A confirmação de que Jair Bolsonaro escolheu seu filho “01”, o senador Flávio Bolsonaro, para sucedê-lo na corrida presidencial reverberou com força no cenário nacional, provocando ceticismo em Brasília e reações imediatas na economia. A decisão é interpretada como um movimento arriscado, que prioriza a blindagem familiar em detrimento da competitividade eleitoral, desafiando a lógica de composição com o centro e ignorando os sinais de desgaste do bolsonarismo raiz.
O fim do ciclo e o desafio ao bom senso
Na visão do jornalista João Bosco Rabello, a indicação de Flávio desafia o bom senso político e vai na contramão do que desejam as forças de centro e da direita não radical. Para ele, o apoio desses grupos a nomes alternativos, como Tarcísio de Freitas, é um sinal claro de que buscam encerrar o “ciclo Bolsonaro”. A insistência em manter o pleito restrito ao clã familiar é vista como um erro estratégico que pode isolar o ex-presidente.
Rabello avalia que a candidatura já nasce enfraquecida e serve, ironicamente, aos interesses do atual governo ao manter a polarização ideal para Lula. Ele resume o cenário com ceticismo sobre a longevidade dessa aposta:
“A decisão, para mim, ela pode ter um prazo de validade curto, porque haverá reações no próprio âmbito do centro e da direita.”
Para o analista, o centro político tolera o bolsonarismo apenas pelo capital eleitoral residual, mas busca ativamente um “grito de independência” que pode ser precipitado por essa imposição familiar.
O “Roteirista do Brasil” e o recado da Faria Lima
Já o colunista Ricardo Noblat destacou a reação pragmática da economia e o surrealismo do cenário político, referindo-se ironicamente ao “roteirista do Brasil” ao comentar a ida de Eduardo Bolsonaro ao Muro das Lamentações em meio à crise.
Focando na economia, Noblat enfatizou a resposta azeda da Faria Lima à notícia. Enquanto o mercado financeiro e produtivo projeta em Tarcísio de Freitas a estabilidade e a continuidade de uma agenda liberal, a figura de Flávio Bolsonaro evoca instabilidade e a volta de tensões institucionais. O jornalista foi categórico ao interpretar a alta do dólar e a queda da bolsa como um sinal claro de rejeição:
“Esse resultado aí é o tamanho da decepção do mercado financeiro com a escolha do Flávio… O mercado financeiro quer o Tarcísio de Freitas, sempre quis.”
Noblat ainda ressaltou a volatilidade das declarações políticas nesta fase de pré-campanha, sugerindo que as negativas de Tarcísio e as afirmações de lealdade a Bolsonaro podem mudar rapidamente conforme a pressão das investigações e a dinâmica eleitoral avancem.
O consenso na análise é que a manobra de Bolsonaro, ao tentar manter o controle absoluto de seu espólio político através da filiação sanguínea, pode acabar acelerando a fragmentação da direita. Enquanto isso, o governo Lula assiste de camarote, preferindo enfrentar um adversário com alto teto de rejeição como Flávio do que um nome mais competitivo e agregado como Tarcísio.
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