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    Articulação suprapartidária ameaça mandato de Arthur do Val em São Paulo

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    O repúdio e a defesa de punições severas ao deputado estadual Arthur do Val (Podemos) por gravar áudios no qual diz que refugiadas ucranianas “são fáceis porque são pobres” têm unido parlamentares de diversos espectros da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp).

    Um primeiro pedido de cassação contra Arthur do Val foi protocolado neste sábado (5) no sistema do Conselho de Ética da Casa. A autoria é da deputada estadual Isa Penna, líder do PSOL. Em 2020, ela foi vítima de outro caso sexista envolvendo um deputado estadual de São Paulo.

    A presidente do Conselho de Ética, deputada estadual Maria Lucia Amary (PSDB), disse à CNN esperar diversos pedidos de investigação contra Arthur do Val e afirmou que na segunda-feira (7), tão logo sejam formalizados os pedidos de investigação, dará celeridade à tramitação do caso.

    “Vamos apensar todas as representações que forem apresentadas, adotar o procedimento de admissibilidade nesta semana e seguir os procedimentos da Casa”, explicou. “Os áudios são de uma insensibilidade triste, uma vergonha mundial.”

    “Amanhã (domingo) vamos protocolar uma representação com a adesão de vários deputados e deputadas”, disse Paulo Fiorilo (PT), que trabalha na redação do documento ao lado dos colegas de partido Emídio de Souza e José Américo.

    Presidente da Comissão de Relações Internacionais da Alesp, Fiorilo enviou neste sábado (5) uma carta à cônsul-geral da Ucrânia em São Paulo, Valerii Hryhorash, e ao presidente da Casa, Carlão Pignatari (PSDB), na qual repudia o áudio de Arthur do Val, conhecido como “Mamãe Falei”, e avalia que “o Parlamento será ágil para analisar e punir este parlamentar que desonrou o Legislativo, nosso País, as mulheres ucranianas e todas as mulheres ofendidas pelas declarações, em data tão próxima ao Dia Internacional de Luta das Mulheres”.

    Em nota, o presidente da Alesp definiu a fala de Arthur do Val como “repugnante e inaceitável” e disse ser solidário às ucranianas e a todas as mulheres. “A Alesp rejeita em absoluto as opiniões pessoais desse parlamentar e irá investigar a conduta com o rigor e a seriedade que requer”, afirmou o tucano.

    Entre os bolsonaristas, a deputada estadual Leticia Aguiar (PSL) defendeu a renúncia do colega de Alesp. “Ele renunciou à pré-candidatura ao governo de São Paulo. Melhor ainda seria se ele renunciasse também ao cargo de deputado”, afirmou.

    O deputado estadual Gil Diniz (PL) disse que não só vai pedir a cassação de Arthur do Val, como pretende solicitar ao Ministério Público apuração sobre despesas da viagem, origem dos recursos e até suspeita de turismo sexual. “Vamos pedir quebra de sigilo, para investigar quem doou e como o dinheiro foi gasto”, disse o parlamentar – o Movimento Brasil Livre (MBL), do qual Mamãe Falei faz parte, informou que a viagem foi custeada por crowdfunding.

    “São áudios injustificáveis em qualquer situação, mais ainda em uma situação de guerra e fragilidade humana extrema”, disse o deputado estadual Vinicius Camarinha (PSB). Pelo Twitter, o líder do Republicanos, Altair Moraes, anunciou que vai pedir a cassação do parlamentar pelas “repugnantes palavras proferidas contra as refugiadas ucranianas”.

    Após a repercussão do caso, Arthur do Val postou um vídeo em suas redes sociais no qual pediu desculpas pelo áudio e, horas depois, anunciou em nota que retirava a pré-candidatura ao governo estadual, na qual pretendia dar palanque em São Paulo ao pré-candidato à Presidência do Podemos, Sergio Moro – o ex-ministro repudiou a fala e a presidente nacional do partido, deputada federal Renata Abreu (SP), disse que a sigla abriu “procedimento disciplinar interno” sobre o caso.

    Este é o terceiro caso de repercussão nacional na atual legislatura (2019-2022) envolvendo integrantes da Alesp, cujo Conselho de Ética era marcado pelo espírito de corpo – como lembra a presidente do colegiado, Maria Lucia Amary, desde 1999 não havia sido aprovada nenhuma punição grave, como suspensão ou cassação a integrantes da Casa.

    No ano passado, a Assembleia suspendeu o mandato do deputado estadual Fernando Cury (sem partido) por seis meses, após ter sido flagrado assediando a também parlamentar Isa Penna (PSOL) – câmeras do plenário mostraram Cury se aproximando por trás e apalpando o seio da deputada.

    Em fevereiro, o Conselho de Ética aprovou suspensão por três meses do mandato de Frederico D’Ávila (PSL), por ofensas ao papa Francisco e ao arcebispo de Aparecida (SP), d. Orlando Brandes, mas essa punição ainda precisa ser referendada pelo plenário.

    Por CNN Brasil