista, em uma das versões do PL Antifacção apresentadas pelo deputado federal Guilherme Derrite (PP), ex-secretário da Segurança Pública.



O governador Tarcísio de Freitas, durante balanço de fim de ano, em 2023
Francisco Cepeda/Governo do Estado de SP
Tarcísio de Freitas e Jair Bolsonaro
Allan Santos/ PR
Tarcísio assina acordo com o presidente Lula e o vice, Geraldo Alckmin
Ricardo Stuckert / PR
Tarcísio de Freitas dá início à operação do Tatuzão nas obra da Linha 2-Verde do Metrô de São Paulo
Francisco Cepeda/Governo de SP
Tarcísio e o prefeito da capital, Ricardo Nunes
Gildson Di Souza/Prefeitura de São Paulo
Tarcísio de Freitas, na B3, durante leilão do Trecho Norte do Rodoanel
Governo do Estado de São Paulo
Tarcísio de Freitas participa da Marcha para Jesus em São Paulo
Fabio Vieira/Metrópoles
Gripezinha de Tarcísio
O governador também é alvo de críticas devido a frases ditas durante entrevistas a jornalistas. Em plena crise causada pela contaminação de bebidas alcoólicas por metanol, ele brincou ao dizer que “no dia que começarem a falsificar Coca-Cola, eu vou me preocupar.”
A frase foi comparada por adversários de Tarcísio a atitudes do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) durante a pandemia, como quando ele disse que a doença era uma “gripezinha” e também quando imitou pessoas sem ar.
Acuado pela repercussão da frase, Tarcísio foi às redes para se desculpar. Ele gravou um vídeo no qual disse “não ter compromisso com o erro”, pedindo desculpas a parentes de vítimas e comerciantes afetados pela crise gerada com a adulteração de bebidas. O assunto, porém, deve ser rememorado por adversários no ano eleitoral.
Outra declaração que afetou Tarcísio foi durante o 7 de Setembro, quando ele chamou o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, de ditador. O governador pediu desculpas ao ministro do Supremo, mas o estrago para a imagem de moderado já estava feito.
No ano passado, em um cenário em que mais de uma centena de pessoas havia sido morta pela polícia, o governador também subiu o tom e foi criticado por isso.
“Sinceramente, nós temos muita tranquilidade em relação ao que está sendo feito. E aí, o pessoal pode ir na ONU, na Liga da Justiça, no raio que o parta, e eu não estou nem aí”, disse, no início de março.
No fim do ano, ele demonstrou postura mais moderada e recuou em suas críticas às câmeras corporais dos policiais. Ele afirmou que os equipamentos eram um fator de contenção da polícia e que “precisamos, sim, de contenção”.




