Um monitoramento de rotina no Ártico canadense acabou revelando um comportamento raríssimo entre ursos-polares. Pesquisadores identificaram uma fêmea criando um filhote que não era seu, algo pouco documentado na espécie.
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A observação envolveu a ursa catalogada como X33991, pertencente à subpopulação da Baía de Hudson Ocidental, uma das mais estudadas do planeta. A região é acompanhada pela ciência há quase cinco décadas.
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O caso foi divulgado pela Polar Bears International, organização sem fins lucrativos voltada à conservação desses animais. Segundo a instituição, registros como esse são extremamente incomuns.
Quebrando padrões
Na primavera, quando a fêmea recebeu uma coleira com GPS, os pesquisadores registraram que ela estava acompanhada de apenas um filhote, que é um padrão comum para a espécie.

Pouco tempo depois, ao analisarem novas imagens e dados de campo, os cientistas notaram uma mudança inesperada. A mesma ursa agora circulava com dois filhotes. Ambos aparentavam ter idade semelhante, o que reforçou a hipótese de adoção, já que não havia indícios de uma ninhada dupla do animal.
Entre os ursos-polares, comportamentos de adoção são considerados exceções. A disputa por alimento e a alta exigência energética tornam esse tipo de arranjo incomum. De acordo com Evan Richardson, do Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas do Canadá, o caso se destaca justamente por fugir ao padrão.
“As ursas polares são mães realmente ótimas e estão naturalmente preparadas para cuidar e proteger seus filhotes. Acreditamos que, se um filhote perdido estiver chorando na costa, algumas fêmeas simplesmente não resistem à tentação de acolhê-lo”, disse.
A subpopulação da Baía de Hudson Ocidental é monitorada há cerca de 50 anos, com estudos contínuos sobre deslocamento, alimentação e taxas de sobrevivência dos animais. Nesse período, aproximadamente 4.600 ursos já foram acompanhados pelos pesquisadores.
Este é apenas o 13º caso confirmado em quase meio século de observações, o que reforça a raridade do fenômeno. “Adoções entre ursos polares são muito raras e incomuns, e ainda não sabemos exatamente por que acontecem”, comentou Alysa McCall, da Polar Bears International.
Apesar do cuidado materno aumentar as chances do filhote adotado, os dados históricos mostram que o sucesso não é certo, já que a natureza impõe limites severos na região. Dos casos documentados, apenas três animais adotados sobreviveram até a fase adulta, segundo os pesquisadores.
“Quando confirmamos que se tratava de uma adoção, tive sentimentos contraditórios. É mais uma prova de como essa espécie é fascinante. Dá esperança perceber que, em certas situações, os ursos polares podem cuidar uns dos outros”, admirou a pesquisadora.
Os filhotes observados
Os dois filhotes observados estão aparentemente saudáveis e bem nutridos, com idade estimada entre 10 e 11 meses. Ambos seguem sob os cuidados diretos da fêmea, e a expectativa dos estudiosos é que permaneçam com a mãe por cerca de mais um ano e meio.
A fase é essencial para o desenvolvimento das habilidades de sobrevivência. Os dados do GPS indicam que o grupo já se desloca pelo gelo marinho, onde a ursa ensina os jovens a caçar focas e dividir o alimento.
Além disso, os cientistas pretendem analisar amostras genéticas do filhote adotado para investigar se a mãe biológica é conhecida ou ainda está viva. “Talvez nunca saibamos o que aconteceu com a mãe biológica”, revelou a representante da Polar Bears International.
Em casos anteriores, alguns registros envolveram uma espécie de “troca de ninhadas”, quando duas fêmeas cuidam temporariamente dos filhotes uma da outra.