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    Venezuelanos correm para gastar dinheiro antes do corte de seis zeros na moeda nacional

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    Por RFI

    Ansiosos, os venezuelanos correm para usar as atuais notas de bolívar antes da conversão monetária que entrará em vigor em primeiro de outubro. A movimentação é perceptível sobretudo no comércio de alimentos. Ela foi motivada após o Banco Central da Venezuela (BCV) anunciar na última quinta-feira (5) o corte de seis dígitos na moeda nacional, que passará a ser chamada de bolívar digital.

    Também está prevista a impressão de cédulas com novos valores. Desde 2008 até agora o governo bolivariano implementou três conversões monetárias e ao todo o bolívar já perdeu 14 zeros.

    De acordo com o BCV, o bolívar digital irá facilitar o uso de “uma versão moderna da moeda” em transações diárias para que os cidadãos tenham “maior conexão” com a moeda venezuelana.

    Para o lançamento serão emitidas as notas de 5, 10, 20, 50 e 100 do bolívar digital.

    A população, aflita, corre para usar as atuais notas da moeda venezuelana tendo em vista que em outubro o atual dinheiro, o bolívar soberano, perderá grande parte de seu valor.

    A moeda nacional já teve diversos sobrenomes. Primeiro foi apenas bolívar, em seguida bolívar forte, mais recentemente, bolívar soberano, e agora passará a ser chamada de bolívar digital.

    Com dezenas de notas da atual moeda venezuelana é possível comprar, por exemplo, um quilo de arroz, que custa cerca de cinco milhões de bolívares. O povo prefere usar o dinheiro para comprar comida em vez de depositá-lo no banco, temendo perder poder de compra após a conversão.

    Pobres milionários

    A Venezuela há tempos é um país de pobres milionários. Os preços da maioria dos produtos superam o valor de milhões de bolívares. O mesmo acontece com o salário mínimo, que atualmente vale sete milhões de bolívares, cerca de 1,75 dólares (ou 8,75 reais), porém os preços dos produtos superam em muito este valor.

    Todos ganham milhões de bolívares, mas isso não quer dizer que a população tenha alto poder aquisitivo. Muito pelo contrário. Muitos venezuelanos sequer conseguem comprar a cesta básica.

    Cerca de 96,2% da população vive na pobreza e 79,3% estão em situação extrema, de acordo com levantamentos da Encovi, a Pesquisa Nacional de Condições de Vida, que mostra dados de 2019-2020.

    Os serviços de eletricidade ou de fornecimento de água, sobretudo em estabelecimentos comerciais, apresentam valores em bilhões de bolívares.

    Outro problema gerado por tantos zeros na moeda venezuelana é que o mostrador de calculadoras ou de caixas dos comércios já não comportam tantos dígitos. É complicado fazer contas no país comandado por Nicolás Maduro.

    Há poucos meses entraram em circulação as notas de 500 mil, um milhão e de dois milhões de bolívares. O uso delas é quase exclusivo no transporte público.