Os pais do aluno de medicina Marco Aurélio Cardenas Acosta, morto por um policial militar dentro de um hotel na Vila Mariana, zona sul de São Paulo, no dia 20 de novembro de 2024, receberam, nessa quinta-feira (27/11) o diploma póstumo do filho.
O documento foi concedido pela Universidade Anhembi-Morumbi durante o evento da Colação de Grau da turma de Marco Aurélio, realizado no Edifício Bunkyo, na zona central da capital paulista. O momento foi marcado por uma salva de palmas dos presentes. Veja:
Para o pai da vítima, Julio Cesar Acosta Navarro, o momento foi “um sonho lindo dentro de uma vida de pesadelo”.
Leia também
-
Justiça nega prisão de PMs que mataram estudante de medicina
-
“Tira a mão de mim”, disse aluno de medicina antes de ser morto por PM
-
Estudante de medicina morto pela PM foi reconhecido por policiais: “Folgado”
-
Pais de estudante de medicina morto pela PM vão à ONU contra governo
“Nessa experiência onírica e real ao mesmo tempo, numa vivência dimensional estranha, Marco Aurélio manteve a sua essência no seu caminho nas estrelas, sem eu saber direito. Porque ele tinha o sonho eterno que não poderia ser destruído: graduar-se de médico como seus irmãos mais velhos que amava, tornar-se especialista em Neonatologia e salvar bebês condenados a morrer nos primeiros instantes de vida. Salvar outros, assim como salvaram ele 22 anos atrás, ao nascer com 1,2 kg e 7 meses de vida”, disse o médico.



Arquivo pessoal/ material cedido ao Metrópoles
Arquivo pessoal/ material cedido ao Metrópoles
Arquivo pessoal/ material cedido ao Metrópoles
Arquivo pessoal/ material cedido ao Metrópoles
Em outrubro deste ano, a Justiça paulista negou o pedido de prisão preventiva dos dois policiais militares Guilherme Augusto Macedo e Bruno Carvalho do Prado que mataram o estudante, após manifestação do Ministério Público de São Paulo (MPSP) também contrária à prisão.
Segundo a decisão da juíza Luciana Menezes Scorza, “não há fato novo a ensejar a decretação da custódia cautelar” dos dois policiais. No documento, obtido pelo Metrópoles, a magistrada enfatizou que o vídeo dos bombeiros que trouxe imagens inéditas da ocorrência também “não é motivo para a prisão preventiva dos denunciados”.
“Outrossim, descabida a medida pleiteada de afastamento da função pública, extrapolando a esfera da competência do Poder Judiciário. Como bem ressaltado pelo Ministério Público, é vedado a um poder ingerir-se em outro poder, cabendo ao superior hierárquico fazê-lo, por critério de conveniência e oportunidade”, também disse o texto.
A juíza também negou o uso de monitoração (tornozeleira) eletrônica aos acusados, já que não há, nos autos, notícia de que eles estejam descumprindo as medidas cautelares.
Andamento do processo
Ainda não está definido se os dois réus, Guilherme e Bruno, serão ou não submetidos a julgamento pelo Tribunal do Júri. O TJSP confirmou ao Metrópoles que a mais recente audiência do caso foi realizada no dia 9 de outubro, encerrando a instrução do processo. Agora, as partes apresentarão suas alegações finais por escrito e, depois de encerrada essa etapa, será decidido sobre o júri.
A Secretaria da Segurança Pública informou que o caso foi investigado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que encaminhou o inquérito policial à Justiça. A pasta também ressaltou que um dos policiais envolvidos já havia sido indiciado no inquérito da PM por homicídio doloso e permanece afastado das atividades.
Segundo o MPSP, os autos estarão disponíveis em breve para as alegações finais do órgão. “No momento, não há fato novo que pudesse justificar o aditamento da denúncia, tampouco alteração no estado de liberdade dos acusados, haja vista que o TJSP negou provimento ao recurso do MPSP e manteve a liberdade provisória de ambos, existindo recurso interposto pelo assistente da acusação ainda pendente de julgamento”, disse o Ministério Público.
Aluno de medicina assassinado por PM
Marco Aurélio Cardenas Acosta tinha 22 anos quando foi morto após levar um tiro à queima-roupa de um policial militar durante abordagem dentro de um hotel na Vila Mariana, na zona sul de São Paulo.
Uma câmera de segurança do estabelecimento registrou a ação. Pelas imagens (assista abaixo), é possível ver o momento em que Marco Aurélio entra correndo no hotel. Ele está sem camisa. O soldado da PM Guilherme Augusto também entra, logo em seguida, e puxa o jovem pelo braço, com a arma em punho.
Veja:
O estudante consegue se desvencilhar, quando outro policial, o soldado Bruno Carvalho do Prado, aparece e lhe dá um chute. O jovem segura o pé do PM, que se desequilibra e cai para trás. Nesse momento, o PM Augusto dá um tiro em Marco Aurélio.
No boletim de ocorrência, os PMs alegaram que Marco Aurélio Cardenas estaria “bastante alterado e agressivo” e teria resistido à abordagem policial. Além disso, o documento aponta que, “em determinado momento, [Marco Aurélio] tentou subtrair a arma de fogo que o soldado Prado portava, quando então o soldado Augusto efetuou um único disparo, a fim de impedi-lo”.
As imagens do circuito interno do hotel mostram, no entanto, que o PM Augusto atirou após o soldado Prado dar um chute no estudante, ter a perna segurada por ele e cair para trás, desequilibrado. No vídeo não é possível ver Marco Aurélio tentando pegar a arma do agente – ao contrário do que foi narrado na delegacia.
Segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP), antes do momento registrado no hotel, o estudante “golpeou a viatura policial e tentou fugir”. A pasta também informou que os PMs prestaram depoimento, foram indiciados em inquérito e permanecerão afastados das atividades operacionais até a conclusão das apurações – as polícias Militar e Civil apuram o caso.
Além disso, a SSP afirmou que as imagens registradas pelas câmeras corporais foram anexadas aos inquéritos conduzidos pela Corregedoria da Polícia Militar e pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), apesar de a informação não constar oficialmente no boletim de ocorrência.


