A Inteligência Artificial (IA) chegou para ficar. Fácil de usar e com resposta para tudo em segundos, a ferramenta já está presente na rotina de milhões de pessoas que usam e abusam de todas as facilidades do sistema. No entanto, para produzir a simples imagem de um gatinho fofo andando de bicicleta, a IA move uma série de mecanismos que exigem o uso de energia e água.
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Ferramentas como ChatGPT, Google Gemini, Grok ou Deep Seek operam em enormes Data Centers. Essas verdadeiras “fábricas de processamento” abrigam múltiplos servidores que exigem um suprimento constante de energia elétrica. Mais crucialmente, para manter essas estruturas em pleno funcionamento e evitar o superaquecimento, é necessária uma grande quantidade de água para os sistemas de resfriamento. A cada consulta ou criação gerada pela IA, esse complexo e custoso mecanismo é acionado.
Um estudo realizado pela Universidade Riverside, nos Estados Unidos, revelou que a cada 20 a 50 interações de uso pessoal das IAs utilizam, aproximadamente, 500 ml de água. O site Exploding Topics 2025, apontou que o Chat GPT tem cerca de 800 milhões de usuários ativos por semana e mais de 122 milhões de acessos diários, somando mais de 1 bilhão de interações por dia.
Com base nesses dados, um artigo da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) fez as contas é apontou que o uso da IA representa um consumo de 10 a 25 milhões de litros de água diariamente. Ainda tendo em vista os números da Universidade Riverside, a cada 20 a 50 interações, a IA consome 500 ml de água — uma média de 25 a 10 mililitros por pergunta.
Para a economista pela Columbia University, com especialização em IA, Nicole Grossmann, quando se fala de IA generativa, se fala, na prática, de grandes data centers com uma concentração enorme de hardware de alto desempenho. Ela detalha que, esses data centers consomem muita energia elétrica e, por consequência, geram muito calor.
“A água entra justamente como parte dos sistemas de resfriamento necessários para manter essa infraestrutura operando com segurança”, explica.
A água aparece em três níveis na IA:
- No próprio data center, em sistemas de resfriamento (torres de resfriamento, chillers, circuitos de água gelada);
- Na geração de energia elétrica, já que muitas usinas termoelétricas utilizam grandes volumes de água para operação e resfriamento;
- Na cadeia produtiva do hardware, como na fabricação de chips e servidores.
No Brasil, o grande consumidor de água ainda segue sendo o agronegócio. De acordo com dados da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), a retirada total de água no Brasil é estimada em aproximadamente 90 trilhões de litros por ano (referência 2022). Os setores de agricultura irrigada, abastecimento urbano e indústria de transformação respondem, juntos, por cerca de 85% desse volume. As projeções indicam que, até 2040, a demanda setorial por água deverá crescer em torno de 30% em comparação com os níveis de 2022.
Com a IA podendo ser esse elemento a mais nessa fila do uso da água, o especialista em IA e executivo da StackAI Brasil, Felipe Giannetti, garante que não é um fato que a IA sempre irá precisar de água. Ele garante a existência de datacenters usando ar frio, reaproveitando água ou adotando fluidos especiais.
“Os modelos também estão ficando muito mais econômicos. A inovação está caminhando para tornar a IA mais sustentável e com maior desempenho”, detalha Gannetti.
A especialista Nicole Grossmann reforça a necessidade de sistemas de resfriamento mais eficientes, baseados em circuitos fechados de líquidos, ou mesmo em imersão, em que o fluido circula sem ser constantemente evaporado e reposto.
“O desafio é tornar esse custo transparente, mensurável e o mais baixo possível. Na minha visão, conciliar a expansão da IA com limites ambientais passa exatamente por isso: reconhecer que há um preço físico por trás da nuvem e trabalhar para que esse preço não recaia sobre recursos hídricos que já são críticos em várias regiões do mundo”, pontua.
