MAIS

    ‘Brasil recebe, mas não acolhe’: violência, preconceito e pobreza fazem com que congoleses pensem em deixar o país

    Por

    “Saí de casa para trabalhar há sete anos e nunca mais voltei.” Lina*, uma congolesa refugiada no Brasil, resume assim sua história desde que deixou seu país.

    Ela conta que vinha sendo perseguida por ser oposição e protestar contra o governo que estava no poder na época e que chegou a ficar presa ilegalmente por um mês.

    Lina afirma que seu marido já havia fugido pelo mesmo motivo e, depois de ser libertada, decidiu fazer igual. Ficou escondida algum tempo e, então, aproveitou um visto brasileiro de turismo que tinha tirado há pouco.

    Aqui no Brasil, ela encontrou seu lugar na comunidade crescente de congoleses. Depois de algum tempo, reencontrou-se com o marido.

    Mas ela diz que nunca conseguiu um emprego na área em que se formou e foi morar na periferia, onde conseguia pagar as contas com os trabalhos que surgem, graças aos outros e por iniciativa própria.

    A vida foi se ajeitando, mas Lina acha que pode ser obrigada a partir de novo. Ela diz que, de uns anos para cá, as hostilidades contra os congoleses ficaram mais frequentes.

    Conta que sua casa foi invadida e que seu marido recebeu uma ameaça de morte. Lina decidiu se mudar com a família para outro bairro – e, alguns dias depois, um amigo, que também era africano, foi assassinado pelo vizinho.

    “Não foi um caso isolado. O que aconteceu com o Moïse já aconteceu com outros. Muita gente acha que a situação vai piorar ainda mais”, diz ela. “Muitos estão pensando em sair do Brasil.”

    O governo da República Democrática do Congo, por meio da sua embaixada no Brasil, disse que Moïse foi o quinto congolês morto no país nos últimos seis anos.

    O Congo disse que pediu explicações ao governo brasileiro, mas que nunca recebeu retorno.

    A BBC News Brasil questionou o Itamaraty, que não respondeu se foi ou não questionado pelo governo do Congo sobre os crimes.

    O ministério falou apenas do caso de Moïse e disse que “expressa sua indignação com o brutal assassinato e espera que o culpado ou culpados sejam levados à Justiça no menor prazo possível”.

    Três homens foram presos e acusados de matar o congolês. Imagens de câmeras de segurança registraram o crime.

    “Não queremos mais ficar no país”, disse a mãe de Moïse à revista Marie Claire. “Pretendemos ir embora do Brasil quando se fizer justiça pelo meu filho.”

    Por BBC News