Ir ao supermercado, à feira ou ao shopping faz parte da rotina dos
brasileiros. O que muita gente não percebe é que o simples ato de carregar sacolas pesadas pode gerar um impacto significativo na saúde, especialmente na coluna, nos braços e nos ombros.
Segundo especialistas, o problema não está apenas no peso em si, mas na forma como ele é distribuído e repetido ao longo do tempo. O ortopedista Caio Zamboni, diretor da Sociedade Brasileira do Trauma Ortopédico, explica que o corpo tende a se desalinhar para compensar a carga.
“Quando carregamos sacolas e elas são pesadas, a gente tende a se inclinar para frente, para trás ou para os lados, principalmente quando uma sacola está mais pesada do que a outra. Isso força a coluna a trabalhar fora do eixo natural”, afirma.
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Esse desalinhamento sobrecarrega músculos, ligamentos e, principalmente, os discos intervertebrais, estruturas diretamente envolvidas no surgimento de hérnias de disco. De acordo com Zamboni, o esforço repetido pode provocar inflamação, desgaste precoce da coluna e dores persistentes.
Mesmo pessoas jovens e aparentemente saudáveis não estão livres desse risco. “Qualquer esforço além daquilo que a pessoa está habituada pode gerar fadiga muscular, contraturas e processos inflamatórios. Se isso não for prevenido, a dor lombar pode se tornar crônica”, alerta o especialista.
Risco maior para quem já tem problemas na coluna
Para quem já convive com hérnia de disco, escoliose ou desgaste da coluna, o cuidado deve ser redobrado. O excesso de peso aumenta a pressão sobre as articulações e os discos intervertebrais, o que pode intensificar as crises, tanto em intensidade quanto em frequência ao longo do tempo.
Outro ponto de atenção é o hábito de andar curvado ou inclinar o tronco para compensar o peso. Embora as lesões não apareçam de forma imediata, Zamboni destaca que a repetição desse comportamento pode levar a alterações posturais permanentes, artrose e dores crônicas. “Aquilo que começa como algo temporário pode se tornar definitivo”, explica.
Segundo o especialista, alternativas como carrinhos de feira, sacolas com rodinhas ou mochilas são opções mais seguras. Esses recursos ajudam a dividir o peso e evitam que a coluna precise compensar de um lado só.
Quando não há outra opção, a recomendação é distribuir o peso de forma equilibrada entre os dois lados do corpo, evitar sacolas muito pesadas e aumentar o número de viagens, reduzindo a sobrecarga.

Mãos, braços e ombros também sofrem com o excesso
Além da coluna, os membros superiores também estão entre os mais afetados. O ortopedista Jean Klay, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia do Ombro e Cotovelo (SBCOC), explica que carregar sacolas pesadas pode causar lesões mesmo sem esforço repetido prolongado.
“Se a sacola é muito pesada e carregada com a mão ao lado do corpo, pode haver sobrecarga dos tendões dos dedos, antebraços e cotovelos. Se esse peso é elevado acima de 70 graus, o ombro também passa a ser comprometido”, afirma.
As lesões mais comuns associadas a esse hábito são as tenossinovites, inflamações dos tendões que afetam principalmente mãos e punhos. O risco aumenta quando as sacolas têm alças finas ou rígidas. “Alças finas exigem mais flexão dos dedos, aumentando a sobrecarga. Já as rígidas obrigam a mão a se adaptar à pegada, criando pontos de pressão”, explica Klay.
Pessoas com histórico de tendinite, bursite ou síndrome do túnel do carpo apresentam risco maior de recorrência e devem ter atenção redobrada ao carregar peso.
De acordo com Jean Klay, sinais como perda de força, formigamento, dormência, alterações de sensibilidade ou dor persistente que não melhora com analgésicos comuns indicam que pode haver uma lesão e que é importante procurar avaliação médica.
O que fazer antes e depois de carregar peso
Para reduzir os riscos, os especialistas recomendam planejamento para protegera a coluna e as articulações, com medidas como:
- Estacionar o carro mais perto.
- Usar carrinhos sempre que possível.
- Fracionar as compras.
- Dividir o peso com alguém.
- Após o esforço: alongamentos leves e descanso.

Os médicos dizem que o fortalecimento muscular a longo prazo ajuda até na hora de ir às compras. No fim das contas, o problema está em ignorar os limites do próprio corpo. Carregar sacolas pesadas de forma frequente pode transformar um hábito cotidiano em fonte de dor e lesões que se acumulam.
