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Tarcísio patina no eleitorado feminino e tenta empoderar primeira-dama

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Tarcísio patina no eleitorado feminino e tenta empoderar primeira-dama

Em meio ao aumento da violência contra as mulheres em São Paulo, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) vê no eleitorado feminino um dos principais desafios eleitorais para 2026.

Sondagens publicadas recentemente evidenciam a dificuldade de Tarcísio conquistar o voto feminino, enquanto a primeira-dama, Cristiane Freitas, ganha cada vez mais espaço no Palácio dos Bandeirantes, como uma estratégia de aproximação desse público.

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A rejeição entre eleitoras é um problema para Tarcísio tanto em uma eventual disputa à Presidência da República, quanto numa disputa à reeleição – cenário que ganhou mais força após o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) escolher o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) como seu candidato ao Planalto.

Para o marqueteiro político Felipe Soutello, a aprovação do governo Tarcísio está dentro dos padrões de ex-governadores.

Ele estaria um pouco mais bem avaliado do que João Dória (PSDB) e com a aprovação levemente mais baixa do que os primeiros mandatos de Geraldo Alckmin (PSB) e José Serra (PSDB), mas há uma dificuldade de Tarcísio com os eleitores da capital e entre as mulheres.

“Normalmente, os governadores paulistas tinham uma aprovação equilibrada ou superior do público feminino em relação ao público masculino. Tarcísio é o único governador desses últimos 20 anos que tem uma aprovação invertida. Ele tem uma aprovação acima de 10 pontos percentuais entre os homens em relação às mulheres”, analisou Soutello.

Preferência feminina

Em novembro, uma pesquisa eleitoral publicada pelo instituto Atlas Intel com possíveis candidatos à Presidência mostrou um empate técnico entre Lula (49%) e Tarcísio (47%) em um eventual segundo turno.

No entanto, a vantagem de Lula é gritante no eleitorado feminino. Enquanto Lula teria o apoio de 58% dos votos de mulheres, Tarcísio ficaria com 25% – uma queda de 22 pontos na comparação com os votos totais.

A mesma vantagem do petista entre as mulheres é mostrada no levantamento de novembro do Paraná Pesquisas. Em uma eleição de primeiro turno, com Lula e Tarcísio na disputa, ambos iriam para o segundo turno.

De acordo com a sondagem, o atual presidente teria 36% das intenções de voto e 36,7% do eleitorado feminino. Enquanto, Tarcísio teria 23,2% dos votos gerais e 18,5% entre as mulheres, quase cinco pontos a menos.

Protagonismo da primeira-dama

Para aliados, uma das estratégias de Tarcísio para reduzir essa rejeição feminina é dar protagonismo à primeira-dama Cristiane Freitas. Ela preside o Fundo Social de São Paulo, órgão voltado à assistência social, que criou em dezembro 45 novos cargos comissionados.

Cristiane também tem aparecido, cada vez mais, ao lado de Tarcísio, seja nas redes sociais ou em eventos. Na quinta-feira (4/12), a primeira-dama e o governador promoveram, no Palácio dos Bandeirantes, a formatura de alunos do programa “Escolas de Qualificação Profissional”, mantido pelo Fundo Social.

A deputada Rosana Valle (PL-SP), presidente do PL Mulher de São Paulo e aliada de Tarcísio, elencou ao Metrópoles uma série de políticas para o público feminino do governo paulista.

Ela citou medidas de segurança pública, saúde e o programa “SuperAção SP”, aposta de Tarcísio na área social, o que segundo aliados, seria importante para atrair o eleitorado feminino.

“Quando a gente olha o conjunto da obra, vê um governador que não fala apenas em ‘defender as mulheres’ no discurso, mas que está criando estrutura, protocolo, rede de apoio, capacitação e oportunidades reais para que as mulheres paulistas tenham segurança, autonomia e protagonismo”, disse Rosana.

Além da primeira-dama, Tarcísio também tenta driblar a rejeição das mulheres com representatividade feminina em duas pastas importantes.

A secretária Natália Resende comanda a Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil) e, Marília Marton, a Secretaria da Cultura. Além delas, Tarcísio manteve a procuradora-geral do Estado (PGE Inês Coimbra, que já ocupava o cargo na gestão do ex-governador Rodrigo Garcia.

A “encruzilhada” Bolsonaro

Definida por Soutello como uma “encruzilhada”, a proximidade de Tarcísio com o ex-presidente Bolsonaro é um paradoxo enfrentado pelo governador de São Paulo.

Enquanto Tarcísio ainda depende do bolsonarismo para construir viabilidade política, quanto mais se aproxima do ex-presidente, mais se afasta da maioria do eleitorado feminino – além de outros grupos que preferem um candidato “nem Lula nem Bolsonaro”.

Professora titular da Universidade Federal de São Carlos, a cientista política Maria do Socorro Braga reforça que a dificuldade de candidatos ligados ao bolsonarismo terem simpatia das mulheres está estritamente ligada à pauta de costumes do bolsonarismo, que acaba agindo contra a redução da desigualdade de gênero.

“[Esses candidatos] defendem uma agenda, do ponto de vista comportamental e moral, que coloca a mulher no papel praticamente subordinada aos homens, com um papel muito mais de dona de casa. Aqueles papéis mais antigos, diferente de uma mudança que as mulheres vêm atravessando ao longo das últimas décadas”, afirmou Maria do Socorro.

Feminicídio em alta

Exemplos de feminicídio e violência contra a mulher no Estado, com repercussão nacional, crispam ainda mais a caça aos votos femininos por candidatos bolsonaristas.

Foi o caso de Tainara Souza Santos, mulher que foi arrastada pelo carro conduzido pelo ex-namorado na Marginal Tietê.

Apesar da redução de indicadores criminais no estado, como latrocínio e homicídio, o padrão não se repete em relação ao assassinato de mulheres.

Dados do Instituto Sou da Paz mostram que os casos de feminicídio no estado de São Paulo saltaram de 188, no ano passado, para 207, em 2025. A variação representa um aumento de 10,1%. Desde o início do governo Tarcísio, em 2023, os feminicídios aumentaram 16,9% em São Paulo.

“O feminicídio é uma pauta muito desprestigiada na política. Se fala muito, mas se faz muito pouco em relação a esse assunto”, afirma a especialista em marketing político Jade Gandra Martins Dutra.

Para ela, a segurança pública é explorada por candidatos da direita com extrema violência, o que pode engajar nas redes sociais, mas não gera conexão com as mulheres que não são bolsonaristas.

Baixo orçamento

Tarcísio foi o primeiro governador paulista a ter uma pasta destinada a mulheres. No entanto, a Secretaria de Políticas Para as Mulheres é a pasta com menor orçamento disponível de todo o governo. A dotação atual para 2025 é de R$ 36,2 milhões (com R$ 26,6 milhões suplementados durante o ano).

Para o próximo ano, a previsão do governo é de que a pasta fique na mesma posição. O projeto de orçamento enviado à Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) prevê R$ 16,5 milhões para 2026.

Segundo o governo, isso ocorre porque a pasta “é uma secretaria transversal, que atua como articuladora de políticas públicas, identificando necessidades e coordenando programas com outras secretarias e órgãos do estado”.

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